A crise vivida em 2008, principalmente nos Estados Unidos, foi assustadora. O mercado imobiliário veio abaixo, o crédito enxugou. De toda forma, o governo fez o que pode e investiu o quanto pode para contornar a situação. Não foi o suficiente. Agora, os países envolvidos também estão sem dinheiro. O crédito que vinha de fora começou a enxugar e muita gente colocou o pé no freio por aqui. E esse tipo de situação não se resolve de um momento para o outro. Grandes empresas, indústrias e frigoríficos não fugiram desta realidade.
Frente aos eventos macroeconômicos, o dólar fragilizou-se e o Real fortaleceu-se, mas não sem deixar claros seus efeitos. Com o dólar desvalorizado, era necessário aos clientes internacionais mais dólares para comprar o mesmo volume dos produtos brasileiros exportados. Isso significa que o faturamento em reais ficou comprometido devido à desvalorização da moeda norte-americana e ao encarecimento do nosso produto, que também prejudicou nosso desempenho em volume. Resultado: mais oferta de carne no mercado interno. Enquanto isso, o poder de compra do brasileiro esteve a mil por hora. Salário em alta, desemprego em baixa e atividade industrial a pleno vapor. Com o aumento do poder de compra e consequente aumento do número de pessoas inseridas na Classe C – em detrimento do número de pessoas entre as classes D e E -, o brasileiro foi às compras. Gastou bastante apesar do cenário macroeconômico negativo e incerto.
No caso do frango, mesmo sem ter perdido um mercado representativo como a Rússia é para a carne bovina e suína, e apesar de ter crescido em termos de volume exportado, o aumento da produção e da disponibilidade de carne de frango no mercado interno fez os preços do quilo vivo atingirem os valores mais baixos dos últimos dois anos. E, uma vez que o frango é hoje o maior substituto da carne bovina e também da carne suína, essa fraqueza da carne branca fez diminuir a competitividade das outras carnes. Isto é, uma vez que o frango está barato, por que eu pagaria caro pelo bovino, ou até mesmo pelo suíno no dia-a-dia?
Para a carne suína, o baque com a perda do mercado russo e, mais recentemente, do mercado argentino foi duro e também gerou uma maior disponibilidade interna do produto. Podemos afirmar isso com base no aumento ligeiro da produção brasileira de carne suína em 2011. Na variação entre 2010 e 2011, houve crescimento leve de 1,5% para o número de cabeças produzidas industrialmente. No entanto, houve ganho em produtividade na carcaça, uma vez que a produção de carne variou acima disso, em 4,95%. Entretanto, com os preços do milho e da soja historicamente altos, houve forte perda de margem para o produtor nos últimos anos, o que gerou redução de 0,56% no número de matrizes industriais alojadas em 2011.
Aliás, esse movimento de perda de margem deverá continuar exercendo influência sobre a produção nos próximos meses, de modo a forçar um ajuste produtivo em breve e a consequente correção dos preços ao produtor. Afinal, o mercado é cíclico.
No caso do boi gordo, a oferta realmente não tem sido das maiores nos últimos 24 meses, o que acarretou preços altos no varejo. Resultado de crise de crédito, alto custo da matéria-prima, menos vendas internacionais e menor disponibilidade de animais (típica da fase de alta do ciclo pecuário), levaram os frigoríficos a reduzir um pouco os abates nos últimos anos. E os que não reduziram, mantiveram um ritmo mais ou menos estável. Hoje temos um cenário de possível recuperação para o frango e o suíno devido ao recente período de margens ruins, e um cenário mais pessimista para o boi gordo.
Este ano promete ser muito interessante! O segredo agora é continuar acompanhando o mercado para calibrar a projeção desenhada hoje. Só assim é possível manter-se no caminho certo.
Por Lygia Pimentel
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