sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Presidente da JBS: "Apresentamos ao BNDES oportunidades excelentes"


Apoiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para criar verdadeiros gigantes no setor de carnes, os frigoríficos brasileiros continuam patinando, sem apresentar lucro.
Mesmo com resultados negativos, a proposta de formar multinacionais brasileiras nessa área traz valor ao país, defende Wesley Batista, 41, presidente da JBS, maior empresa de carnes do mundo.
O empresário atribui o prejuízo de R$ 183 milhões em 2011 (até setembro) a um fator pontual e rebate críticas sobre a relação com o BNDES.
"Nós fomos ao BNDES levar oportunidades que achamos excelentes. Para nós, o BNDES foi um investidor como qualquer um outro", disse em entrevista à Folha.
Ele afirma que o banco aposta em retorno no longo prazo e que a JBS está pronta para "colher frutos" de suas aquisições neste ano.
Leia os principais trechos de sua entrevista.
Folha - Por que os frigoríficos brasileiros não dão lucro?
Wesley Batista - Eu não vou te responder sobre os outros [frigoríficos]. Vou te responder sobre a JBS. Parece desculpa -e eu não gosto de desculpa porque o resultado é o que é. Mas, se o negócio de frango não tivesse ido tão mal nos EUA em 2011, a JBS teria dado um lucro muito bom e entregue um ótimo retorno aos acionistas.
Eu não tenho dúvida de que essa proposta de ter empresas fortes no setor de proteína gera valor para o Brasil. A relevância do Brasil em vários segmentos, não só no negócio de carnes, acaba gerando outros benefícios.
Como o senhor vê as críticas sobre a relação entre a empresa e o BNDES?
Nós fomos ao BNDES levar oportunidades que achamos excelentes. Para nós, o BNDES foi um investidor como qualquer um outro. A JBS vendeu um patrimônio para o BNDES e, hoje, tem poucas dívidas com o BNDES. Tem muita empresa brasileira com dívidas astronômicas [com o banco].
A JBS não tem mais dívida, mas o BNDES se tornou o segundo maior acionista da JBS.
Nós vendemos o negócio para o banco, que tem um braço que possui participação na Vale, na Petrobras...
Mas críticas, em 2011, concentraram-se no valor pago pelo BNDES para converter as debêntures da JBS (dívida) em ações (o preço definido ficou acima do valor de mercado).
Mas tem os dois lados da moeda. O BNDES comprou ações da JBS a um preço que já esteve muito mais baixo, mas que também já esteve bastante acima. Então isso faz parte do negócio. Estamos falando do mercado de renda variável, não é renda fixa.
E uma coisa é o curto prazo, outra coisa é o médio e longo prazo.
Nossa família é acionista dessa empresa -como eu acho que o BNDES decidiu ser acionista dessa empresa- porque não estamos olhando para seis meses, um ano. Acreditamos no longo prazo e que vamos olhar esse capítulo de forma diferente.
Nunca houve interferência do BNDES na empresa?
Não, zero.
Nem mesmo na mudança do comando da empresa? (Wesley substituiu seu irmão, Joesley, na presidência em 2011).
Nada, de forma nenhuma. De novo, o BNDES é na JBS um acionista como vários outros. Isso é lenda.
Como o senhor vê a competitividade do Brasil como plataforma de exportação?
As coisas mudaram nos últimos cinco anos, quando tínhamos uma moeda mais fraca. Diminuiu muito a diferença entre os preços relativos do Brasil em comparação com outros países.
Há alguns meses, o real estava deixando o Brasil numa condição de descompetitividade (sic) séria. Quando o dólar estava em R$ 1,50, produzir frango nos Estados Unidos estava mais barato do que produzir frango no Brasil - coisa que nunca aconteceu em um século.
Mas não é só o câmbio, é?
O que tem de tomar cuidado é que as coisas se movem devagar e você não nota.
O Brasil já teve mão de obra ridiculamente barata. Felizmente, em benefício da sociedade, não tem mão de obra mais barata. Em alguns níveis hoje o Brasil tem mão de obra mais cara do que nos Estados Unidos, como nos níveis mais capacitados.
Com o tempo as condições vão mudando e, se não tomar cuidado, quando olhar para trás, já ficou para trás. Mas felizmente o governo tem olhado isso.
Podemos dizer que 2011 foi um ano de arrumação de casa? E, com a casa arrumada, como a JBS está olhando para 2012?
Não digo que 2011 tenha sido um ano de arrumação de casa porque a casa a gente vive arrumando, isso é constante. Consideramos 2011 um ano de consolidação. Estamos muito satisfeitos em encerrar o ano no trilho e bem preparados para desfrutarmos em 2012.
Estamos trabalhando isso, falando com o mercado que a JBS plantou e, sem dúvida nenhuma, acreditamos que este ano é de colher frutos.
Então 2012 será um ano sem aquisições?
Em 2012 e em 2013 a JBS vai estar muito concentrada. Vamos crescer organicamente e, se surgir uma oportunidade pontual, vamos olhar. Mas o ritmo de aquisições vai cair, até porque não vemos grandes oportunidades como havia no passado.
A JBS não tem interesse em operações na China?
Por enquanto não.
Mas a China é o mercado mais promissor para o consumo de carnes, não?
Pois é... É o mercado mais promissor, mas eu conheço poucas empresas estrangeiras que ganham dinheiro na China.
É incrível. Nós queremos muito estar estruturados para vender os nossos produtos na China, não necessariamente operar na China.
Achamos que tem um pouco de modismo, sabe? "Vamos para a China, porque a China cresce." E aí todo mundo vai lá e aceita não ganhar dinheiro. Vai vivendo do amanhã, e não entrega o hoje.
O senhor afasta a euforia ao falar da China. É um perfil que o mercado não está acostumado a ver na JBS, não acha?
(risos) Na nossa cabeça, há lugares melhores do ponto de vista de retorno do investimento, como o Brasil.
Fonte:  Folha de São Paulo

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