Não há como negar. A oferta de animais hoje é maior do que no mesmo período do ano passado e também maior do que o mesmo período do ano retrasado. A última entressafra que vivemos também contou com uma oferta maior, principalmente no primeiro turno do confinamento. Prova disso é que em setembro do ano passado o comportamento dos preços se assemelhava ao período de safra. É ruim quando isso acontece. Gostoso é quando falta boi. Quando conseguimos negociar com calma. Colocar o frete na conta, enfim!
Não é o que ocorre hoje. Há quem diga que é manipulação, que é reflexo da concentração de frigoríficos, culpa do governo, culpa da falta de chuvas… Certamente alguns desses fatores influem, mas não no longo-prazo. Ao longo do tempo o fundamento fala mais alto.
Se a atividade está ruim e não remunera, a gente não aguenta ficar nela por muito tempo. E se saímos, a oferta passa a ser menor. E se a oferta é menor e a demanda permanece, os preços voltam a firmar. E quando eles firmam, o pessoal começa a olhar e pensar: “Como é fácil ganhar dinheiro com boi! Acho que vou entrar nessa”. E aí a oferta volta a aumentar e esses caras percebem que estavam errados, que na verdade é difícil tirar a correia do couro.
Enfim, é o que já conversamos sobre os ciclos do mercado. É claro que a história não é tão simplista como contei acima, mas a lembrança servirá para pensarmos sobre a situação atual e para onde ela poderá nos levar. Observe o gráfico 1
Lembram-se de quando falei que setembro de 2011 se pareceu com período de safra? Observem onde foi parar a duração das escalas de abate no período! Só para lembrar, gostaria de dizer que uso médias mensais para calcular a duração das escalas, e não situações pontuais de aumento de um dia, apenas. Isso evita que a entrada de um grande lote ou a compra por parte do frigorífico por achar que o mercado vai subir alterem o resultado.
Bom, tracei médias para o primeiro quadrimestre de 2010, 2011 e agora, 2012. Observem como nos últimos meses as escalas realmente aumentaram. Certamente esta não é uma situação pontual, é sistêmico. Tem boi na praça, pessoal.
Este é o reflexo das fêmeas retidas entre 2006 e 2010, e que agora aparecem na forma de bois terminados e bois magros. Não tenho dúvida de que isso ocorre, sabem por que? Porque seria muita coincidência retermos fêmeas por 4-5 anos e depois disso começar a aparecer boi só porque o frio nos atrapalhou ( e como atrapalhou!) ou porque a cigarrinha atacou (e como atacou!). É o efeito do ciclo pecuário, pessoal.
O consumo interno continua fazendo a sua parte, apesar de os preços no varejo não ajudarem muito. Observem:
Vejam bem, o boi caiu 6,5% no último ano, a carne no atacado recuou 2,1%. E enquanto isso o consumidor aumentou 1,4%! Nosso consumidor foi o verdadeiro super-herói, principalmente quando consideramos que nossas exportações não têm ido nada bem, ou seja, saímos de uma relação de 25% exportado e 75% de produto destinado ao mercado interno para uma relação atual de 15%/85%.
A questão é que aparentemente a oferta de animais continuará a dar seus sinais de aumento, conforme avança o ciclo pecuário. É o fim do mundo? O boi não subirá mais?
Não!
Mesmo em fases de baixa dos ciclos pecuários, a safra e a entressafra se fazem sentir. O que temos é que ocorrem entressafras com ímpeto mais modesto de alta e safras que nos deixam mais chateados. É claro que temos safras em que o preço sobe (como em 2010) e entressafras em que o preço cai (como em 2009). Mas na maioria dos casos, ainda trabalhamos com a sazonalidade.
Tem quem diga que não temos mais isso por causa do confinamento e tal, mas como pode ser, se confinamos algo em torno de 10% da produção, apenas?
Pecuária tem tudo a ver com o clima. Não tem como fugir dele. E com 90% da produção extensiva, permanecemos à mercê de São Pedro.
O gráfico 3 mostra em cinza as safras e em azul as entressafras. Fica claro que na maior parte das vezes, tivemos preços em queda na safra e preços em alta na entressafra.
Bom, enfim. Deu pra entender. Esse papo está ficando repetitivo. Só queria marcar bem o meu ponto de vista. Talvez alguém discorde e seria interessante conversar sobre isso.
Bom, para o curto-prazo o que temos?
Temos que pela primeira vez desde agosto de 2010 a Pessoa Jurídica Financeira possui uma fatia comprada do mercado maior do que a Pessoa Física. Isso é importante. A PJF está com 39,85% das compras na mão. Como eu disse há algumas semanas, significa que temos gente grande brincando com um mercado pequeno. Por isso nas últimas sessões o mercado físico recuou, mas o futuro não conseguiu acompanhar.
Demorei tanto para enviar a coluna hoje pois só estava esperando sair o relatório de posicionamento dos players pra termos a informação mais fresca possível nas mãos. Agora sabemos.
O que isso quer dizer? Normalmente isso sugere um viés de sustentação para os futuros no curto-prazo. Vamos acompanhar!
Para terminar, gostaria de parabenizar Bebedouro – SP, minha cidade amada, por completar 128 anos exatamente nesta data, 3 de maio. Hoje, conversando com uma amiga, percebi que nasci no centenário de Bebedouro. Legal, não é? Tá aí uma foto que tirei num fim de tarde.
Bom, por enquanto é isso. Abraços e até a próxima semana
FONTE: LYGIA PIMENTEL
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