quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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Pecuária inteligente: o desafio 2010

Miguel da Rocha Cavalcanti
Engenheiro Agrônomo pela Esalq/USP, pecuarista e Diretor de Marketing da AgriPoint
O início do ano é sempre um momento de reflexão, dos erros e acertos do ano que passou e do que podemos esperar pela frente e principalmente o que podemos fazer para tornar esse ano que se inicia melhor. Há uma grande lista de fatores fora do nosso alcance, mas há também bastante coisa que pode ser feita. Conseguir focar na esfera do nosso alcance traz resultados muito melhores.
A cadeia da carne passa por uma série de desafios. Os pecuaristas passam por outros desafios específicos além dos gerais do setor. Visando balizar o que podemos e devemos trazer de conteúdo no BeefPoint em 2010, fiz uma reflexão dos temas mais relevantes. Convido-o a participar comigo dessa avaliação e também a dar sua opinião ao final do artigo, concordando, complementando ou discordando.

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Certificação, rastreabilidade e sustentabilidade

Esses três temas devem continuar muito importantes em 2010. A sustentabilidade estará cada vez mais presente na agenda do setor e irá pressionar por maior implementação de programas de certificação de origem, de qualidade e de processos.
A sustentabilidade vem se tornando cada vez mais relevante não apenas por uma pressão direta de entidades da sociedade civil, como ONGs. Isso também acontece por uma mudança de atitude de diversos elos da cadeia produtiva.
Quem iria esperar um acordo dos principais frigoríficos com o Greenpeace? Aconteceu em 2009. Quem iria esperar que bancos e varejo começassem a exigir provas auditáveis de que a pecuária respeita o meio-ambiente e tem responsabilidade social?
Está mudando rapidamente e fica claro que deve se fortalecer em 2010. Há importantes compradores internacionais de couro começando a exigir certificação para sustentabilidade. E por aí vai.
Por outro lado, há uma grande oportunidade nessa questão. A pecuária a pasto e o confinamento eficientes são as duas saídas para a pecuária produzir mais, em menos área e com menos emissões. Para isso será preciso investir em eficiência e boas práticas.

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Eficiência e boas práticas de produção

A pecuária de corte é um dos setores produtivos com menor padronização no sistema produtivo. Há uma infinidade de tecnologias, opções. O aumento da eficiência do setor como um todo passa por adoção de técnicas mais produtivas, mais eficientes, com menor custo. É claro que teremos diferenças regionais e também diferenças de propriedade, em especial devido a escala.
Essa busca pela eficiência passará pela adoção de boas práticas. Segundo a Wikipedia, boas práticas é uma expressão derivada do inglês "best practices" que denomina técnicas identificadas como as melhores para realizar determinada tarefa.
Identificar e difundir as melhores formas de se realizar cada uma das tarefas que formam a produção pecuária é uma das chaves para a melhoria do setor. Acredito inclusive que esse foco na difusão de boas práticas poderia ser uma excelente forma de vender serviços e programas de certificação. Será também uma excelente forma de se vender produtos e serviços para pecuaristas.
A adoção de boas práticas não é uma proposta de se "travar" ou "engessar" a produção, mas em se dedicar a estudar cada etapa do processo, visando descobrir qual a melhor forma de se realizá-lo. Definida a melhor forma, ela deve ser usada sempre.
Num bom trabalho de boas práticas há também a preocupação com a inovação e melhoria, que testadas e uma vez aprovadas como objetivamente melhores, são adotadas como a prática corrente.
Diversos setores conseguiram grandes melhorias usando esse método, que é a base do sucesso de empresas como Toyota e Ambev. Boas práticas também implicam em ser possível auditar o sistema produtivo, dando mais segurança ao consumidor.
Na pecuária será preciso aprimorar a produção levando em conta eficiência econômica, produtividade e sustentabilidade. Já existem programas no Brasil atuando dessa forma e fazendas que adotam esse método com grande sucesso. Mas é preciso expandir muito mais.

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Concentração de frigoríficos e associações de pecuaristas

A concentração dos frigoríficos é uma realidade que veio para ficar. Está cada vez mais claro para o pecuarista que a situação mudou. O poder de barganha do seu cliente aumentou muito. E também a distância entre o produtor e o tomador de decisão nos frigoríficos, o que ocorre geralmente com o crescimento de uma empresa. É preciso melhorar a negociação e o relacionamento.
A criação e fortalecimento de associações de pecuaristas é uma das melhores saídas para melhorar essa relação, na negociação e também no fornecimento de matéria prima de qualidade e padronizada. Há uma série de serviços e formas de geração de valor de uma associação para seus pecuaristas filiados e também para o setor.
Associações de pecuaristas podem atuar fortemente no desenvolvimento de ações ligadas a sustentabilidade, certificação e boas práticas, visando também a retenção de valor pelo pecuarista. Esse é um tema que queremos abordar muito mais em 2010, uma demanda do setor, que comentou intensamente o artigo "Associações de pecuaristas: oportunidade, necessidade ou apenas uma boa ideia?".
As associações de pecuaristas podem dar uma grande contribuição para o item a seguir: foco no consumidor e marketing. Em muitos países, em especial nos EUA, os produtores atuam de forma muito pró-ativa na questão do marketing, com grande sucesso. Para isso, é pré-requisito a existência de associações fortes e bem estruturadas.

