terça-feira, 20 de novembro de 2012

Entenda mais sobre as exportações de gado vivo da Austrália e sua importância para o país (Rabobank)


A suspensão da exportação de gado vivo da Austrália para a Indonésia em junho de 2011 causou diversas mudanças para a indústria pecuária do norte da Austrália. Apesar do objetivo de autossuficiência em carne bovina do Governo da Indonésia, o fortalecimento da economia e o maior consumo desta carne sugerem que importação de animais vivos para complementar a produção doméstica poderá ser necessária.
Entretanto, com as cotas restritas de importação do Governo da Indonésia, a indústria do norte da Austrália está sendo desafiada a produrar por mercados alternativos. Embora parte da perda da demanda tenha potencial para ser complementada por outros mercados no Oriente Médio e Sudeste da Ásia, a da Indonésia continua sendo prejudicial.
A renegociação dos termos comerciais de acordo com as novas regulamentações, a falta de infraestrutura, o dólar australiano historicamente elevado e a forte competição de outros fornecedores limitam oportunidades para expansão comercial em muitos desses mercados no curto e médio prazo. Ao mesmo tempo, o transporte de gado do norte da Austrália ao sul do país é uma alternativa menos lucrativa e está sendo praticada.  A indústria do norte da Austrália se tornou muito dependente do mercado da Indonésia nas ultimas décadas, enquanto as exportações para mercados alternativos declinaram.
Oportunidades de mercado
Turquia
Na Turquia, os preços elevados para carne bovina como resultado da maior demanda e redução do rebanho, têm levado a novos investimentos no setor pecuário nos últimos dois anos. Embora a maioria dos produtores do país ainda esteja caracterizada por fazendas de pequena escala, grandes empresas têm criado fazendas comerciais e confinamentos, impulsionando a demanda por importações de gado vivo.
Entretanto, embora as exportações australianas à Turquia tenham crescido em 2010/11, a maioria do gado exportado à Turquia é de Bos taurus (taurinos) do sul da Austrália, deixando uma oportunidade limitada de mercado para a indústria pecuária do norte da Austrália que produz principalmente Bos indicus (zebuínos).
Além disso, a maior competição com outros fornecedores e dificuldades de regulamentação levaram as exportações de gado à Turquia a cairem mais de 70% de julho a dezembro de 2011/12 comparado com o mesmo período de 2010/11, e poderão limitar a futura expansão comercial.
O Governo da Turquia manteve uma política restritiva de importação de produtos pecuários na última década, permitindo somente importações de gado leiteiro e de corte de um número limitado de países, incluindo a Austrália. Ainda mais recentemente, o Estado reconheceu que haverá déficit de carne vermelha em 2013 se a Turquia não aumentar seu rebanho e o Governo permitir a importação de novos mercados, como Hungria, França, Áustria e Brasil.
O aumento das vendas australianas para a Turquia tem sido lento devido a falta de infraestrutura, tradições religiosas e pequena participação da Austrália no mercado turco. Estima-se que aproximadamente 40% dos abatedouros da Turquia não são registrados ou controlados, particularmente em áreas rurais. O costume religioso “adak” representa uma grande proporção dos abates não controlados.
Israel
Embora Israel tenha sido um grande importador de gado australiano nos dois últimos anos, este mercado prefere animais taurinos fornecidos pelo sul da Austrália. No entanto, Israel tem sido um mercado mais importante para as exportações totais de gado vivo australiano em 2011/12, comprando aproximadamente 27.000 aniamis de julho a dezembro, substituindo a Turquia como o segundo maior destino das exportações.
O status de livre de doenças da Austrália dá ao país preferência sobre outros fornecedores e a renda crescente também sugere que o consumo per capita de carne bovina em Israel pode crescer, criando oportunidades para a indústria pecuária australiana.
Egito
Historicamente, o Egito tem sido importante para as exportações australianas, registrando vendas anuais de mais de 200 mil cabeças de 1999 a 2001. Entretanto, a intervenção do Governo e o alto preço do gado australiano têm influenciado o número de animais exportados na última década. As exportações da Austrália ao Egito declinaram mais de 70% com relação ao ano anterior em 2011. No entanto, considerando a atual escassez de alimentos no Egito e a redução na produção pecuária, muitos produtores australianos estão otimistas para oportunidades no mercado egípcio.
