segunda-feira, 15 de março de 2010

450 mil cabeças em cinco anos

Em um hotel de São Paulo, os números de uma apresentação feita em computador são expostos, devidamente ampliados por um projetor, na parede. Um a um, são explicados por Carlos Rodenburg, o presidente da Agropecuária Santa Bárbara, nada menos que a detentora do maior rebanho bovino que se tem notícia mundo afora. São 450 mil cabeças de gado espalhadas pelos estados do Pará - fundamentalmente na região sul do Estado - e Mato Grosso. Mas os donos da Agropecuária Santa Bárbara querem muito mais. A meta é chegar a um milhão de animais até 2018. Só em 2010, o grupo desembolsou, entre operações e investimentos, R$ 100 milhões. O investimento total, desde que a empresa agropecuária surgiu, há cinco anos, passa de R$ 1 bilhão.

A fonte de onde jorra tanto dinheiro, segundo Rodenburg, é um ''grupo financeiro que busca bons negócios''. Mas ele não esconde que na sociedade está Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, acusado de diversos crimes pela Polícia Federal (PF) e investigado pela Operação Satiagraha, da própria PF, por evasão de divisas, gestão fraudulenta, corrupção ativa e concessão de empréstimos vedados. ''Ele é um investidor do nosso grupo, com muita honra'', responde Rodenburg, ex-cunhado de dantas, ao ser questionado pela FOLHA sobre o papel do banqueiro no meio dessa boiada toda.

Dantas à parte, as ações para continuar em franco crescimento e chegar à emblemática marca de um milhão de animais são uma síntese do momento de profissionalismo pelo qual passa a pecuária do Brasil. O investimento em genética é alto. Até 2009 a Santa Bárbara estava entre os maiores compradores de touro da Agro-Pecuária CFM. Rodenburg já desembolsou R$ 1,750 milhão por uma vaca Nelore.

Os funcionários das fazendas estão ganhando casas de alvenaria com antena parabólica e piso de cerâmica. Gramíneas são pesquisadas e solo é corrigido para fazer caber cada vez mais animais em menos espaços. Os diretores da empresa garantem que uma das fazendas, a Maria Bonita (PA), já é capaz de sustentar quatro animais por hectare. Nas outras, a média é de 1,3 animal por ha, mas a meta é chegar a 2 por ha. O manejo rotacionado contribui para isso. ''Não queremos aumentar a nossa área de pasto, mas de cabeças'', destaca Lúcio Caranachini, diretor de produção.

A Santa Bárbara entra neste ano no mercado de touros, com 1,5 mil cabeças em confinamento para essa finalidade. Mas por enquanto o forte é a venda de bezerros para que outros produtores finalizem o animal. Cento e sessenta mil, assim que desmamados, foram vendidos no ano passado ao preço de R$ 95 a R$ 100 a arroba. ''Tudo isso sem derrubar uma árvore'', enfatiza Rodrigo de Paula, o diretor geral.

Os números e os projetos são impressionantes. O difícil é convencer a sociedade de que a origem da dinheirama que financia tudo isso é legal. Sob o argumento de se tratar de terras de Daniel Dantas, o Movimento Sem-Terra (MST) já promoveu algumas invasões às fazendas. A última terminou com casas de funcionários destruídas. Além disso, é muito difícil achar alguma reportagem que não alie o dono do Oportunnity à Santa Bárbara. ''As acusações que fazem contra nós são baratas e desagradáveis'', finaliza Rodenburg. (W.S.)

FONTE: Folha de Londrina

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