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Foco no cliente e marketing da carne

A renda per capita no mundo vem crescendo e deve continuar a crescer muito nos próximos anos. Com isso, há cada vez mais consumidores com renda para consumir e também renda para consumir produtos de maior qualidade, mais caros. Essa é uma mudança sem precedentes no mundo e a carne bovina vem se beneficiando fortemente desse cenário. O grande aumento das exportações brasileiras para países emergentes se deve a esse fator. Os produtos de origem animal (carnes e lácteos) são os alimentos com maior perspectiva de aumento de consumo nos próximos 15 anos.
Por outro lado, o consumidor tem cada vez mais opções e se torna mais exigente, menos tolerante e se cansa mais rapidamente das novidades. O consumidor já considera a inovação, a novidade como um fato corriqueiro, uma necessidade, quase uma obrigação. A carne bovina inova e comunica pouco. No Brasil, os principais frigoríficos começam a desenvolver marcas e produtos diferenciados, até por influência de outras empresas e marcas compradas aqui e no exterior. Mas ainda é preciso fazer mais.
A carne bovina tem uma forte vantagem em muitos mercados que é ser muito apreciada. Há muitos amantes de carne bovina, amantes de churrasco. A carne é um produto especial, presente em ocasiões especiais.
Há uma grande oportunidade: vender para esses novos consumidores, que agora têm renda para consumir produtos de origem animal. Para isso será preciso investir mais em marketing: tanto em comunicação e relacionamento com o consumidor final, quanto com inovação e desenvolvimento de novos produtos.

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Economia e política em 2010

Além de todos os fatores já citados, 2010 será um ano especial. Espera-se um crescimento da economia muito superior ao de 2009. Teremos Copa do Mundo que deve aquecer ainda mais o consumo de alimentos e bebidas. O cenário mundial também é favorável, com retomada do crescimento. Em relação as exportações, o problema é a cotação do dólar, com desvalorização na casa dos 20% entre janeiro de 2009 e 2010. O cenário da economia brasileira e mundial esse ano é muito mais favorável do que ano passado.
Outro fator importante é a eleição presidencial, que também pode ser um desafio para o setor. Com Marina Silva como possível (e provável) candidata, um dos temas importantes da agenda será sustentabilidade e meio-ambiente. Serra e Dilma que pouco (ou nada) falavam sobre isso, hoje se mostram muito mais engajados no tema.
Esse é um grande desafio para a pecuária e para o agronegócio em geral, pois a percepção atual entre agronegócio e sustentabilidade não é positiva. É preciso que o setor atue de forma mais pró-ativa nessa área, se posicionando, para não sofrer mais ataques, ameaças e retrocessos.

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Por que pecuária inteligente?

São muitos os desafios para a cadeia da carne em 2010. Pode parecer impossível atender a tantas demandas e ainda lucrar. Acredito que a saída será entender todos esses fatores de forma entrelaçada, interdependente. O desafio é identificar um número reduzido de iniciativas que contribuam positivamente para vários desafios ao mesmo tempo.
Para pecuaristas e suas associações e entidades, a pergunta poderia ser algo como: quais boas práticas de produção podem ser adotadas para aumentar a produção, com sustentabilidade, gerando produtos mais atrativos ao consumidor e melhorando o relacionamento e poder de barganha com frigoríficos?
Pode parecer improvável responder a essa pergunta, mas há muitas coisas interligadas. Aumentar a produtividade e eficiência por meio de boas práticas produtivas também contribui para sustentabilidade. Produzir com mais eficiência em geral produz carne mais apreciada pelo consumidor - mais macia. Gado de qualidade é uma demanda constante de frigoríficos e uma oferta garantida, dentro de padrões auditáveis por ser uma excelente forma de conseguir melhores condições comerciais. Há muita coisa interligada, positivamente relacionada.
Outra frente é a atuação setorial mais forte e eficaz, que pode ser melhorada com associações de pecuaristas mais atuantes.
O sucesso da pecuária em 2010 vai depender de conseguirmos fazer mais com menos. Menos desperdício, menos erros, menos desencontros, menos desalinhamento. Uso inteligente de recursos.

FONTE www.beefpoint.com.br

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Argentina: Governo volta a frear exportações de carne

O secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, começou a frear novamente a emissão de permissões de exportação (os chamados Registro de Operações de Exportação - ROE) de produtos de carne bovina, segundo indicaram empresários do setor frigorífico.

LEIA MAIS http://www.beefpoint.com.br/argentina-governo-volta-a-frear-exportacoes-de-carne_noticia_60116_15_166_.aspx

FONTE www.beefpoint.com.br

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