segunda-feira, 14 de março de 2011

E daqui para a frente?

A safra de bois de 2011 está aí e os preços relutam em cair. Na verdade, não caíram e nem subiram, mas permaneceram praticamente estáveis desde o início de dezembro, reflexo da oferta de animais ainda baixa frente o consumo retraído pelos altos preços alcançados na gôndola do supermercado.

De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a CNA, em conjunto com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o Cepea, os custos operacionais totais (COT) com a pecuária de corte subiram 20,9% em 2010.

O índice é baseado em levantamento que conta com 10 estados produtores e inclui gastos com reposição, recuperação do patrimônio depreciado e rebanho. Esta foi considerada a segunda maior alta dos últimos sete anos, atrás apenas daquela ocorrida em 2008, que foi de 34%. Mais uma vez, os números apontam para uma retomada da alta interrompida pela crise mundial, em 2008.

O boi gordo, em contrapartida, reagiu acima disso: alta de 36% no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2010. Isso mostra que aqueles que conseguiram entregar a produção na entressafra obtiveram uma boa margem no ano passado.

Os custos de produção, entretanto, não pararam de subir em 2011. Pelo contrário! Enquanto o boi gordo reagiu 2% de janeiro até hoje, o boi magro subiu 9% no mesmo período, o que deixa a relação de troca novamente pior ao invernista. O milho teve alta de 9,33%.

Na verdade, a conta ainda fecha, mas fica a dúvida sobre a rentabilidade para os próximos anos, principalmente quando há uma fase de baixa do ciclo atual que está sendo anunciada pela retenção de matrizes, que já ocorre há quatro anos, e pela atual estabilidade das cotações.

Apenas para lembrar: os custos não param de subir somente porque o boi gordo chegou à sua fase de baixa. Então é bom se preparar.

Fato é que o gargalo de oferta ao qual chegamos é reflexo de investimentos que ocorrem em ritmo menor se comparados ao consumo e ao crescimento populacional. Há, por exemplo, bom volume de crédito destinado à ponta do abate, mas não ao fomento da produção agrícola. Não na mesma medida.

Um sinal disso é que recebo de alguns leitores pedidos para considerar nas análises as condições de mercado para a produção sem qualquer tipo aplicação de tecnologia. E pensando no mercado pecuário brasileiro, esse pedido é completamente cabível.

Simultaneamente, o aumento do consumo interno, impulsionado pelo maior poder de compra, e a demanda internacional em ascensão, resultado da recuperação de países desenvolvidos e do crescimento dos emergentes, faz crescer a necessidade por um produto que hoje, está escasso.

E é aí que o mercado fala mais alto. Olhando para o cenário macro econômico, a expectativa é que a demanda continue crescendo. E para acompanhar, a produção também deverá se mexer. E é o que o mercado espera para o boi brasileiro nos próximos anos: que a produção aumente após a retenção de fêmeas.

Quero dizer que não podemos nos esquecer do ciclo pecuário, como comentado anteriormente. Por enquanto temos vivido um cenário de pouca oferta e consumo interno dando suporte ao aumento dos preços. Entretanto, não é fácil acreditar em novas altas a partir de agora. Não que seja impossível, mas o consumidor está tímido com os atuais preços praticados pela carne bovina. A partir do momento que os bezerros das vacas retidas começarem a dar as caras, me parece que será um pouco mais difícil segurar o filé mignon na casa dos R$30,00/kg.

E esse texto chove-e-não-molha quer dizer o quê?

Que apesar de um cenário macro econômico favorável para o longo-prazo, a inflação e os custos podem comer boa parte do novo patamar de preços que a pecuária alcançou, sem falar que altas não duram para sempre e quando a oferta aumentar, a coisa vai se complicar ainda mais. Por isso é bom estar preparado para colocar o pensamento estratégico em ação e pensar nos próximos anos. Pensamento esse que deve ir além de uma boa rentabilidade para 2011.

A conferir.

FONTE: www.agroblog.com.br /autor Lygia Pimentel

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