A alta do dólar parece ter despertado um alarme geral. Uma visão mais profunda sobre a variação cambial, porém,traz meandros capazes de abafar o som estridente dos gritos de preocupação. O setor cárneo e suas exportações, por exemplo, beneficiam-se dos bons ventos emanados por esse fenômeno. Fenômeno, sim, pois a valorização da moeda norte-americana a R$3,30, alcançada em março, rompeu um regime de dez anos de estabilidade monetária – o dólar não ultrapassava a casa dos R$ 3,00 desde 2004.
Mas, diferentemente do que tem apregoado boa parte do mercado, esse fenômeno não se deve apenas aos desarranjos da economia brasileira. “Fundamentalmente, o dólar está se valorizando no mundo inteiro. Há um ano você precisava de US$1,40 para comprar um €1, mas hoje só precisa de US$1,07″, explica Emilio Garofalo Filho, ex-diretor de área externa do Banco Central e atual diretor do Banco Ouroinvest. Ou seja, a depreciação do real não é uma exceção.
Ainda assim, apesar do movimento ser generalizado, a expectativa é de que a moeda norte-americana volte a subir nos próximos meses. Garofalo aposta que 2015 deve terminar com o dólar a R$3,30, caso não ocorra nenhuma turbulência, enquanto Mariana Orsini, economista da GO Associados, acredita que este será o valor de 2016. Para o ano atual, a economista prevê uma cotação de R$3,15. Já Stefan Mihailov, diretor da Phibro, projeta que a moeda chegue a R$3,25 em dezembro.
Essas diferentes análises, entretanto, partem de um mesmo princípio. Em consenso, economistas apontam os Estados Unidos como o principal estopim da alta. Primeiramente, porque o país tem demonstrado sinais de recuperação financeira. Além disso, o possível aumento dos juros dos títulos norte-americanos abre margem para a especulação. Resultado: os EUA voltaram a atrair investidores e o dólar se fortaleceu.
“A parte positiva é que muitas negociações com o mercado externo são realizadas com contratos previamente firmados em dólar, e nesse caso temos um ganho na conversão para o real”, sintetiza Edemir Trevizoli Junior, gerente de exportações do Grupo GTFoods. Esse impacto, contudo,tem um importante contraponto. “Por outro lado, como grande parte do nosso custo é dolarizado, também sofremos o impacto negativo e temos que arcar com a elevação de custo na produção.”
A fotografia pode revelar bons ângulos, mas os benefícios não devem prevalecer sobre a análise crítica. Além de recomendar o aproveitamento do bom clima para as exportações, as fontes ouvidas pela reportagem sugerem cautela neste ano volátil.
fonte: Revista nacional da carne
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