segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Balcão de Negócios: é safra de Touros!

Por Fernando F. Velloso 
É chegada a primavera e com ela uma agenda cheia de leilões de reprodutores (especialmente no RS) e de decisões a serem tomadas na renovação dos reprodutores para uso em plantéis (gado registrado) ou em rebanhos comerciais. As rodas de conversa e agora os populares grupos no WhatsApp e Telegram falam das expectativas dos preços, das velhas pressões de compradores e vendedores, etc. 

Em 2014, a nossa empresa foi procurada para desenvolvermos um curso a distância (os populares EAD) sobre “Comercialização de Reprodutores Angus”. Trabalhamos o assunto, reunimos material, discutimos a abordagem, redigimos módulos e capítulos, porém, infelizmente, o interesse do público foi pequeno e o projeto não vingou. Já que o assunto “comprar touros” renova-se a cada ano, trago agora alguns dos itens que são básicos e merecem atenção de quem compra ou vende esse produto.

Origem - Rebanho
Item de primeiro nível de importância na escolha do fornecedor de touros. A compra do reprodutor é a decisão de trazer o resultado de um programa de seleção para a sua casa. Todos os critérios de seleção resultam no touro que ele oferece ao mercado. O investimento em sêmen de qualidade superior, o descarte de animais menos produtivos, o cuidado com o temperamento, a dedicação em tabular corretamente os dados de desempenho e avaliação genética, a incorporação de novas tecnologias em seleção e tantas outras características estão sendo entregues no animal que buscamos anualmente. É até um pouco constrangedor falar na “idoneidade” e da “integridade” do rebanho produtor de genética, pois essas características deveriam ser obrigações de todo produtor rural, mas fique atento (infelizmente) a indícios de animais com “idade adulterada” (a velha caderneta de nascimento) e animais com pais diferentes do registro genealógico. Fala-se até em animais que sofreram cirurgias “estéticas”, fotos trabalhadas em editores de imagem (tal qual as musas das revistas masculinas), etc. Nada disso é muito bonito e buscar reprodutores nessas fontes tão “criativas” é com certeza mal negócio.
Registrados ou selecionados
Somente ter registro genealógico já não é mais suficiente para garantir uma produção eficiente e para atender as expectativas dos compradores. É necessário possuir um programa de seleção, oferecer animais resultantes desse processo e disponibilizar informações de desempenho e avaliação genética (DEPs). Os compradores de touros já perceberam muito bem essas diferenças e dão preferência, corretamente, a fornecedores que participam de programas de melhoramento genético, aplicam as informações em seus plantéis e oferecem animais superiores. A compra de produtos denominados “sem avaliação”, ou seja, sem informações de avaliação genética deve ser desencorajada. Puro de Origem (PO) ou Puro Controlado (PC) Os animais PO costumam ter a preferência de muitos criadores porque têm mais gerações conhecidas e convencionou-se classificá-los como superiores
aos PC. Com o avanço dos programas de melhoramento genético, foi possível verificar que nem sempre os animais PO são superiores aos PC, pois os dados nos mostram que o mais importante é o mérito genético do que o “livro” de registro ao qual pertencem. Sendo assim, muitos touros PC, hoje, estão liderando os sumários, ou seja, com progênies
comprovadamente superiores na raça. As centrais de inseminação também já perceberam muito bem essa situação e incorporam touros PC nas baterias. Sendo assim, fica claro entender que a maior atenção deve ser dada aos dados técnicos dos animais. 

Touros de 1, 2 ou 3 anos 
O produto padrão oferecido nos leilões de reprodutores é o touro de dois anos. Em um passado recente, o padrão era o de três anos, por ser mais rústico e apropriado à maioria dos pecuaristas. No futuro, espera-se que mais touros de um ano sejam comercializados, pois essa já é realidade em países de pecuária mais intensiva como os Estados Unidos. As condições da fazenda do comprador é que definirão a melhor idade do produto a ser comprado, pois atualmente os vendedores já preparam animais com bom desenvolvimento com um, dois ou três anos. Para os que dão preferência por touros de três anos, fica a recomendação de buscar animais usados pelos plantéis na cria do gado de seleção. Esses são, normalmente, os melhores de cada geração. 

Touros tosadosOs vendedores empenham-se em apresentar o melhor possível os animais e alguns adotaram a prática a “tosa”. Esteticamente, pode parecer bem para algumas pessoas, mas essa situação acaba por omitir informações relacionadas à saúde do pelo e ao tipo de pelame (fino, curto, grosso, lanudo), e essas são informações valorizadas pelos compradores, especialmente para os que desejam animais para uso em regiões onde a maior tolerância ao calor é necessária. Prefiro ver nos leilões animais com variações na apresentação dopelo (com “roupa de trabalho”) do que todos uniformizados por uma situação artificial de tosa. Na primeira situação está sendo dada preferência à transparência nas relações.
Dupla marca
Na raça Angus, os touros superiores geneticamente são identificados com a dupla marca (PP ou CACA). Da mesma forma, ocorre em outras raças em que os animais positivos (DECA 1 a 4, o mesmo que TOP 40%), são marcados com uma marca especial para diferenciá-los. Uma decisão muito simples e efetiva é sempre dar preferência para touros dupla marca. Já é uma garantia de desempenho superior conferida pela ciência. Junto a esse critério deve ser combinado o biótipo apropriado e a correção funcional, garantia que precisa ser dada pelo olho do selecionador e comprador. 

Particular ou leilões 
Alguns produtores têm resistência à compra em leilões, pois não se sentem confortáveis com a pressão do pregão. Consideram onerosas as comissões pagas e até possuem algum tipo de temor em relação ao funcionamento dos leilões. Os motivos são compreensíveis, porém, deve ficar claro que os melhores animais são ofertados nos leilões, pois o vendedor busca a melhor possiblidade comercial para esses animais. Sendo assim, a compra direta (fora de leilões) é uma opção, mas deve se admitir que se está optando por um grupo
inferior geneticamente.

Tecnologia embarcada
Já abordei neste espaço o crescente número de tecnologias disponíveis para a seleção de reprodutores (Avaliação Genética, Ultrassonografia de Carcaças, Marcadores Moleculares, Testes para Eficiência Alimentar, etc.). Dessa forma, os touros passaram à categoria de produtos com muita “tecnologia embarcada”. Avalie se seu fornecedor está atualizado em relação à tecnologia e se a propriedade dele detém condições de utilizar essas técnicas, e faça a saudável comparação dos reprodutores disponíveis no mercado.

* Publicado na Revista AG, Coluna do Pasto ao Prato (Edição Outubro/2015) 

Nenhum comentário: