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Foto: Divulgação/Assessoria |
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Do Pasto ao Prato_Set 2013
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Por Fernando Furtado Velloso
A nossa comercialização de bovinos de reposição ainda é muito na base da pedra bruta. Os leilões de gado comercial pouco informam sobre as características dos animais e os produtos são tratados como se fossem iguais (novilha é novilha, bezerro é bezerro, vaca é vaca e por aí vai). Ainda muitos leilões não disponibilizam informações de peso dos animais e quando esta informação está presente o comprador deposita pouca fé no dado, pois tem receio de possíveis “ajustes”, etc. Pois bem, desta forma, a venda de animais de reposição é feita em um sistema de baixa confiança e de necessária cautela e proteção: sempre há temor em relação ao peso real dos animais, em relação à padronização dos lotes (será que não tem algum refuguinho no meio deste lote...). A consequência desta situação é que muitas vezes igualamos em valor produtos de qualidade diferente e pouco valorizamos o que tem muita qualidade. O resultado em reais por kg é que o muito bom vale igual ou quase igual ao que é médio. A necessária proteção que o comprador se impõe não favorece uma lógica de produzir e ofertar animais e lotes cada vez melhores.
Alguns avanços básicos e simples podem ajudar a quebrar este ciclo vicioso para a venda de animais. Disponibilizar mais e melhores informações tem bom valor: no caso do peso dos animais informar além da média os valores mínimos e máximos (nos dá ideia da padronização dos lotes), descrever mais detalhadamente a composição dos lotes em idades e raças ou cruzamentos (ex - Bezerros: 12 Angus, 12 Hereford e 01 Cruza Leiteiro). É preferível ser transparente e informar que no lote há 01 animal de menor valor comercial do que insistir numa lógica de que “se passar, passou...”. Na questão sanitária informar as vacinas e tratamentos realizados no lote demonstra organização e tem relevância para o comprador. Estes exemplos citados acima são simples e passíveis de execução em qualquer leilão, seja por um Sindicato Rural ou por uma empresa leiloeira.
As certificações de produto e processo são naturalmente ferramentas mais elaboradas e de maior garantia. Este é o próximo passo para melhor comercializar animais. Diversos países já trabalham com certificações que agregam valor aos animais: de garantia das informações (certificando o peso e a qualidade dos animais em um lote), de sanidade (garantido que o protocolo sanitário x foi realizado nos animais), de genética (garantido que os animais são de tal raça ou cruzamento), de genética superior (garantindo que os animais são filhos dos melhores touros em suas raças e comprovados por programas de avaliação genética), de sistema de produção (garantindo que os animais foram produzidos de forma orgânica, à pasto, com suplementação, etc).
Os EUA e Uruguai são países que estão bem à frente de nós neste assunto. Somente uma empresa americana, a Superior Livestock (Dallas, TX), comercializa aproximados 2 milhões de bovinos por ano com estas certificações e em leilões transmitidos por TV ou Web. No Uruguai várias empresas operam neste sistema, porém com menor grau de complexidade nas informações disponíveis. O grande volume de animais comercializados nestes leilões permitiu ao Uruguai reunir todas as informações em um banco de dados único (Associação de Consignatários de Gado) e prover atualização semanal de mercado para todos os pecuaristas. Na página desta entidade estão os preços para todas as categorias comercializadas com riqueza de informações (mínimos, médios, máximos, tendência, etc). O avanço não ocorre só para os leilões, mas para o setor como um todo. Quanto mais transparentes e disponíveis as informações maior é a confiança do comprador.
Enganam-se os que pensam que a transmissão de um leilão é o grande avanço. Transmitir a venda de animais tem pouco ou nenhum impacto sem o recheio de informações sobre o produto e sem a confiança do comprador. Mudar este modelo de venda de animais de reposição é um processo lento, mas necessário. Com as melhorias em transparência e informação ganha o vendedor, ganho o comprador e ganha a pecuária como um todo.
Publicado na Revista AG, Coluna Do Pasto ao Prato (Setembro, 2013) |
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