terça-feira, 20 de outubro de 2015

Bom reprodutor = Satisfação (por João Paulo Schneider da Silva)

Por João Paulo Schneider da Silva - "Kaju" (Diretor Comecial da GAP Genética)

Não há o melhor touro, existe o animal mais adequado à fazenda

Quando se desenvolve a seleção genética, cuja missão é comercializar ou disponibilizar produtos agropecuários com diferencial em tecnologia e qualidade, objetivando, além da satisfação do pecuarista, o incremento da produtividade do setor, sempre com respeito ao meio ambiente, fica clara a atenção dada às expectativas do consumidor de touros. 

O touro requer um investimento razoável e, portanto, precisa gerar bons resultados econômicos ao pecuarista. Para que isso aconteça na plenitude, alguns cuidados e preocupações são considerados antes de se recomendar ou adquirir este ou aquele animal, raça ou o número de animais para cobrir uma vacada. 

É imperativo descobrir os objetivos de produção junto ao pecuarista que deseja o reprodutor, conhecer seu sistema de produção, considerar o ambiente onde está localizado, em termos de solo e clima, recursos de infraestrutura e mão de obra disponível. É como um médico quando escuta o paciente, sempre atento a todos os detalhes fornecidos para o diagnóstico, para apenas depois receitar, sem chances de erro, o melhor remédio. 

A diferença é que o médico trata a saúde humana. Transcreve um remédio e a doença logo sara, dependo da complexidade do problema, mas os resultados de um touro só aparecerão depois de muito tempo, nas crias geradas pelo animal. Também é muito importante se colocar no lugar do comprador. Um bom selecionador sempre terá muitos produtos na prateleira, mas nem sempre possui aquela solução buscada pelo invernista. Nesse caso, seria prudente não “forçar” a venda de produtos que apresentem limitações fisiológicas óbvias para determinadas regiões. 

Por outro lado, o comprador de touros deve conhecer claramente as necessidades de sua fazenda. Há pecuaristas que decidem mudar do sistema de recria para a cria do dia para a noite, ignorando os manejos sanitários e nutricionais e a quantidade de mão de obra que a atividade requer. Independentemente da qualidade de touro ou raça, não é preciso ser um expert para saber que essa história não vai ter um final feliz. Inúmeras vezes isso ocorre com produtores desavisados, que procuram touros ótimos para o cruzamento industrial sem ter qualquer conhecimento sobre tal sistema produtivo. Alguns teimosos ainda vão bater na porta de outro fornecedor menos cuidadoso e conseguir os animais. O problema é que o insucesso gerado recairá sempre sobre a raça utilizada, a qual fica taxada de ruim ou que não se adapta ao Brasil. Touros britânicos, por exemplo, não resolvem todos os problemas de uma fazenda pecuária. Há situações em que é prudente optar por um touro sintético ou um zebuíno, dependendo de quão desafiador seja o ambiente. 

Então, apenas após um sério e detalhado diagnóstico seria sábio sugerir o biotipo animal que mais se adapta ao interessado, entrando aí várias nuances da pecuária como subespécie do bovino (britânico, sintético, zebuíno), raça, idade, época de aquisição, quantidade necessária (relação touro/vaca) e até mesmo o padrão de preço do animal (se comercial ou adquirido em leilão). 

Assim como acontece nas invernadas, não existe a melhor raça e sim o indivíduo com a mais perfeita capacidade de transmitir as características desejadas. Seja qual for o animal, preto, branco ou colorido, não existe o melhor touro, o que há é o reprodutor mais adequado à propriedade, em termos de custo e benefício.
Qualidade espermática, bom perímetro escrotal, bons cascos, aprumos e libido são características indispensáveis e observadas por ocasião do exame andrológico. Mas até esse exame, o animal prova-se apenas quanto a sua capacidade de produzir terneiros. E como ficaria a qualidade esperada dos produtos? Nos dias de hoje, felizmente, os programas de melhoramento e avaliação genética já são bem difundidos e os criatórios mais procurados são aqueles que oferecem dados de desempenho de cada animal e assessoram os pecuaristas a interpretar o reprodutor corretamente para usá-lo em seu benefício particular. Com base nessas informações, podemos estimar com bastante acurácia o rendimento superior de touros avaliados em detrimento dos animais sem avaliação ou controle.
Essa maior qualidade será expressa nos bezerros que vão apresentar mais quilos de peso no desmame e no sobreano, maior precocidade na terminação, melhor conformação na carcaça, área de lombo superior (região do contrafilé), marmoreio intramuscular. Enfim, uma série de atributos de importânciaeconômica será extraída de um rigoroso trabalho de seleção, no qual grupos de animais são submetidos a oportunidades idênticas, com as diferenças ambientais isoladas. 

A garantia de qualidade de um reprodutor e a probabilidade de o mesmo transmitir seus genes passam necessariamente pelo rigor com que o selecionador atende as exigências do programa de avaliação genética do qual participa. Outro aspecto a considerar é o tamanho do rebanho submetido ao programa de seleção, pois quanto maior for a base, maiores serão a variabilidade genética e as possibilidades da seleção. Além disso, o tempo de seleção conduz a gerações mais avançadas e mais consistentes geneticamente. 

