Na semana em que a China escolhia, por seus ritos próprios, as lideranças que irão comandá-la pelos próximos dez anos, eu estava em Pequim, inaugurando o escritório de representação da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Embora a sucessão política chinesa nem de longe venha carregada da dramaticidade e das incertezas que marcaram as eleições norte-americanas, o meu sentimento é que a nova direção da China vai liderar transformações muito mais amplas e profundas do que as que estavam, e estão, no horizonte da política norte-americana.
Nos Estados Unidos e na Europa, as margens de manobra de seus governantes se tornaram muito estreitas. Pode-se até dizer que seus governos estão limitados a ações puramente defensivas, e não seria incorreto afirmar que americanos e europeus estão abandonando uma visão de futuro. Tudo o que eles querem, neste momento, é reencontrar a vida que tinham no passado e se perdeu com a crise.
O ritmo e a dimensão do crescimento chinês nas últimas décadas são o fenômeno histórico mais impressionante da atualidade, com suas reais consequências.
O crescimento chinês nunca foi bem compreendido. Sobre ele sempre pairou a incerteza quanto à sua sustentabilidade. O regime autoritário parecia, ao mundo, incapaz de fazer a autocrítica necessária às correções de rumo. Mas, se há uma coisa que os chineses têm sabido fazer, é se adaptar a novas situações.
A continuidade do crescimento terá que se basear na ampliação do mercado interno, que, por sua vez, dependerá do consumo das famílias e dos gastos públicos nas áreas sociais.
A intensidade desse crescimento terá que ser reduzida. Nos dez anos da gestão da atual liderança, o PIB (Produto Interno Bruto) chinês, medido em dólar, simplesmente quadruplicou. Para 2020, a meta anunciada é a duplicação do PIB de 2010, acompanhada também da duplicação da renda por habitante.
A Ásia –e os Estados Unidos– vão sentir o peso dessa influência nova e alguns conflitos surgirão daí, com repercussão também no comércio e na política de investimentos.
O Brasil, longe dos palcos desses conflitos e distante dessa agenda conturbada, pode construir relações econômicas muito mais profícuas com a China. Bastante mais diversificada e complexa do que as relações puramente comerciais que tem hoje com a nação chinesa.
Para isso, será necessário que, estrategicamente, sejamos capazes de responder com toda a agilidade a uma indagação: o que queremos da nova China que está surgindo?
Kátia Abreu é senadora (PSD-TO) e a principal líder da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Escreve aos sábados no caderno ‘Mercado’.
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