sábado, 1 de agosto de 2015

Febre aftosa: vacinar ou não?

Ronaldo Zachlisnki de Oliveira*


Por Ronaldo Zachlisnki de Oliveira*
A febre aftosa é uma doença causada por vírus, e altamente contagiosa. Afeta animais de cascos bipartidos, daí sua importância na pecuária moderna, principalmente nos bovinos, ovinos, caprinos e suínos. Trata-se de uma zoonose, sua confirmação em humanos é rara e, quando acontece, seu tratamento é possível, sem causar grandes riscos à saúde do afetado.
A transmissão da doença ocorre através das secreções de um animal infectado, porém o homem e todo o tipo de material podem servir de vetores, em condições apropriadas, o vírus se mantém ativo por algum tempo, o que favorece a disseminação por veículos a longas distâncias.
O Brasil, o maior exportador de carnes do mundo, possui mais de um tipo de status sanitário, junto a OIE (Organização Mundial e Saúde Animal). O estado de Santa Catarina é denominado livre de febre aftosa sem vacinação, e as demais regiões do território brasileiro livres de aftosa com vacinação, com exceção dos estados do Amapá, Amazonas e Roraima, que buscam serem incluídos nesse grupo.
Ocorre que o estado do Paraná, recentemente, pleiteou junto ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), sua progressão de categoria, ou seja, deseja tornar-se livre de febre aftosa sem vacinação, sua solicitação está sendo examinada.
Esse fato obteve eco no Rio Grande do Sul, e alguns setores, timidamente, voltaram a falar em um Estado livre de febre aftosa sem vacinação.
No ano de 2001, com a suspensão da vacina, o Município do Rio Grande viveu o flagelo da febre aftosa, com 18 focos registrados e abate de expressivo número de animais, o considerável prejuízo sócio econômico que abalou a comunidade e deixou rastros, tanto assim que, até hoje, temos famílias marcadas pelo desarranjo causado em suas vidas pelas ações necessárias, tomadas pelos órgãos sanitários quer do governo estadual, quer do governo federal para erradição de tal doença, dos nossos campos.
Rio Grande, que possui um Superporto, com expressiva movimentação de cargas e pessoas das mais diversas origens, merece um cuidado todo especial quando se trata de sanidade, tendo em vista que no surto de 2001, o Sindicato Rural do Rio Grande, fez ligação que, dentre os 18 focos registrados, 14 tinham como indicativo o Superporto.
Propriedades que retiravam “varreduras” do interior do Superporto, produtores que executam jornada dupla, trabalhando na orla marítima e, após participarem de tarefas rurais e outras formas de contaminação, como intenso trânsito de veículos e equipamentos, podem ter sido vetores inocentes desta contaminação.
Em entrevista coletiva, nesta semana, a ministra Kátia Abreu declarou que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) têm como objetivo conquistar, para o Brasil, junto a Organização Mundial e Saúde Animal (OIE), o status de zona livre de febre aftosa até maio de 2016.
Entidades ligadas ao setor primário e produtores rurais, demonstraram preocupação com esses “ditos avanços” que seriam a retirada da vacinação, nos estados do sul, sem uma maior avaliação das condições de fiscalização sanitária.
A muito custo chegamos onde estamos, exportamos para mais de 180 países que aceitam nossa carne de zona livre de aftosa com vacinação. A retirada da vacina faria nosso território ficar exposto a surtos vindos de outras regiões do cone sul, que sabidamente investem menos que nós em sanidade animal.
Para nós, rio-grandinos, que passamos pelas agruras de um surto de aftosa, com repercussão negativa em todos os setores da nossa comunidade, acende-se a chama da preocupação com o futuro, sempre que volta à baila o assunto delicado da retirada da vacinação.
O Rio Grande do Sul, na palavra dos seus dirigentes, declara-se de “cofres raspados”, cortando gastos em saúde, educação, segurança e outros, como medida para sanear suas finanças cambaleantes, este mesmo Estado terá condições para investir pesado em fiscalização, como medida mais que necessária para quem quer progredir em termos sanitários com a retirada da vacinação? Penso que não.
Como diz o homem campeiro, no seu saber estradeiro: Quando a tropeada é longa, vamos ao trote no primeiro suor. Ou seja, vamos devagar e, com segurança, não é hora de suspender a vacinação, a hora é de consolidar nossas conquistas, que a muito custo foram alcançadas.

*Graduado em Agronegócio CRA/RS nº 1873;
diretor de Marketing da Associação Brasileira de Angus


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