segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

“Grampo” australiano pode ajudar Brasil nas exportações de carne bovina


O ministro de comércio da Indonésia, Gita Wirjawan, disse ao Valor que o governo pediu ao Parlamento que faça uma revisão geral sobre a legislação para permitir que carne do Brasil e da Índia sejam autorizadas a entrar no mercado indonésio, mesmo se esses países tiverem casos de febre aftosa em alguma parte do território.

Há anos o Brasil tenta ter acesso ao mercado indonésio, sem sucesso. Uma decisão da Corte Constitucional da Indonésia estabeleceu o critério de importação de carne bovina, que se choca por exemplo com a regra internacional de regionalização de questões sanitárias. Assim, se um país tem um caso localizado de febre aftosa, todo o território é impedido de fornecer carne à Indonésia. Isso impõe limites e faz o país importar hoje apenas de certos mercados.

Agora, a situação mudou, e o ministro deixou claro que "isso tem a ver com esse caso de espionagem". Os indonésios se sentem traídos pelo parceiro australiano no rastro das revelações de que os celulares do presidente, de sua esposa e de assessores mais próximos eram grampeados pelo serviço secreto australiano. Para o ministro, a ação australiana prejudicou a confiança dos indonésios.

Segundo Wirjawan, a revisão na legislação pode demorar até um ano. A partir daí, os exportadores brasileiros poderão enfim vender para um mercado de 240 milhões de habitantes com renda per capita em expansão e novos hábitos alimentares, desde que Jacarta considere que a carne é segura.

"Na verdade, temos pressa, mas a revisão toma um certo tempo", disse o ministro, que conhece bem o Brasil e foi o único integrante do atual governo que visitou o país, com uma delegação de empresários.

Segundo o embaixador brasileiro em Jacarta, Paulo Soares, o ministro "é um aliado nosso" e sua ação de fato vai na direção da abertura do mercado para o Brasil.

Certos analistas notam, porém, que não se deve esperar grandes exportações para a Indonésia. O governo tem metas de autossuficiência para vários produtos agrícolas. No caso da carne bovina, o objetivo é que 90% da oferta venha da produção local. Ocorre que, no momento, o país tem um dos custos mais elevados no mundo para produzir carne bovina para consumo interno. A expectativa é que a Indonésia só alcançará 52% de autossuficiência em 2014.

O aceno do ministro indonésio foi bem recebido pelos exportadores brasileiros de carne bovina. Na última semana, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (ABIEC), Antônio Camardelli, afirmou que iria sugerir ao governo brasileiro a abertura de um painel contra a Indonésia na Organização Mundial do Comércio (OMC) por conta da resistência do país asiático à entrada da carne nacional em seu mercado.

"A notícia é excelente", afirmou Camardelli. Segundo ele, a oficialização da decisão do governo indonésio em um "processo formal" significará a desistência da sugestão de abertura do painel. "Vamos tratar de oficializar essa notícia com o governo. Se ela for positiva, vamos fazer uma visita ao país e nos colocar a disposição", disse.

Apesar de otimista, Camardelli fez ressalvas. Segundo ele, a Indonésia já fez acenos ao Brasil que ficaram apenas no campo das promessas em outras ocasiões. O caso mais emblemático ocorreu em 2011, quando os indonésios chegaram a trocar certificados e definir uma lista de unidades que poderiam exportar carne bovina para a Indonésia. "A Austrália teve problema de bem-estar animal e foi impedida de exportar animais em pé naquela ocasião", lembrou. Mas o processo de liberação parou nas certificações e de lá não avançou mais, acrescentou.

No mercado, as projeções mais otimistas apontam que o Brasil poderia exportar cerca de 30,0 mil toneladas de carne bovina num primeiro ano à Indonésia. Ao todo, o Brasil já exportou 1,35 milhão de toneladas em 2013.

Fonte: Valor Econômico

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