quinta-feira, 25 de julho de 2013

O brinco do boi gaúcho é diferente do brasileiro


por Fernando Furtado Velloso

Novamente, volta à imprensa com polêmica o projeto de lei para a identificação compulsória dos bovinos no RS. Passados dois anos de discussões na Câmara Setorial da Carne Bovina com representantes de toda cadeia (produtores, universidades, institutos de pesquisa, indústria frigorífica, etc.), agora, surgem gritos contrários a este trabalho, pois é algo que foi pouco discutido (?), porque vai gerar trabalho e futuros custos ao produtor.

Pois bem, apesar do tema identificação animal e rastreabilidade serem bastante batidos e até cansativos entre nós, não há como escapar. O RS tem uma pecuária distinta do resto do Brasil, tem menor escala e a vocação e oportunidade para explorar o mercado de carne de qualidade. Porém, não irá avançar neste sentido se igualando á pecuária brasileira, mas, sim, se diferenciando com produto realmente de qualidade, com mais garantias de origem, com maior transparência na produção e também com a necessária identificação de seu rebanho. Os resistentes (ou descrentes em mudanças) irão alegar que é impossível e desnecessário. O nosso vizinho Uruguai adotou a identificação compulsória de todo o rebanho como uma das formas para ampliar o mercado de sua carne e, hoje, exporta mais que a Argentina e acessa muito mais países que o Brasil. A dimensão do país e o tamanho do rebanho são similares aos nossos e não posso aceitar que eles tenham mais condições ou capacidade que nós. Até mesmo oportunidades de exportação de bovinos vivos são perdidas pelo RS pela falta de um sistema de identificação oficial.

Desde 2007, Santa Catarina é considerada zona Livre de Aftosa Sem Vacinação pela OIE (Organização Internacional de Epizootias) e, para alcançar este status, o estado teve de identificar em um programa oficial todos os bovinos, para assim garantir que não há entrada de gado de outros estados. E quando digo ˝todos˝, me refiro, sim, a 100% dos bovinos daquele estado, ou aproximadamente quatro milhões de cabeças. Logo, é possível fazer este trabalho no Brasil e de forma independente como estado.

Somos um povo cheio de virtudes e o nosso bairrismo é louvável, porém temos diversos genes do SOU CONTRA que nos prejudicam muito. O projeto de lei que está sendo apresentado à Assembleia Legislativa não é uma proposta isolada do governo, mas sim uma necessidade para nossa pecuária e algo que foi exaustivamente discutido na Câmara Setorial da Carne Bovina. Na onda de protestos, alguns podem dizer que a ″Câmara da Carne Não Me Representa″, e assim seguiremos como a história do balde gaúcho de caranguejos. Por hora, este trabalho foi até desvinculado do possível Instituto Gaúcho da Carne para que ganhássemos agilidade. Contra o argumento que irá gerar mais trabalho fico até sem jeito. Trabalho? Existe meio de melhorar a nossa pecuária sem trabalho? Não vejo. Nesta linha de raciocínio, uma via é arrendar para a soja. Assim, poderemos matear e contrariar tranquilos. Pense bem, o brinco que serve para o boi gaúcho não é o mesmo do boi brasileiro.

fonte:  Jornal Folha do Sul

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