Patrícia Comunello
As vendas gaúchas de carne bovina para o Exterior mostram avanço mais vigoroso do que a média do País no segmento até setembro. Enquanto as divisas brasileiras totais do produto cresceram 11% nos nove primeiros meses do ano (alcançando um total de US$ 5,3 bilhões), o faturamento da exportação local subiu quase 40%, chegando a US$ 50,5 milhões, ante US$ 36,6 milhões do mesmo período de 2013. O volume mostrou expansão ainda maior, de 42,13%, conforme dados levantados pelo Centro de Informações e Estatísticas da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE). A quantidade enviada pelo País cresceu 8%.
O desempenho da carne bovina destoou também dos demais rebanhos, com maior representação na balança gaúcha, mas que fecharam o ciclo de nove meses com recuos. Suínos registraram US$ 244,4 milhões, queda de 18,3%, frente ao ano anterior, associada à menor oferta de matéria-prima, e frangos geraram divisas de US$ 915,2 milhões até setembro, 6,5% abaixo da receita de janeiro a setembro de 2013. Segundo o economista Guilherme Risco, que elaborou o comparativo pela FEE, o item carnes desossadas congeladas despachadas para Hong Kong, Egito, Irã e Venezuela foi decisivo na arrancada este ano. “Foram US$ 11,9 milhões a mais que 2013, o que explica o crescimento”, contrastou Risco.
Outros destaques no fluxo externo da cadeia bovina, na qual o Brasil é líder mundial, foi a retomada dos embarques para o Irã, que passou de receita zerada no período em 2013 para US$ 4,5 milhões até setembro, ficando em terceiro nas aquisições. Egito ganhou peso, ficando em segundo lugar (US$ 5,8 milhões) e Hong Kong firma-se como principal destino, com US$ 25,5 milhões, metade da divisa. Até o Uruguai, considerado modelo na gestão comercial e marketing de carne de qualidade, buscou mais matéria-prima no vizinho gaúcho, somando US$ 2,4 milhões, 143% a mais que o ano passado.
Para ampliar ainda mais as vendas aproveitando a alta de quase 150% nos preços internacionais desde 2003, a cadeia produtiva da carne bovina gaúcha almeja mais espaço no mercado europeu, que paga mais para ter carne de linhagem britânica (raças Hereford e Angus, por exemplo, com maior rebanho no Estado), mas exige mais também. A União Europeia (UE) comprou US$ 6,2 milhões até setembro (ante US$ 4,9 milhões de 2013), mas o avanço em outras regiões rebaixou a fatia europeia, que passou de 13,6% da receita (ano passado) para 12,3% até setembro.
O aproveitamento desse fluxo envolve aumento do rebanho rastreado (cumprindo normas europeias), demanda que o Marfrig, com maior volume de abates no Estado e com três plantas em operação habilitadas a exportar, coloca como essencial para manter aberto o frigorífico de Alegrete. Grupo criado por iniciativa do Sindicato Rural de Alegrete e que reúne produtores, industrias e governo pretende buscar formas de ampliar a cobertura do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). Mercado interno com mais consumo de carne e valorização de preços também disputa a oferta de carcaças, cujo volume se mantém estável nos últimos anos.
O desempenho da carne bovina destoou também dos demais rebanhos, com maior representação na balança gaúcha, mas que fecharam o ciclo de nove meses com recuos. Suínos registraram US$ 244,4 milhões, queda de 18,3%, frente ao ano anterior, associada à menor oferta de matéria-prima, e frangos geraram divisas de US$ 915,2 milhões até setembro, 6,5% abaixo da receita de janeiro a setembro de 2013. Segundo o economista Guilherme Risco, que elaborou o comparativo pela FEE, o item carnes desossadas congeladas despachadas para Hong Kong, Egito, Irã e Venezuela foi decisivo na arrancada este ano. “Foram US$ 11,9 milhões a mais que 2013, o que explica o crescimento”, contrastou Risco.
