segunda-feira, 6 de julho de 2015
Frigoríficos fecharam 44 plantas no país no ano
A rápida deterioração das margens brutas dos frigoríficos, espremidas pela combinação entre uma severa escassez de bois para abate e o enfraquecimento da demanda no Brasil e no exterior, levou a indústria de carne bovina a fazer cortes profundos no primeiro semestre. Com o intuito de estancar perdas e ajustar a capacidade à oferta de matéria-prima, empresas do segmento paralisaram mais de 40 frigoríficos e demitiram milhares de trabalhadores, ampliando ainda mais a concentração no segmento.
De acordo com levantamento da consultoria Agrifatto, 44 plantas já deixaram de abater bovinos no país neste ano. A maior parte dessas unidades é de médio e grande porte e fiscalizada pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). Segundo Lygia Pimentel, diretora da empresa, os números, que incluem tanto paralisações definitivas quanto temporárias, são ainda mais "assustadores" quando se leva em consideração a magnitude da redução da capacidade instalada de abate no Brasil, país que abriga o maior rebanho comercial de bovinos do mundo.
"Quando fiz as contas, me assustei. Esse movimento se intensificou muito rapidamente em 2015", afirma Lygia. Conforme a Agrifatto, os frigoríficos fechados ou com as atividades suspensas neste ano representam uma redução de 13% na capacidade diária nacional de abate - ou seja, cerca de 30 mil cabeças. No fim de 2014, as unidades em operação no país tinham capacidade para abater 220 mil cabeças por dia.
Considerado inevitável por muitos analistas do segmento, dada a discrepância entre a oferta de gado bovino disponível e a capacidade de abate total, o fechamento de frigoríficos tem provocado uma onda de demissões. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho compilados pela Valor apontam que os frigoríficos cortaram 4,3 mil postos de trabalho entre janeiro e maio, ou 3,3% de um total de 130,8 mil trabalhadores que estavam empregados no fim do ano passado.
Mas os cortes não param por aí. Na semana passada, as três maiores empresas do segmento do país - JBS, Marfrig e Minerva - anunciaram o fechamento de unidades em Cuiabá, Pirenópolis (GO) e Batayporã (MS), respectivamente, o que deverá resultar em pelo menos mais mil demissões, em um processo que tem tido efeitos deletérios sobre economias regionais. Em Batayporã, por exemplo, o fechamento da unidade da Minerva vai ceifar 823 postos de trabalho, 27% dos empregos com carteira assinada do município, que tem, ao todo, 11 mil habitantes.
De modo geral, as paralisações e fechamentos de frigoríficos atingiram em cheio os dois maiores Estados produtores de carne bovina do país: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde a capacidade de abate foi reduzida em 17% e 23%, respectivamente, segundo a Agrifatto. O perfil das unidades atingidas é diferente nos dois Estados. Dos 14 frigoríficos que deixaram de abater neste ano em Mato Grosso - diminuindo a capacidade diária de abate no Estado em 9,5 mil cabeças -, a maioria é de grandes empresas, diz Lygia.
Procurada, a JBS informou que fechou apenas duas plantas em Mato Grosso. A Marfrig não forneceu nenhuma informação. E a Minerva argumentou que o número de plantas "em operação varia muito de acordo com as condições de mercado" e que, em Mato Grosso, manteve fechado seu frigorífico em Mirassol D'Oeste, com capacidade para abater 2 mil bovinos por dia. No entanto, a unidade já voltou a operar.
Apesar disso, um empresário do segmento ouvido pelo Valor chama a atenção para o fato de a Minerva, que habitualmente não fecha unidades, fazê-lo neste momento. "A Minerva fechar é coisa que nunca tinha visto. Esse pessoal tem fome de matar gado".
Não bastasse isso, os abates nos frigoríficos que seguem em operação em Mato Grosso estão limitados a um número menor de dias durante a semana. Isso é um sinal claro de ociosidade, ainda que menor do que no auge da conjunção negativa, em meados de março, quando atingiu 50%, diz o mesmo empresário. Não à toa, os frigoríficos mato-grossenses foram os que mais demitiram: 1,9 mil pessoas entre janeiro e maio.
Em Mato Grosso do Sul, as principais empresas afetadas são de pequeno e médio porte, casos de Boi Verde, Beef Nobre e Frialto. Grandes grupos como Marfrig e Minerva também paralisaram plantas, mas a avaliação é que os menores terão mais dificuldade para retomar os abates mesmo quando a oferta de bois melhorar, talvez em 2017.
Para as grandes empresas, os problemas na operação de carne bovina no Brasil são minimizados tanto pela presença em outros países quanto pela diversificação das frentes de negócios, que em alguns casos inclui frango e suínos. Exemplo disso é a JBS, a maior empresa de carnes do mundo. Com lucros recorde, a empresa anunciou, nas últimas duas semanas, US$ 3 bilhões em aquisições fora do Brasil.
A preocupação com os pequenos e médios levou a Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne de Mato Grosso do Sul (Assocarnes) a protocolar no mês passado um pedido de audiência pública na Assembleia Legislativa para discutir o que considera uma concentração do setor nas mãos da JBS. Procurada pela reportagem à época, a JBS disse que a escassez de bois também afetou a empresa, que reduziu os abates em 12% no Estado.
Para o operador da mesa de futuros do BESI Brasil, Leandro Bovo, o processo de ajuste de capacidade está perto do fim. "O que tínhamos era canibalismo e ia acabar inequivocamente no fechamento de plantas. Mas agora estamos com as coisas mais ordenadas", afirma. Lygia Pimentel, da Agrifatto, também concorda que o ajuste está se completando. Tanto é assim que a margem bruta dos frigoríficos, que atingiu em março 1,81% - pior nível desde 2008 -, recuperou-se nos último meses e chegou a 6,46% em junho, segundo a Agroconsult. Apesar disso, essa margem segue abaixo da média histórica, de 9,75%. "Mas, aparentemente, o pior já passou", afirma Bovo.
Na avaliação do analista, boa parte dos frigoríficos fechados no Brasil neste ano dificilmente reabrirá. "Tínhamos uma estrutura de abate superdimensionada", diz. Vice-presidente de planejamento e relações com investidores da Marfrig, Marcelo Di Lorenzo concorda com o raciocínio. "Estava muito distorcido. Se você força a mão no abate, acaba elevando preço e diminuindo sua margem", resume.
Fonte: Valor Econômico
Postado por
Eduardo Lund / Lund Negócios
às
10:06
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