Resumindo a conversa, a credibilidade e a reputação da empresa que oferece touros é primordial, pois, mesmo com todos esses cuidados prévios, tratam-se de seres vivos, que são parecidos - mas não iguais - e estão sujeitos a quebrar qualquer previsão e estatística. Ganha relevância a compreensão e a parceria entre cliente e vendedor para ajustar acidentes e eventuais prejuízos. 

Antes de escolher um reprodutor no catálogo do leilão ou no shopping da fazenda, é essencial ser criterioso na interpretação das DEPs (diferenças esperadas na progênie), afinal, já é sabido que DEP de desmama é importante para quem produz bezerros, DEPs de peso ao sobreano são boas para quem quer produzir novilhos, assim como habilidade materna e perímetro escrotal são indicadores de fertilidade nas novilhas. Conhecer essas diferenças ajuda a acertar na compra. 

Garantir os resultados através de uma seleção objetiva e criteriosa leva a um vínculo indissolúvel de confiança. Com isso, é possível atender a verdadeira função social do negócio de touros: o incremento da produtividade do setor e a maior produção de carne de qualidade.
Dica essencial para acertar na compra de um bom reprodutor
Vistorie o animal sempre de baixo para cima e de trás para frente. No posterior, estão as carnes nobres do animal. Boa profundidade e arqueamento de costelas são qualidades essenciais para a funcionalidade do reprodutor. Se o animal tem pouco quarto traseiro, aprumo ou umbigo ruins, não é boa coisa. O formato da cabeça é o que menos importa!
UM BOM TOURO PRECISA TER:
  • Exame andrológico completo – bom perímetro escrotal, acima de 32 cm para raças britânicas e maior que 30 cm para raças sintéticas, além de boa libido.
  • Qualidade espermática – concentração, motilidade e vigor dos gametas. O touro precisa ter as melhores notas nos três quesitos. Não adianta ter motilidade e vigor e não ter concentração, ou seja, ter mais líquido espermático do que os espermatozoides propriamente ditos.
  • Bons aprumos – o touro caminha demais atrás da fêmea e quando faz a cópula, todo aquele peso é apoiado apenas sobre os membros traseiros, ele não se apoia na vaca. Então, uma dica ao comprar touros é olhar sempre de baixo para cima, assim já se avalia aprumo, carne e perímetro escrotal. Ainda tem gente que nota a cabeça do animal.
  • Casco – bom é o casco resistente, normalmente os mais escuros. Branco é ruim, por ser mais suscetível à umidade. Não pode ser encastelado nem achinelado. Precisa ter inclinação normal. Animais excessivamente nutridos sofrem deformações no casco por desequilíbrio na dieta, entre as quantidades recomendadas de proteína e energia.
  • Peso adequado – o touro não pode estar excessivamente gordo (acima de 500 kg aos dois anos de idade ou acima de 650 kg aos três anos).
  • Registro Genealógico – é o selo de certificação que o touro é puro e foi inscrito e controlado em associações de raça.
  • Dados de performance positivos – é a garantia de maior produtividade. Exceção é a DEP negativa para peso ao nascimento, que está relacionada com a facilidade de parto.
  • Resistência a ectoparasitas e a plantas tóxicas – no RS, por exemplo, há um capim chamado mio-mio (Baccharis coridifolia), fatal ao animal que não esteja acostumado a ele. O reprodutor também precisa ter nascido em uma zona que tenha carrapato, pois quando adulto adoece na primeira infestação ou contato com o parasita. Compradores e, principalmente, selecionadores devem pensar nesses detalhes.
  • “Educação do touro” – isso está relacionado com o temperamento calmo e pouco reativo quando vai para a propriedade de destino. Reduz a probabilidade de acidentes.
  • Vida útil no rodeio (longevidade) – um reprodutor precisa ter uma longa vida produtiva no rebanho, pois resulta em uma menor taxa de reposição. O tamanho exagerado do prepúcio é comprometedor nesse aspecto.
  • Baixo custo de manutenção – um touro adaptado, com características morfológicas adequadas ao ambiente (ex.: menor comprimento de pelo), tem menos problemas físicos e doenças, mantém o estado corporal ao longo do ano e o resultado reflete-se em gastos reduzidos para mantê-lo.
  • Maior adaptação – prepúcio pesado arrasta no pasto, machuca o touro, que precisa ser curado. Recomenda-se que seja mais recolhido. Nos zebuínos, apresentam-se mais pendulares, britânicos quase não têm. Nas raças sintéticas, no sentido de cruzamento, animais de pelo fino, boa genética e pouco prepúcio são metas. É importante que o ambiente de seleção seja palco de todas as possibilidades e desafios que o reprodutor enfrentará, que não seja de fartura nem de restrição total de alimentos.
  • Raça – touros britânicos são recomendados até certo paralelo (Trópico de Capricórnio), acima dele, o melhor é usar sêmen ou raças mais adaptadas.

Fonte: Publicado na Revista AG

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