segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Preço do churrasco avança próximo das festas

Frigoríficos e varejo alegam menor oferta de carne e maior procura por produto para elevação que chega a 10%
Patrícia Comunello
O churrasco já está mais caro e ainda falta quase um mês para as festas de final de ano. Depois de um curto período de estabilidade, os preços da carne vermelha voltaram a subir na semana passada, mostrou a pesquisa semanal do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), ligado à Ufrgs. O Nespro identificou até 6,5% de aumento na carcaça vendida por frigoríficos ao varejo em uma semana, maior alta registrada em unidades de abate na Região Metropolitana. Desde 22 de outubro, a correção acumulada ultrapassa 10%. 
As regiões Centro (uma das zonas com maior rebanho) e Sudeste (onde a lavoura de soja toma espaço da pecuária) do Estado apresentaram elevações de 3,4% e 3,2%, respectivamente, em apenas sete dias. O núcleo também monitora o comportamento de preços em supermercados e açougues, com atualizações quinzenais. Esta semana, quando ocorrerão as coletas de dados em estabelecimentos em Porto Alegre, será possível medir o impacto da conta repassada pela indústria ao varejo. 
A indústria confirma a escalada, que deve se manter até a janela do Natal e Ano-Novo, quando o consumo dispara, e atribui as correções de tabelas a menor oferta de bois, fato que valoriza a matéria-prima. “Está uma confusão, a indústria está sem referência de preço, pois a escassez de boi começou em novembro e o produtor nessa hora retém a produção”, retrata o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicardergs), Ronei Lauxen. Para a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), há ainda o fator exportação. 
Pesquisa da Agas mostrou que, no final do ano, os consumidores não vão trocar de ingrediente na ceia, mesmo que a conta fique mais salgada, 10,7% a mais que o valor praticado no fim de 2013. Carne é o produto que não pode faltar, o que embala projeção de alta de quase 10% nas vendas. “O aumento em cortes mais nobres, como picanha e maminha, chega a 20%, e carne sem osso, entre 5% e 10%”, atesta o presidente da associação de supermercadistas, Antonio Cesa Longo. Para o dirigente, o comportamento dos preços não destoa de anos anteriores, desde que a carne bovina engrenou maior valorização. “E vai aumentar mais até o Natal. Falam até em desabastecimento”, adianta Longo.
Um artifício das redes para aliviar o custo de cortes mais requisitados, como picanha e costela, vinha sendo trazer produto do Centro-Oeste do Brasil, onde está o maior rebanho. “Isso funcionou por um tempo, quando se conseguia carne mais barata, mas, hoje, a distribuição está nas mãos de três grupos, e não há mais diferença”, justifica Longo. Se não tem alternativa no abastecimento, consumidores como a promotora de vendas Débora da Rosa Klauth, assadora oficial dos amigos, busca substituir cortes mais valorizados por outros mais em conta sem comprometer o sabor e a tradição do churrasco.
Débora prefere comprar em açougue que sabe da qualidade do produto e onde encontra normalmente preços mais baixos. “Antes de comprar, sempre comparo, e costuma ser mais em conta”, diz Débora. O Nespro aponta que os preços variam muito entre os tipos de estabelecimento, mas que as casas de carnes costumam oferecer condições mais apetitosas. “Também sou bem chata na hora de escolher e pechincho. Sempre consigo um descontinho”, comemora a assadora, que gastou R$ 140,00 na última fatura para cozinhar para 26 pessoas.
O dono de um açougue no Mercado Público Valdir Sauer aponta que a carne de primeira subiu 10% a 15% na última semana. “E vai subir mais, nesta época é normal. Durante o ano, baixou e subiu várias vezes”, previne Sauer. Mesmo o quilo da picanha, que poderá chegar a 
R$ 40,00, não deve afugentar cliente, aposta o açougueiro. “Antes, comprar três a quatro quilos era muito, hoje, se colocar mais na balança, ninguém arrepia”, contrasta Sauer. “Cliente sabe que aqui tem o melhor gado, quer só Angus e Hereford.”
Mercado projeta entressafra em janeiro e fevereiro e limite para repasse de preço

Se em dezembro a indústria reclama de menor oferta de bois, que eleva a cotação da carcaça, em janeiro e fevereiro a entressafra se amplia. Um dos fatores que ajudou a demarcar ainda mais esse período é a ocupação de terras, antes destinadas a engordar bois, para grãos, como a soja. Na Metade Sul, onde está o maior rebanho, a transferência se firma e cresce a cada ano. O que poderia ajudar na programação de oferta de matéria-prima, adverte o presidente do Sicadergs, Ronei Lauxen, seria maior integração entre o setor primário e a indústria e mesmo o varejo.
“Se tivéssemos os dados de oferta de animais poderíamos fazer previsão para o abastecimento”, explica Lauxen. Do lado do produtor, a escolha do período de venda dependerá da estratégia de cada um, e a pecuária tem ciclo longo, dois a quarto anos. O rebanho gaúcho também se mantém estável, com 13,4 milhões de cabeças (um terço situado na região Sudoeste), e os abates em pouco mais de dois milhões ao ano. Outra crença do mercado é que o consumidor não aceita repasse de preço com facilidade e migra para cortes e espécies, como frango, para gastar menos.
Um dos responsáveis pela pesquisa sobre boi gordo do Nespro, o médico veterinário Eduardo Dias ressalta que a iniciativa de monitorar os preços nos principais redutos de abates e de consumo busca formar melhor panorama das informações. “A falta de dados é o grande problema da cadeia da carne bovina, o que gera desconfiança entre os agentes”, associa. O pesquisador cita que o varejo é o elo com maior possibilidade de calibrar a aceitação de preços em meio à valorização do produto. “O consumidor está muito segmentado, entre o que busca preço e o que quer qualidade e marca, e paga por isso”, define o integrante do núcleo da Ufrgs. Hoje, segundo Dias, 93% da carne de animais abatidos é vendida no Estado, e sete frigoríficos respondem por quase 40% da oferta.

fonte: Jornal do Comercio
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