segunda-feira, 14 de março de 2011

Analisando o lançamento da carne Seara Angus

Semana passada o Marfrig fez o lançamento da carne Seara Angus, sua linha de carnes especiais para churrasco. Estive presente no evento, na ótima churrascaria Fogo de Chão, que curiosamente tem mais unidades nos EUA do que no Brasil.

O lançamento dessa nova marca é interessante pois é um indicativo do crescimento do segmento de carnes especiais no Brasil. Com o aumento da renda, além do crescimento de todas as carnes, há um maior interesse por cortes e marcas especiais. Ainda há poucas empresas atuando fortemente nesse mercado e parece que temos muito espaço a ser explorado.

Foi interessante ouvir os principais executivos do Marfrig dedicados a carne bovina e ao mercado interno brasileiro falarem sobre esse mercado para uma série de parceiros comerciais. Os principais açougues e casas de carne de São Paulo estavam presentes no almoço de lançamento, além da imprensa.

Algumas informações interessantes que destaco entre o que foi falado:

Brasil hoje tem carne de qualidade, há alguns anos era muito difícil fornecer qualidade com constância e frequência.

Com a lançamento da marca Seara para carne bovina, vendas de carnes especiais do Marfrig cresceu 400%, frente a um volume bem pequeno (a carne Seara não é uma marca premium, mas se posiciona acima das carnes sem marca). A marca Seara Angus quer se posicionar como premium.

O Marfrig tem um programa de fomento para produtores de carne com genética Angus. Nesse projeto, o foco é ter qualidade baseada em suporte técnico ao produtor, controlando o processo de produção (e não apenas o produto final - carne). Já tem cerca de 60 mil matrizes sendo inseminadas anualmente e a meta é crescer ainda mais. Número similar ao programa de carne Taeq, do Grupo Pão de Açúcar, que se propõe a produzir uma carne macia, com pouca gordura e sabor mais suave.

O movimento de várias empresas, em diferentes elos da cadeia, de se dedicar mais a venda de carnes especiais e mais cara, é uma demonstração de que a demanda existe e é crescente. Uma "prova" antiga é a picanha ser o corte que mais se vende, apesar de ser o mais caro (ou um dos mais). O mercado no Brasil é mais comprador de traseiro (mais caro) do que de dianteiro (mais barato) há anos. Mais uma demonstração que o consumidor está buscando algo além do preço. Pode ser: sabor, maciez, facilidade e até status.

Não existe carne de segunda em carcaça de primeira. Há tempos se fala nisso, mas dessa vez parece que estão realmente apostando nisso, pois lançaram uma série de cortes de dianteiro.

Outro ponto interessante desse lançamento do Marfrig é a venda de cortes especiais não tradicionais, incluindo formas diferentes de se vender a costela (similar ao que é feito nas melhores churrascarias), cortes para grelhar com músculos do dianteiro (que é uma tendência nos EUA), e até formas não usuais de venda de cortes tradicionais. Um que me chamou a atenção foi o filé mignom com osso, imagino que deva ter um sabor mais acentuado pela presença do osso, com a inigualável maciez do filé.

O Marfrig está planejando oferecer suporte de marketing para vender cortes especiais de dianteiro. As opções são muitas (vamos pedir as fotos e descrição de todos os cortes ao Marfrig, para apresentar aqui no BeefPoint). Esse suporte será feito de diversas formas: a principal é informação, incluindo receitas, treinamentos e ações no ponto de venda. Prometeram uma cartilha completa de como preparar cada um dos cortes. Isso é comum em outros países: a promoção de carnes está ligada a ensinar o consumidor a usar bem o produto. Informação de preparo e melhores maneiras de se usar cada corte reduzem o risco de se preparar um prato ruim, e aumenta a satisfação de quem consome. Precisamos lembrar que o cliente paga por um pedaço de carne, mas está comprando uma refeição. Se a informação facilita que esse pedaço de carne se transforme numa ótima refeição, o valor do corte aumenta.

Uma das dúvidas que levantei em relação as marcas do Marfrig é como ficará o posicionamento de cada uma. A explicação deles é que a Seara será a marca grill, especializada em churrasco e a marca Bassi será mais voltada para alta gastronomia. Os preços da Bassi e Seara Angus serão similares. Eu ainda fiquei na dúvida, e perguntei (em breve entrevista em vídeo): Se eu quiser fazer um churrasco caprichado para uns amigos, devo comprar a picanha Seara Angus ou a Bassi? Conseguir diferenciar e posicionar para que uma não concorra com a outra será um dos desafios, que parece ainda não resolvido.

Um ponto interessante, e muito pouco falado na pecuária é qual o rendimento de desossa de carcaças especiais? Isso é interessante, pois falamos muito de rendimento de carcaça (percentual do peso vivo que é carcaça), mas quase não se fala (nem se mede) qual o percentual da carcaça que é carne. O valor real da carcaça é a quantidade de carne ali presente. Imagino que animais com conformação frigorífica, o que poderia ser medido, avaliado e selecionado com ultrassom, por exemplo, produzam mais carne, pelo mesmo peso vivo ou pelo mesmo peso de carcaça. Talvez esteja aí uma outra explicação do porque vale a pena pagar mais por animais de qualidade, com melhor conformação frigorífica. Uma conta que frigoríficos e produtores parecem ainda não estar fazendo.

Em tempo, JBS e Minerva também deveriam lançar marcas de carne especiais. Nos EUA, a Swift (JBS) tem uma grande experiência com venda de carnes com marca e certificação Angus. Faz todo sentido trazer esse conhecimento para o Brasil, que está demandando mais e mais carne de qualidade.

Acredito que essa concorrência vai se acirrar no futuro. Bom para produtores e bom para consumidores.

FONTE: BEEFPOINT

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