Quase 10 mil bovinos foram para as pistas em menos de 60 dias na temporada de remates, com média de $ 8,5 mil para touros
por Joana Colussi
Cercados por um momento histórico da pecuária brasileira, os remates de primavera no Rio Grande do Sul exibiram faturamento recorde com pistas limpas e genética bovina de origem europeia valorizada. Os animais da raça sintética braford, que se adaptam melhor ao clima tropical do centro do país, alcançaram os maiores preços individuais nos leilões, puxados especialmente pelo maior interesse de compradores de fora do Estado.
Mesmo com oferta menor de animais na comparação com o ano passado, as vendas de touros na temporada superaram em 6,2% o faturamento de 2013, segundo balanço do Sindicado dos Leiloeiros Rurais do Rio Grande do Sul (Sindiler-RS).
— A produção de carne bovina vive momento especial. A demanda está aumentando e elevou o preço do boi gordo — avalia Jarbas Knorr, presidente do Sindiler-RS.
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No Estado, o preço médio do quilo do boi gordo estava em R$ 4,29 na semana passada, conforme dados levantados pela Emater. Há um ano, o balizador dos negócios na pecuária de corte era R$ 3,40. As médias do indicador Esalq/BM&FBovespa, que apura preços à vista para o setor e serve de referência ao mercado brasileiro, tem quebrado recordes nominais no último mês (sem considerar a inflação). Em 21 de outubro, a arroba do boi gordo negociado em São Paulo alcançou R$ 135,20, o maior valor real da série do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), iniciada em 1994.
— O aumento nas exportações e a redução de animais prontos para o abate ajudam a sustentar bons preços — completa Knorr, citando ainda a seca que prejudicou a engorda de animais no Sudeste.
Compras de olho no consumidor
Durante quase dois meses, foram colocados em pista aproximadamente 10 mil animais na temporada de remates no Estado. A média dos touros ficou em
R$ 8,5 mil, ante R$ 7,7 mil no ano passado. A alta é reflexo especialmente de lances de compradores de fora do Estado, que buscam a genética gaúcha para fazer cruzamento com o zebuíno nelore.
— O investimento é feito para atender ao mercado consumidor. As pessoas passaram a exigir carne de melhor qualidade — diz Carlos Waihrich, integrante do conselho técnico da Associação Brasileira de Brangus.
Proprietário da JMT Agropecuária, o pecuarista percebeu a maior procura por criadores de outras regiões no leilão realizado em Santa Maria. Das vendas de R$ 1,36 milhão com 150 touros e 170 fêmeas da raça brangus, mais de 60% foram para fora do Rio Grande do Sul.
— A introdução do sangue europeu em animais nelore está rendendo ganhos maiores aos pecuaristas do Centro-Oeste, por isso a procura vem aumentando ano a ano — completa Waihrich.
Braford se destaca
Resultante do cruzamento das raças hereford e brahman, os animais braford alcançaram as maiores médias da temporada, R$ 9,52 mil por touro.
— O desempenho do animal em Estados como Paraná e Mato Grosso tem sido muito satisfatório, estimulando criadores de todo o país a investir na raça — diz Fernando Lopa, presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford.
A maior média de braford (R$ 17 mil nos touros) foi da Estância Bela Vista, de Santana do Livramento: faturou R$ 1,4 milhão com 109 animais em pista. A valorização é justificada pela qualidade genética e maior facilidade de adaptação em diferentes regiões brasileiras.
— São animais que carregam sangue europeu e, por isso, resultam em carne melhor. Esse diferencial atrai investimentos maiores — destaca Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates, escritório que aumentou em 19% o faturamento em oito leilões realizados na temporada.
A redução no número de fêmeas para reprodução, em razão da expansão da soja, também ajudou a valorizar os preços.
Do catálogo à pista
No topo da pirâmide, os animais que recebem os maiores lances nos remates normalmente são aqueles que entram em pista com expectativa antecipada dos leiloeiros, proprietários e compradores. São bovinos disputados por centrais de inseminação e pecuaristas que desejam investir em animais diferenciados pela alta qualidade genética em por avaliações da raça em feiras do setor. As constatações são de pesquisa elaborada nesta temporada de remates pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (leia mais na página ao lado).
O levantamento, realizado pelo segundo ano consecutivo no Estado, constatou que os leilões que receberam lances de pecuaristas do Centro-Oeste, Sudeste e do Norte foram também os que alcançaram as maiores médias e faturamentos.
Peso perde força na hora da escolha
Com papel e caneta nas mãos e comportamento discreto, eles anotaram informações como dados genéticos dos animais ofertados, tempo que permaneceram em pista, lances recebidos e por quanto e para quem foram vendidos. Durante 50 dias, alunos e profissionais do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) estiveram nos 30 principais leilões da temporada de primavera e cruzaram dados de mil operações comerciais.
Com o objetivo de traçar o perfil dos compradores de touros, a pesquisa já tem alguns resultados. De acordo com as estatísticas levantadas, 80% desses animais comercializados nos remates não eram obesos — contrariando a máxima de que animais gordos são os mais procurados.
— Os pecuaristas estão se conscientizando de que os exemplares de maior peso não são necessariamente os mais funcionais a campo, pelo contrário. Touros não obesos expressam a realidade da pecuária gaúcha — ressalta Júlio Barcellos, coordenador do Nespro.
A preparação dos touros, alinhada às necessidades dos clientes, é uma tendência verificada nas ofertas colocadas em pista no Estado, acrescenta o professor. A pesquisa também revelou que mais de 50% dos compradores efetivos receberam convite pessoal do proprietário da cabanha para participar do remate.
— Todas as estratégias de marketing e divulgação ajudam a cativar clientes, mas o prestígio de ser valorizado é muito importante, pois cria um compromisso informal — acrescenta Barcellos..
Conforme o levantamento, a maioria dos compradores arrematou em média três touros por remate, evidenciando a disposição do produtor de média escala em qualificar o rebanho com animais de genética diferenciada. A pesquisa também identificou a presença maior de compradores de fora do Estado, representados nos remates por consultores de mercado.
Embora os compradores de fora tenham peso significativo nos negócios, o maior volume de compras ainda é feito por pecuaristas que criam os animais em um raio de 150 quilômetros do local dos remates — onde o manejo e o clima são semelhantes ao local de origem dos animais.
A exposição dos touros no momento da venda também é importante para a decisão de compra, pois o cliente valoriza animais com alto escore corporal e bem apresentados em pista.
fonte: ClicRBS
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