segunda-feira, 7 de maio de 2012

A arroba do boi segue a carne



Rogério Goulart, administrador de empresas, pecuarista e editor da Carta Pecuária
cartapecuaria@gmail.com
Reprodução permitida desde que citada a fonte
 
O relatório Boi na Linha, da Scot Consultoria, na edição dessa sexta feira resumiu bem o status quo do mercado pecuário nesse início de maio — “A seca que vem afetando as pastagens há algum tempo somado a chegada do frio em algumas regiões, prejudicam o capim e reduzem a capacidade suporte dos pastos, favorecendo o aumento de oferta.”

Esse relatório da Scot é a fonte de informação que uso sobre preços das arrobas estaduais, caro leitor. Sugiro você, se possível, assinar para recebê-lo também. Ajuda bastante no dia-a-dia:www.scotconsultoria.com.br .

Então o mercado está caindo com a oferta no curto prazo? Um mês atrás a arroba valia 96 reais, então sim, os preços caíram. Se está caindo contra todo o primeiro semestre? Aí, ainda não. O pior preço foi 93/94 reais em março, então, digamos, os preços estão estáveis.

Ao lado, um gráfico novo aqui na Carta Pecuária. Trata-se do indicador do boi da Esalq/BVMF na parte de cima e abaixo o PSAR. Não vou entrar no quesito técnico do que é esse indicador.

Ele não é muito usado, mas gosto muito dele. O PSAR oscila entre acima e abaixo de zero. Quando está acima é mercado subindo. Abaixo, caindo.

Estamos caindo no momento, porém o pior momento, segundo esse indicador, já passou. Ou seja, estamos no que poderíamos chamar de inércia da safra, onde os fundamentos de queda ainda estão presentes, porém não mais uma “força” empurrando os preços para baixo.

Sim, sim, você consegue muitas informações usando o indicador Esalq/BVMF. É por isso que disse na semana passada que ele é para mim a principal fonte de informação do que o mercado está fazendo.

A coisa que mais me chama a atenção nesse primeiro semestre é a rapidez com que os frigoríficos aumentaram o desfrute de suas plantas. Só se aumenta o desfrute, ou seja, só se aumenta a quantidade de animais abatidos por dia se a coisa está dando dinheiro.

Pelo que estamos vendo hoje em dia, tanto o desfrute das plantas subiu como as escalas de abate subiram.

Isso é oferta, sim, mas é das boas — daquela que o mercado compra e quer mais. Haja visto o que disse no outro parágrafo, a oferta veio em 2012, porém os preços, até agora, obviamente, estão mais na fase de salve-se quem puder.

Tudo isso pode mudar. Não podemos fechar os olhos para a realidade estatística que coloca o mês de maio como o principal mês de piso de preço no primeiro semestre. Porém, as escalas de abate, segundo dizem, estão andando e já se começa a trabalhar a próxima semana.

Na outra semana seguinte, mais para o final do mês, começamos a especulação de compra de final de mês / pagamento de salários.

Então, se o boi quiser cair e casar com a estatística e fazer novamente maio como o pior preço do ano, o pior preço será formado, imagino, nessas próximas duas semanas.

Deixe-me colocar aqui um gráfico dos últimos doze meses de mercado para você ver que a safra é bicho feio, mas já foi mais feia que está agora. Repare nos dois gráficos de cima — a arroba do boi.

O gráfico do meio é a carcaça casada. Os dois gráficos são dos últimos doze meses, então estamos comparando banana com banana aqui. Notou a semelhança?

É fantástico como a arroba do boi segue a carne. Sendo assim, a carne esse ano testou ao redor dos piores preços ano passado e até agora não rompeu a coisa. Essa linha azul é de extrema importância, caro leitor. A carne, se quiser subir, não pode de jeito nenhum rompê-la para baixo!

A mesma coisa podemos dizer da arroba no gráfico de cima. Se a arroba acompanha a carne, e se a carne se sustentar ao redor disso daqui, com um colchão aí, vai, até R$ 5,90~6,00, a arroba tenderá a ficar ao redor de onde está, com um real abaixo, talvez.

Como disse, a entressafra foi feia. Saímos de 107 reais no pico para 94 agora. Uma impressionante queda de 13%.

Então, caro leitor, vamos ficar de olho.

Estamos vendo duas coisas enquanto a arroba está caindo. A primeira é que voltou a ficar gostoso comprar boi magro. Essa semana mesmo algumas ofertas interessantes apareceram, até mesmo gado magro, na balança, com desconto sobre a arroba do boi. Faz tempo que não via isso (preços com desconto) na balança.

Outra coisa é o aparte e o prazo. Hoje em dia, pelo menos o que temos visto é negócios de 30 dias direto. Se tiver uma entrada de, vai, uns 30%, dá para na conversa, se o vendedor te conhece, conseguir 45 dias de pagamento.

São coisas que vimos ocorrer ultimamente na negociação de boi magro por aqui em MS. Então, caro leitor, se a reposição está boa e se não houver mais espaço na fazenda para uma quantidade maior de gado que já tem, pelo que temos visto de reposição, com preços médios de compra abaixo do custo do boi gordo estocado, está valendo apena, em negócios como os que disse acima, vender o animal gordo e repor o magro.

MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com –0,16 a R$ 93,86 à vista. Cotações em R$ por arroba.

A média móvel de 5 dias fechou em R$ 94,08. O contrato de maio/12 fechou com –0,96 a R$ 94,23. O contrato de maio está +0,15 centavos acima do preço médio de liquidação do contrato.

O contrato que vence em junho/12 fechou com –0,47 a R$ 95,70; julho/12 –0,50 a R$ 98,00; agosto/12 –0,96 a R$ 98,75.

Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços.

Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com –36,69 cotado a R$ 699,06 à vista. Cotações em R$ por bezerro.

A arroba do bezerro subiu dois reais e vale ao redor de R$ 111,00.
Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal.

Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,22 bezerros, alta de +0,11 na semana.

Dólar -- Dólar comercial fechou com +1,80% a R$ 1,920. Dólar futuro com vencimento no início de junho fechou com +1,83% a R$ 1,931; julho fechou com +1,83% a R$ 1,941.

Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 9,00% ao ano.

Inflação – IGP-M de abril +0,85%. Acumulado no ano2 +1,47%. Acumulado nos últimos 12 meses3 (maio-11 a abril-12) +3,60%.

Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas.

Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 94,50; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 87,50 (Base –7,4%) e em Campo Grande ao redor de R$ 88,00 (Base –6,9%).

A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 85,50 (Base –9,5%). Em Cuiabá está em R$ 85,00 (Base –10,1%).

No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 86,00 (Base –9,0%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 88,00 (Base –6,9%).

1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF.
2 e 3 Somatória com Juros Simples.
4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria.


CONCLUSÃO: Quarta semana consecutiva de queda dos preços da arroba do boi em SP. O acumulado desses últimos 30 dias fechou em –2,64 reais. No ano, a arroba já caiu 5,35 reais e –4,92 reais nos últimos 12 meses.

Até mais,

Rogério Goulart

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