A produção local limitada e a competitividade de preços com carne de cordeiro e de frango deixaram a carne bovina com pequena proporção no consumo total de proteína animal no Egito, sendo maior por pessoas de alta renda. O consumo per capita médio de carnes vermelhas foi estimado em 8,5 quilos/ano. Entretanto, o segmento de maior renda considera a carne congelada importada como um produto inferior e a maioria do rebanho pecuário do Egito é mantido para a produção leiteira. Isto provavelmente levará a uma contínua importação de gado pelo país para a produção de carne bovina.
Filipinas
As Filipinas viram um forte crescimento na demanda por carne bovina nos anos noventa com o surgimento de fazendas comerciais e confinamentos, forte crescimento populacional e regulamentações mais liberais de importação, tornando-o o segundo maior destino de gado vivo da Austrália neste período.
As exportações da Austrália às Filipinas cresceram de aproximadamente 20.000 cabeças de gado em 1990/91 para 200.000 cabeças em 1999/00. Entretanto, na última década, as exportações às Filipinas declinaram 90%, para aproximadamente 16.000 cabeças em 2010/11. Isso é resultado do maior preço do gado australiano e de uma desvalorização do peso contra o dólar australiano, tornando a exportação de gado vivo meno lucrativa para as fazendas comerciais, confinamentos e pequenas empresas. Ao mesmo tempo, o maior preço no varejo da carne bovina nas Filipinas levaram a uma substituição do produto por carne de búfalo, carne suína e de frango.
Malásia
A Malásia também tem histórico nas exportações de gado vivo australiano. A importação de gado vivo aumentou no começo da década anterior, alcançando o pico em 2002, de 91.000 cabeças. O pequeno tamanho do rebanho nativo da Malásia significa que existem maiores custos de mão de obra e insumos por cabeça de gado produzido domesticamente, aumentando sua dependência pela importação de gado vivo.
Entretanto, desde 2002, a demanda da Malásia declinou bastante. Similar ao que ocorreu nas Filipinas, a desvalorização da moeda local contra o dólar australiano e os maiores preços deixou o gado australiano menos competitivo com relação às proteínas animais substitutas, incluindo a carne de búfalo indiana, carne de frango e de peixe. Possivelmente, o gado exportado para a Indonésia pode ser direcionado para a Malásia e Filipinas, porém a  competição com a carne de búfalo da Índia (de menor preço) e com a carne bovina da América do Sul tornam as oportunidades de mercado limitadas.
Oportunidade na Indonésia
Considerando a previsão de forte crescimento econômico e aumento no consumo de carne bovina na Indonésia, os desafios para obter autossuficiência em longo prazo serão significantes. Apesar do aumento de importações de gado vivo para engorda para os confinamentos locais, a produção de gado da Indonésia é dominada por produtores de pequena escala, sensíveis ao preço.
A quantidade limitada de grandes áreas de pastagem e a baixa lucratividade média da atividade local limitam a expansão da produção doméstica de carne bovina. Além disso, muitas fêmeas produtivas são frequentemente abatidas e existe uma oferta limitada de animais machos para cria, tornando o processo de reconstrução do rebanho lento.
De acordo com o censo da Indonésia, existia aproximadamente 14,8 milhões de animais na Indonésia em 2011. O país inicialmente fixou a meta de autossuficiência de produção de carne bovina em 2010. Neste ano a meta foi revisada para 2014 com uma série de medidas. Restrições de peso do gado importado e redução das cotas de importação nos últimos três anos foram criadas para estimular o desenvolvimento da pecuária nacional.
A Austrália está preparada para fornecer gado vivo e carne bovina à Indonésia, considerando o excedente de carne bovina exportada, os altos padrões de biossegurança, proximidade geográfica e relações comerciais bem estabelecidas com a Indonésia.
