segunda-feira, 18 de abril de 2011

Rastrear ou não rastrear, eis a questão!


O futuro da pecuária nacional, com tendência de aplicação crescente de tecnologia e melhoria da qualidade de produção e processos, passa necessariamente pela identificação dos animais, tanto para atender mercados exigentes, como medida de controle do rebanho.

Dessa forma, o Brasil implantou em 2002 um sistema de rastreabilidade bovina, regido pela Instrução Normativa 17 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que após algumas modificações passou a ser denominado, a partir de 2006, Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (SISBOV).

Atualmente existem duas categorias de monitoramento para as propriedades que fazem parte do SISBOV: Fazendas ERAS e Fazendas TRACE.

As fazendas ERAS são propriedades que cumprem todas as exigências do Sisbov, porém ainda não estão aptas a exportar para o mercado europeu.

Quando liberadas para exportação através de auditorias, passam a ser denominadas fazendas Trace, ou pertencentes à Lista Trace, e produzem o chamado “boi Europa”.

Esses animais são produzidos dentro de diversas exigências, e sendo assim, na venda, normalmente existe pagamento de ágios sobre o valor da arroba. Cada frigorífico define sua bonificação.

Em 2008 o ágio para a arroba do “boi Europa” chegou aos 10% sobre o valor de mercado físico. As exportações para o bloco europeu estavam em crescimento.

Atualmente paga-se, em média, R$2,00 a mais pela arroba do “boi Europa” em relação ao “boi comum”, em todo o Brasil.

Porém, nem sempre há ágio. A partir do segundo semestre do ano, entressafra, cresce a oferta de boiadas de confinamento, principalmente entre outubro e novembro.

Essas propriedades confinadoras, na grande maioria das vezes, são caracterizadas por alto nível tecnológico, com a rastreabilidade fazendo parte do sistema.

Dessa forma, o aumento na oferta de animais lista Trace leva a uma redução do ágio, sendo que em muitas vezes, como ocorreu em 2010, os frigoríficos deixam de pagar preços diferenciados por esses animais.

Mas afinal, qual o custo para implantação da rastreabilidade no rebanho?

Custo da implantação da rastreabilidade

Existem alguns tipos de identificadores no mercado e o preço de cada um desses insumos influencia de diretamente nos custos de implantação do sistema.

Considerando os identificadores, o produtor pode escolher entre as seguintes opções permitidas pelo SISBOV:

A - Um brinco e um botton padrão. (método 1)

B - Um brinco ou um botton padrão e um dispositivo eletrônico. (método 2)

C - Um brinco padrão em uma orelha e uma tatuagem na outra. (Método 3)

D - Um brinco padrão e o número de manejo do SISBOV marcado a fogo. (método 4)

E - Um dispositivo único com identificação visual e eletrônica. (Método 5)

F - Somente um brinco padrão.

Apesar de possível a utilização de somente um marcador, a associação dos tipos de identificação é a mais indicada e a mais utilizada já que minimiza a perda da numeração e consequente rastreabilidade do animal.

Para estimar os custos envolvidos na identificação dos bovinos, considerou-se uma propriedade de referência com um rebanho estável de 1.325 cabeças, em sistema de ciclo completo (de cria, recria e engorda), composto por matrizes, novilhas, bezerros e bezerras, garrotes para a engorda e touros.

Além dos gastos com insumos – brinco, botton, tinta, unguento, etc -, estão incluídos no custo final despesas com mão de obra, com a empresa certificadora e a depreciação dos equipamentos.

As formas de identificação apresentadas nesta análise serão o brinco e o botton (brbo), brinco e marcação a fogo (brmf) e brinco e tatuagem (brta), por serem as mais utilizadas.

Veja na tabela 1 os resultados no primeiro ano, com a implantação do sistema.



Considerando, no rebanho em questão, um desfrute de 25%, ou seja, um abate de 332 cabeças, e diluindo os custos do primeiro ano na boiada que irá para o abate, considerando 18@ de média, o preço da associação brinco e botton será de R$1,46/@. Tabela 2.



Considerando a remuneração média do “boi Europa”, R$2,00 a mais por arroba, o pecuarista terá um ganho de R$0,54/@ para o brinco mais botton, R$0,61/@ para a marcação a fogo mais brinco e R$0,47/@ para a associação do brinco e da marca a fogo.

Abatendo 332 cabeças, com média de 18@, o ganho com a rastreabilidade pode variar de R$2,8mil a R$3,6mil por ano.

No entanto, no segundo ano, com a rastreabilidade já estabelecida, os custos diminuem.



Considerando nesse rebanho 400 matrizes, com uma taxa de natalidade de 60%, nascerão 240 animais por ano.

Supondo a brincagem em todos e o mesmo desfrute médio do rebanho, os resultados são melhores.

Nesse ano o ganho advindo da rastreabilidade pode chegar a R$8,8mil por ano, utilizando os mesmos parâmetros de peso dos animais e número de cabeças abatidas.

É importante lembrar que em um rebanho maior os custos com deslocamento do técnico serão diluídos, assim como os custos fixos, levando a melhores resultados.

Final

A rastreabilidade, além de ser uma exigência de alguns mercados, deve se tornar no longo prazo uma prática comum, já que garante a rastreabilidade total do animal abatido, contribuindo com a qualidade do produto final.

Porém, a adoção ou não do sistema será sempre uma decisão individual, que deve considerar todos os aspectos que envolvem a atividade, como a sistema adotado na fazenda, estratégias de mercado, política dos compradores e a análise dos custos envolvidos.
FONTE: SCOT CONSULTORIA

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