Outros destaques no fluxo externo da cadeia bovina, na qual o Brasil é líder mundial, foi a retomada dos embarques para o Irã, que passou de receita zerada no período em 2013 para US$ 4,5 milhões até setembro, ficando em terceiro nas aquisições. Egito ganhou peso, ficando em segundo lugar (US$ 5,8 milhões) e Hong Kong firma-se como principal destino, com US$ 25,5 milhões, metade da divisa. Até o Uruguai, considerado modelo na gestão comercial e marketing de carne de qualidade, buscou mais matéria-prima no vizinho gaúcho, somando US$ 2,4 milhões, 143% a mais que o ano passado.
Para ampliar ainda mais as vendas aproveitando a alta de quase 150% nos preços internacionais desde 2003, a cadeia produtiva da carne bovina gaúcha almeja mais espaço no mercado europeu, que paga mais para ter carne de linhagem britânica (raças Hereford e Angus, por exemplo, com maior rebanho no Estado), mas exige mais também. A União Europeia (UE) comprou US$ 6,2 milhões até setembro (ante US$ 4,9 milhões de 2013), mas o avanço em outras regiões rebaixou a fatia europeia, que passou de 13,6% da receita (ano passado) para 12,3% até setembro.
O aproveitamento desse fluxo envolve aumento do rebanho rastreado (cumprindo normas europeias), demanda que o Marfrig, com maior volume de abates no Estado e com três plantas em operação habilitadas a exportar, coloca como essencial para manter aberto o frigorífico de Alegrete. Grupo criado por iniciativa do Sindicato Rural de Alegrete e que reúne produtores, industrias e governo pretende buscar formas de ampliar a cobertura do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). Mercado interno com mais consumo de carne e valorização de preços também disputa a oferta de carcaças, cujo volume se mantém estável nos últimos anos.
Segundo o Ministério da Agricultura (Mapa), apenas 153 mil bovinos de 139 propriedades gaúchas estavam registrados no Sisbov em 2013, menos de 4% do total rastreado no País, de 4,2 milhões de cabeças. O Estado responde hoje por 7% do rebanho bovino nacional (corte e leite), com total de 200 milhões de cabeças. Em outubro, técnicos da UE inspecionaram propriedades e frigoríficos no País. Foram duas fazendas (Bagé e Dom Pedrito) e uma unidade de abates (Bagé) no Estado. O Mapa informou que os auditores, ligados ao órgão europeu que fiscaliza alimentos de origem a animal, não finalizaram o relatório, mas teriam considerado o Sisbov “robusto com bons controles oficiais”.
Programas de certificação de raças britânicas atendem europeus
Consagrado como maior exportador global de carne bovina, o Brasil atingiu o status vendendo majoritariamente carcaça de Nelore, raça que domina os maiores rebanhos no Centro-Oeste e Norte. De origem índica, o Nelore atende o mercado chamado de commodity da carne. Os programas de qualidade e certificação de raças britânicas, como Hereford e Angus, com maior plantel no Estado, buscam a diferenciação para entrar com tudo na praça europeia explorando o quesito qualidade.
No recente Salão Internacional da Alimentação (Sial), em Paris, na França, maior feira da área no mundo, representantes dos programas das raças detectaram o baixo conhecimento sobre selos de certificação e mesmo da carne produzida. O gerente do programa Carne Pampa, da Associação Brasileira de Hereford e Bradford, Alfredo Drisen, foi a Sial e confirmou que há espaço para se credenciar a compras de traders importadores, com os quais estabeleceu contato no salão.
“O trade conhece a carne de nelore. Na Sial, mostramos que, além do produto commodity, podem obter a mesma carne de qualidade produzida pelo Uruguai e pela Argentina”, observou o gerente da Carne Pampa. A referência à matéria-prima dos vizinhos dá a dimensão da percepção que compradores têm de cada produtor. “Os importadores associam carne de qualidade a estes dois mercados e a Austrália. No Uruguai, 100% da carne é de qualidade e lá foi criado o Instituto da Carne. Das 44 milhões de cabeças abatidas ao ano no Brasil, 1% é de programas certificadores”, compara o representante da Carne Pampa.
Drisen avalia que o trabalho das associações aporta quesitos como procedência e certificação buscados pela UE. Além disso, há exigência de rastreabilidade. “Mas só funciona se tiver integração entre produtores, indústria e governo”, aponta o gerente do programa do Hereford, que deve certificar 50 mil cabeças em abates em 2014, todos feitos só no Estado. O Paraná terá o primeiro frigorífico no Carne Pampa, em Pato Branco. O rebanho de Hereford e Bradford é estimado em 3,5 milhões de animais, dos quais 2,5 milhões em propriedades gaúchas.
