Preparando-se para o aumento da concorrência diante da perspectiva de uma recuperação econômica da Argentina, os produtores de carne bovina do Brasil precisam aumentar o valor do produto criando, por exemplo, regras comuns que permitam aos produtores cobrar mais caro pela mercadoria nacional. A avaliação é o superintendente técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) Bruno Lucchi. Segundo Lucchi, esse é o principal desafio do setor para 2016.
O Brasil é o maior exportador de carnes do mundo, com 15% do mercado mundial, mas a rentabilidade do produto brasileiro é quase 27% menor que a do Uruguai, que só tem 3% do mercado. Segundo dados do Instituto Nacional de Carnes do Uruguai, o preço médio da tonelada da carne bovina exportada pelo país de julho de 2014 a junho de 2015 foi de US$ 5,82 mil. No Brasil, a tonelada no mesmo período foi exportada por US$ 4,59 mil, de acordo com dados do MDic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). O Uruguai é o segundo maior exportador de carnes da América Latina.
Para 2016, a CNA espera um cenário de alta para a carne brasileira no exterior, principalmente por causa da desvalorização do real e da abertura de novos mercados com o fim dos embargos da África do Sul, Irã, Iraque, China e Japão. O outro lado dessa moeda será a elevação dos preços do produto no mercado interno. Isso se não houver aumento da oferta do produto que garanta o pleno abastecimento para os consumidores brasileiros e também a demanda externa pela mercadoria.
Lucchi destaca que não é preciso mudar a raça de gado produzida no país, mas medidas como a padronização do tempo de engorda do gado para abate já poderá ajudar a melhorar a qualidade da carne brasileira e assim aumentar o faturamento. “Hoje, o consumidor vai ao supermercado e compra uma picanha; na semana seguinte, ele compra a mesma carne, da mesma marca, e o produto é diferente. Isso porque tem produtor que abate com dois anos e outros com três [de engorda dos animais]”, afirmou.
Segundo ele, uma forma de incentivar essa padronização é os frigoríficos alterarem a forma de compra para a chamada de “classificação de carcaça”, que paga mais por carnes com melhor qualidade – de bovino jovem e macho, por exemplo. “Se não tiver a remuneração por qualidade nunca vai ter o estímulo para o produto de estar melhorando o sistema produtivo, a genética”, explicou.
Argentina
Para Lucchi as amarras que ainda travam a economia argentina não vão se soltar de uma vez, mas o país é um competidor forte que agora está de volta ao mercado. Durante coletiva para comentar as perspectivas do setor agrícola para 2016, o presidente da CNA, João Martins, afirmou que o setor agropecuário sabe que a Argentina vai tentar retomar o mercado de carnes. “O que estava acontecendo com a Argentina é o que a gente não quer que aconteça no Brasil, que os problemas políticos joguem a economia no chão”, afirmou.
O mercado tem esperado grandes mudanças econômicas no país com o início do mandato do presidente Mauricio Macri, que tomou posse na quinta-feira (10). A superintendente de relações internacionais da CNA, Alinne Oliveira, acredita que Macri pode ser um reforço para que o Mercosul avance em acordos comerciais.
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