Em contraste com muitos países do Sudeste da Ásia, a Indonésia é classificada como sendo livre de febre aftosa. Como resultado, somente países com status similares de livres de aftosa têm permissão para fornecer animais vivos e carne bovina à Indonésia. A escassez doméstica de carne bovina e a falta de fornecedores alternativos fortaleceu a dependência da Indonésia pelas exportações de gado e de carne da Austrália, que é livre de febre aftosa.
A Indonésia já considerou expandir suas importações pelo Brasil e Índia. Entretanto, muitas regiões destes países têm febre aftosa endêmica, limitando qualquer importação, pois colocaria a Indonésia em alto risco de contaminação. Esse ponto não deixa de ser um potencial risco para a indústria pecuária australiana.
Uma opção para o governo da Indonésia facilitar o acesso a seu mercado de carne bovina por países afetados pela febre aftosa seria aumentar a competição comercial por gado vivo e carne bovina importada. Isso provavelmente reduziria a vantagem competitiva da Austrália, e também reduziria as previsões para a indústria local de carne bovina na Indonésia, limitando as ambições de autossuficiência do país.
O consumo de proteína animal tende a ter uma forte correlação com o nível de renda, particularmente nos países em desenvolvimento, onde algumas fontes de proteínas animais são consideradas alimentos opcionais. Na Indonésia, a carne bovina é predominantemente consumida por pessoas de alta renda e por razões religiosas.
A escassa oferta de carne bovina doméstica e a subsequente dependência das importações, bem como os custos de produção relativamente altos, tornam a carne bovina a opção mais cara de proteína. O preço dos cortes frescos e congelados aumentaram nos últimos meses, devido à redução nas importações.
No entanto, o consumo de carne bovina na Indonésia tem crescido 6% ao ano nos últimos cinco anos, e existe forte previsão de crescimento, considerando a maior renda disponível, a população em expansão e a maior “ocidentalização” do setor varejista de alimentos.
As indústrias domésticas de frutos do mar e de frango são os maiores concorrentes da carne bovina na Indonésia. Estas indústrias têm custos menores de produção e preços varejistas do que a carne bovina, tornando-as a melhor opção de proteína animal para pessoas de baixa renda. A Indonésia é um dos maiores produtores de frutos do mar do mundo, e atualmente essas são as proteínas de maior consumo per capita. No entanto, a indústria está cada vez mais sob ameaça da pesca ilegal, da poluição da água e dos surtos de doenças.
O consumo de frango tem apresentado crescimento mais forte entre as proteínas animais consumidas na Indonésia na última década, considerando sua acessibilidade para a população de baixa renda e de classe média. Desconsiderando os frutos do mar, a carne de frango representa 44% da proteína animal consumida no país. Entretanto, existem riscos maiores para a saúde associados com o consumo de frango do que com o de outras carnes, por causa da gripe aviária. Embora a crise já tenha passado, a ameaça de outro surto continua existindo no país.
Apesar dos frutos do mar e frango deverem continuar dominando o consumo de proteína animal no curto e médio prazo, a influência consumista ocidental de alimentos no varejo na Indonésia e a penetração da carne bovina em cozinhas mais tradicionais deixam previsões favoráveis para o aumento do consumo de carne bovina no longo prazo.
O crescimento de supermercados, restaurantes e lojas de varejo de alto nível, além do setor de turismo, levam a uma crescente demanda por carne de alta qualidade. O crescimento destas redes de armazenamento deverá oferecer melhores oportunidades para importação de gado vivo e carne bovina pela Indonésia, particularmente considerando que a maioria da carne bovina vendida nesses novos estabelecimentos é importada.
Em uma base per capita, o consumo anual de carne bovina na Indonésia é relativamente baixo, de aproximadamente 2 quilos, um dos menores níveis médios per capita de consumo de carne bovina do Sudeste da Ásia e substancialmente menor que os 34 quilos per capita médios de consumo anual de carne bovina na Austrália em 2011. Embora a carne ainda seja um alimento opcional para cerca de 40% da população da Indonésia que vive com menos de dois dólares por dia, esse baixo nível de consumo per capita aumenta o potencial de crescimento para o consumo de carne bovina no país.
Os dados são do Rabobank, traduzidos e adaptados pela Equipe BeefPoint.

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