Em um hotel de São Paulo, os números de uma apresentação feita em computador são expostos, devidamente ampliados por um projetor, na parede. Um a um, são explicados por Carlos Rodenburg, o presidente da Agropecuária Santa Bárbara, nada menos que a detentora do maior rebanho bovino que se tem notícia mundo afora. São 450 mil cabeças de gado espalhadas pelos estados do Pará - fundamentalmente na região sul do Estado - e Mato Grosso. Mas os donos da Agropecuária Santa Bárbara querem muito mais. A meta é chegar a um milhão de animais até 2018. Só em 2010, o grupo desembolsou, entre operações e investimentos, R$ 100 milhões. O investimento total, desde que a empresa agropecuária surgiu, há cinco anos, passa de R$ 1 bilhão.
A fonte de onde jorra tanto dinheiro, segundo Rodenburg, é um ''grupo financeiro que busca bons negócios''. Mas ele não esconde que na sociedade está Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, acusado de diversos crimes pela Polícia Federal (PF) e investigado pela Operação Satiagraha, da própria PF, por evasão de divisas, gestão fraudulenta, corrupção ativa e concessão de empréstimos vedados. ''Ele é um investidor do nosso grupo, com muita honra'', responde Rodenburg, ex-cunhado de dantas, ao ser questionado pela FOLHA sobre o papel do banqueiro no meio dessa boiada toda.
Dantas à parte, as ações para continuar em franco crescimento e chegar à emblemática marca de um milhão de animais são uma síntese do momento de profissionalismo pelo qual passa a pecuária do Brasil. O investimento em genética é alto. Até 2009 a Santa Bárbara estava entre os maiores compradores de touro da Agro-Pecuária CFM. Rodenburg já desembolsou R$ 1,750 milhão por uma vaca Nelore.
Os funcionários das fazendas estão ganhando casas de alvenaria com antena parabólica e piso de cerâmica. Gramíneas são pesquisadas e solo é corrigido para fazer caber cada vez mais animais em menos espaços. Os diretores da empresa garantem que uma das fazendas, a Maria Bonita (PA), já é capaz de sustentar quatro animais por hectare. Nas outras, a média é de 1,3 animal por ha, mas a meta é chegar a 2 por ha. O manejo rotacionado contribui para isso. ''Não queremos aumentar a nossa área de pasto, mas de cabeças'', destaca Lúcio Caranachini, diretor de produção.
A Santa Bárbara entra neste ano no mercado de touros, com 1,5 mil cabeças em confinamento para essa finalidade. Mas por enquanto o forte é a venda de bezerros para que outros produtores finalizem o animal. Cento e sessenta mil, assim que desmamados, foram vendidos no ano passado ao preço de R$ 95 a R$ 100 a arroba. ''Tudo isso sem derrubar uma árvore'', enfatiza Rodrigo de Paula, o diretor geral.
Os números e os projetos são impressionantes. O difícil é convencer a sociedade de que a origem da dinheirama que financia tudo isso é legal. Sob o argumento de se tratar de terras de Daniel Dantas, o Movimento Sem-Terra (MST) já promoveu algumas invasões às fazendas. A última terminou com casas de funcionários destruídas. Além disso, é muito difícil achar alguma reportagem que não alie o dono do Oportunnity à Santa Bárbara. ''As acusações que fazem contra nós são baratas e desagradáveis'', finaliza Rodenburg. (W.S.)
FONTE: Folha de Londrina
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