terça-feira, 22 de novembro de 2011

O menino SISBOV e a senhora GESTÃO


Por Luciano Medici Antunes - Engenheiro Agronomo, sócio fundador da empresa Planejar, presidente por cinco anos da entidade que congrega as certificadoras SISBOV e participante de vários grupos de trabalho do Governo Federal ligados a rastreabilidade bovina, inclusive em missões junto a União Européia. Sempre que se fala em SISBOV, a coisa literalmente pega fogo. Parece que estamos falando de tabus tais como religião, direito ao aborto, legalização das drogas, uso de células tronco ou discutindo sobre os times para os quais torcemos. É paixão a flor da pele. E isso é bom, pois fomenta a discussão, traz idéias e mobiliza os envolvidos. Mas, desde que o homem tornou-se uma espécie com a capacidade de raciocinar, só existe um jeito de se transformar tabu em consciência: a informação. Então é nosso dever implodir as barragens de contenção e deixar fluir todas as torrentes de informação para que, de posse delas, cada um forme sua opinião, tal qual uma casa sólida sobre a pedra (olha um tabu voltando só para assombrar). Uma das grandes discussões que se faz ao redor do SISBOV é justamente a questão da Gestão. E uso o termo "ao redor" porque esta não está inserida no cerne do programa. O SISBOV, um menino de apenas dez anos, ainda imberbe, não é sinônimo e nem pretende ter a sabedoria da Senhora Gestão, centenária em suas origens. Ambos podem se complementar e se ajudar sim, se o produtor desejar. Mas não são gêmeos siameses. Exatamente como num time de futebol vencedor, o certo não é misturar medalhões experientes com jovens cheios de energia e vontade? (outro tabu, só para não perdermos o hábito). O SISBOV jamais foi desenvolvido como ferramenta de gestão, nunca teve esta pretensão, e nunca terá. É assim aqui no Brasil e é assim em todos os países do mundo que possuem sistemas análogos. Rastreabilidade tem o objetivo de rastrear, possibilitar o Trace Back e ponto. Mas os inúmeros dados que ele gera são sim bônus colaterais que o produtor recebe. E que o Estado também recebe para lhe ajudar na tão importante formação das políticas públicas. Neste ponto cabe uma grande reflexão aos apaixonados pelo tema: os produtores brasileiros sabem sim, e muito bem, produzir. Criamos animais e colhemos safras como poucos no mundo. Mas a grande maioria, a grande maioria mesmo, não faz de forma eficaz ou simplesmente não faz a gestão do seu negócio. E por Gestão com "G" maiúsculo entende-se o controle eficaz de dados, de custos, de oportunidades de mercado, de visão de longo prazo e etc, etc, e mais etecéteras. Fazer como dizem os gringos e "go to the balcony" para ter a visão ampla de onde o negócio que se dirige está inserido. Fazer gestão bem feita, isto é, conseguir chegar a informações que possam levar a tomada de decisões para aumento da rentabilidade de um negócio exige muito esforço, investimento e principalmente comprometimento do produtor, do empresário do campo. Quem faz sabe. É bem mais difícil e complicado do que o SISBOV, que se torna quase brincadeira de criança perto da venerável Senhora Gestão.

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