Bom dia, como vai?
Ontem foi um dia realmente especial.
Tive a honra de representar o Brasil na conferência anual da 5 Nations Beef Alliance e fazer uma palestra sobre o Brasil para os principais líderes produtores dos EUA, Canadá, México, Austrália, Nova Zelândia e Paraguai.
A "delegação" brasileira era composta pelo Luciano Vacari, da Acrimat, e por mim. Há tempos conhecia o trabalho da 5 Nations e gostaria muito que o Brasil fizesse parte. E ontem foi a oportunidade.
Eu e o Luciano fizemos uma palestra e fomos muito bem recebidos. As duas palestras foram muito elogiadas, e depois de uma reunião a portas fechadas, os membros da 5 Nations decidiram por convidar a Acrimat para se filiar a entidade.
Missão cumprida!! :-)
Vale destacar aqui que o Luciano Vacari marcou presença e se destacou muito no evento. Com uma fala firme, serena e com muita informação, impressionou todos os presentes. Eu fiquei satisfeito demais com a qualidade da presença do Brasil nesse encontro. E por isso, fomos convidados a integrar a entidade, que deve mudar de nome, para provavelmente Global Beef Alliance. Parabéns pelo trabalho, Luciano, por representar tão bem o Brasil e o Mato Grosso.
Você se lembra do item 7 do código de ética do cowboy? "Represente" era o termo. Fiquei com uma sensação muito boa, de ter, junto com o Luciano, representado o Brasil usando essa definição como se dedicar, se entregar, fazer seu melhor. Eu fiquei muito satisfeito com a entrega que fizemos e acredito que vamos colher frutos para nossa pecuária.
Mas o dia foi mais completo do que isso...
Na parte da manhã, tivemos uma excelente palestra com Brett Stuart, da empresa de consultoria Global AgriTrends, sobre tendências do mercado mundial de carnes. Eu gostei demais da palestra, com muito conteúdo, muitos dados atualizados, e com uma fala simples e direta ao ponto. Me lembrou a palestra do meu professor e amigo Alexandre Mendonça de Barros, que eu admiro muito.
Meu plano é convidar os dois, Brett e Alexandre, para palestrarem no BeefSummit Brasil, agora em dezembro... :-)
Vou trazer aqui algumas das informações que o Brett apresentou, que me chamaram a atenção. Ele está ainda mais otimista em relação ao mercado mundial de carne bovina e eu fiquei convencido pelos exemplos apresentados.
A China continua crescendo, principalmente em valores absolutos. É essencial entender a China e a Ásia se você quer entender do mercado mundial de proteína animal. No acumulado do ano (jan-set 14), a China é o maior cliente do Brasil, por exemplo. E ano passado não era.
Nos últimos 8 anos, a produção de carne bovina não cresceu no mundo. Cresceu sim no Brasil e na Índia, mas recuou nos EUA, Austrália, Argentina, por exemplo. O mundo quer consumir mais carne e o mundo não conseguiu aumentar a produção nos últimos 8 anos.
Isso impressiona ainda mais, quando analisamos as previsões para os próximos 9 anos. O mundo deve aumentar o consumo de carne bovina em 9 milhões de toneladas. Isso mesmo, um Brasil de carne bovina. O consumo está aumentando, mesmo.
Qual o reflexo disso tudo? Primeiro será o aumento dos preços. Segundo, aumento da importância do Brasil no mercado mundial. A produção deverá crescer em inúmeros países nos próximos anos, devido ao aumento de preços. Com preços recordes, fica mais fácil produzir até em regiões e países menos competitivos.
Falta carne em diversos países, e o destaque maior é a China. E onde há excedente exportável de carne bovina? Apenas na Índia e no Brasil.
As outras proteínas também estão ajudando o boi. Na China, houve grande liquidação de matrizes suínas. Foram abatidas um número equivalente a 90% de todo rebanho suíno dos EUA. Além disso, nos EUA, tiveram o problema da PEDv, que também está reduzindo a oferta. Ou seja, a expectativa é que vai faltar carne suína em 2015, mesmo com milho barato e isso vai impactar nos preços.
A Aquicultura é outra produção de proteína animal que está crescendo e que deve acirrar a competição por grãos no futuro. A demanda é crescente por todos os tipos de proteína animal. Nesse caso, o maior crescimento de produção vem da China.
Nos últimos meses nos EUA, mesmo com preços baixos do milho, o alojamento de frangos não avançou, por problemas de fornecimento de pintos de um dia. Mais um motivo para deixar a oferta enxuta e escassa. Mas é claro que a produção de frango vai aumentar, pois o milho está barato e o ciclo de produção é muito curto.
A China tem uma política de prioridade e atenção para commodities como carne suína, arroz, trigo e milho. A carne bovina não está na lista prioritária, o que é muito bom, pois abre espaço para os países exportadores, como o Brasil.
Brett descreveu o mercado de carne bovina como uma viagem de avião. Todo avião sobe e depois desce. Nunca fica para sempre nas alturas. Ou seja, é improvável que os preços recordes durem para sempre. Todas as commodities tendem a se ajustar entre oferta-demanda-preço. Se o preço está muito alto, a oferta tende a crescer. O ponto do Brett é que essa viagem de avião deve ser bem mais longa do que o normal. Ou seja, temos uma perspectiva de preços bons por um período mais longo.
Me lembrei do Ricardo Heise, que tem a melhor palestra que já assisti sobre mercado futuro do boi, onde ele usa uma metáfora muito divertida com um avião.
Vale lembrar que nas nossas andanças pelos EUA, nas duas últimas semanas, vimospreços de bezerro quase 3 vezes mais caro que no Brasil. E o preço do boi gordo, duas vezes mais caro. Em 2011, com o real valorizado, o preço do boi brasileiro chegou a ficar mais alto do que o norte-americano.
O outro país que cresce no mundo da carne é a Índia. Perguntei sobre quais as perspectivas de crescimento continuado da produção indiana de carne bovina. Brett afirmou que 75% dos búfalos machos são utlizados hoje em dia, o que ainda teria um potencial de mais 25%. E além disso, o peso de carcaça médio indiano é muito baixo. Avalio que é mais difícil aumentar o peso de carcaça do que utilizar um percentual maior de bezerros, devido ao sistema de produção indiano.
Eu gostei muito da apresentação dele, e fiquei mais animado com as perspectivas para mercado mundial da carne bovina.
Minha análise dos dados apresentados pelo analista da Global AgriTrends é que 2015 vai ser um ano excelente para as exportações de carne bovina brasileira.
Temos aí uma oportunidade de ouro para nossa pecuária e que devemos buscar atender mais e melhor.
Desejo a você um ótimo final de semana, de muito descanso e alegria com amigos e família. Eu fico mais 4 dias aqui nos EUA, agora em Scottsdale, no estado do Arizona. Estou há duas semanas fora de casa, e fico mais esses dias aqui participando de um treinamento para me preparar para o lançamento do AgroTalento, nas próximas semanas.
Estou longe de casa há dias, com saudades da família. Mas pelo menos, vou tentar manter minha sequência de refeições com churrasco de qualidade... :-)
Muito obrigado pela sua companhia. Um grande abraço, Miguel
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