A carne passará a ser um produto de luxo. A afirmação, feita no Congresso Mundial de Carne, em Buenos Aires, é de Lorenzo Basso, secretário de Agricultura e da Pecuária da Argentina.
Basso não está sozinho nessa avaliação, pois é a opinião da maioria dos analistas que participam do evento.
Após quatro anos de dificuldades provocadas por baixos preços, crise financeira e excesso de abate de fêmeas nos principais países produtores, o cenário está mudando para a cadeia da carne. A demanda mundial é crescente e os preços sobem.
Essa alta vai chegar ao consumidor, e de forma permanente. A inserção de novos consumidores, principalmente de países emergentes, é apenas um dos motivos dessa elevação de preço.
Mudanças no clima, novas exigências de sustentabilidade e perda de espaço da pecuária (em relação a outros produtos agrícolas) também são motivos que elevam os custos de produção.
Pratini de Moraes, ex-ministro da Agricultura, diz que o aumento vai ser contínuo, mas em pequena escala devido à agregação de novos custos à produção. "É mais uma recomposição de preços, já que o câmbio está desfavorável às exportações."
Para Luciano Vacari, da Acrimat (associação que reúne pecuaristas de Mato Grosso), "dizer que a carne será um produto de luxo parece um termo muito pesado e pode inibir o consumo".
Vacari deixa claro, porém, que os preços da carne vão mudar de patamar. "Sem dúvida já era hora desse passo. É um reconhecimento ao novo modelo de produção."
A demanda mundial de carne bovina deve crescer cerca de 9% nos próximos três anos, afirma Sebastião Guedes, do Sindicato Nacional da Pecuária de Corte.
Segundo ele, a demanda é forte não apenas externamente, mas também internamente. Para Guedes, o Brasil ainda demorará dois anos para regularizar a oferta.
Situação pior vivem os argentinos. Dardo Chiesa, do IPVCA (instituto de promoção na carne no país), diz que, "se fizermos tudo direitinho, só vamos resolver esses problemas [o aumento de oferta] em cinco anos".
RECLAMAÇÃO DA UE
A redução na oferta mundial de carne já começa a trazer problemas. Lars Hoelgaard, da UE, tradicional região importadora de carnes argentinas e sempre acusada de utilizar barreiras comerciais, classificou como "protecionista" a atitude da Argentina de colocar travas nas exportações.
A reclamação dos europeus ocorre porque uma forte seca no país e uma política de contenção de preços internos e de exportação, promovida pelo governo, forçaram forte queda no rebanho argentino nos últimos meses.
A exportação de carne fresca neste ano já recuou 54% em relação a 2009. Mario Llambias, da Confederação Rural Argentina, diz que a situação atual é crítica no país, mas preço melhor e confiança podem trazer investimentos ao setor, havendo possibilidade de recomposição do rebanho do país.
Os consumidores podem esperar recomposição de preços em todo o mundo. Afinal, os problemas de produção não ocorrem apenas no Brasil e na Argentina, mas também nos EUA, na Austrália e na União Europeia.
FONTE: FOLHA ONLINE
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