O presidente da Associação Brasileira de Angus, raça com maior abrangência entre as britânicas, Paulo de Castro Marques, avalia que o País está alterando o conceito e já briga pelo fluxo de matéria-prima de qualidade. O programa Carne Angus Certificada, criado há 11 anos, deve alcançar 300 mil cabeças em 2014. O crescimento de cruzamentos com nelore e exportação de genética por propriedades do Estado a outras regiões deve acelerar a oferta. A venda cresceu 15%, e o Angus lidera o mercado de inseminação. Antes, a raça Nelore reinava.
O dirigente garante que 100% dos animais classificados são inspecionados. “O protocolo é rigoroso, e a carcaça sofre inspeção antes e depois do abate. Se não tiver qualidade, é enquadrada como commodity”, explica Marques. O produtor recebe bonificação de, no mínimo, 9% do valor da arroba, podendo chegar a 17% e 18%. No Exterior, a abertura de mercado à carne in natura brasileira nos Estados Unidos, tratativa que envolve governo e Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) com a representação norte-americana, pode ampliar o acesso a regiões que primam pela qualidade, como a UE. “Se vende aos EUA pode vender a qualquer um”, justifica Drisen.
No recente Salão Internacional da Alimentação (Sial), em Paris, na França, maior feira da área no mundo, representantes dos programas das raças detectaram o baixo conhecimento sobre selos de certificação e mesmo da carne produzida. O gerente do programa Carne Pampa, da Associação Brasileira de Hereford e Bradford, Alfredo Drisen, foi a Sial e confirmou que há espaço para se credenciar a compras de traders importadores, com os quais estabeleceu contato no salão.
“O trade conhece a carne de nelore. Na Sial, mostramos que, além do produto commodity, podem obter a mesma carne de qualidade produzida pelo Uruguai e pela Argentina”, observou o gerente da Carne Pampa. A referência à matéria-prima dos vizinhos dá a dimensão da percepção que compradores têm de cada produtor. “Os importadores associam carne de qualidade a estes dois mercados e a Austrália. No Uruguai, 100% da carne é de qualidade e lá foi criado o Instituto da Carne. Das 44 milhões de cabeças abatidas ao ano no Brasil, 1% é de programas certificadores”, compara o representante da Carne Pampa.
Drisen avalia que o trabalho das associações aporta quesitos como procedência e certificação buscados pela UE. Além disso, há exigência de rastreabilidade. “Mas só funciona se tiver integração entre produtores, indústria e governo”, aponta o gerente do programa do Hereford, que deve certificar 50 mil cabeças em abates em 2014, todos feitos só no Estado. O Paraná terá o primeiro frigorífico no Carne Pampa, em Pato Branco. O rebanho de Hereford e Bradford é estimado em 3,5 milhões de animais, dos quais 2,5 milhões em propriedades gaúchas.
O presidente da Associação Brasileira de Angus, raça com maior abrangência entre as britânicas, Paulo de Castro Marques, avalia que o País está alterando o conceito e já briga pelo fluxo de matéria-prima de qualidade. O programa Carne Angus Certificada, criado há 11 anos, deve alcançar 300 mil cabeças em 2014. O crescimento de cruzamentos com nelore e exportação de genética por propriedades do Estado a outras regiões deve acelerar a oferta. A venda cresceu 15%, e o Angus lidera o mercado de inseminação. Antes, a raça Nelore reinava.
O dirigente garante que 100% dos animais classificados são inspecionados. “O protocolo é rigoroso, e a carcaça sofre inspeção antes e depois do abate. Se não tiver qualidade, é enquadrada como commodity”, explica Marques. O produtor recebe bonificação de, no mínimo, 9% do valor da arroba, podendo chegar a 17% e 18%. No Exterior, a abertura de mercado à carne in natura brasileira nos Estados Unidos, tratativa que envolve governo e Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) com a representação norte-americana, pode ampliar o acesso a regiões que primam pela qualidade, como a UE. “Se vende aos EUA pode vender a qualquer um”, justifica Drisen.
fonte: Jornal do Comercio
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