sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Marfrig: trajetória de 2011

Em meados deste ano, o mercado se perguntava que empresa levaria os ativos colocados à venda pela BRF-Brasil Foods. A Marfrig, que mesmo alavancada sempre foi vista como favorita para levar os ativos da BRF, recebeu de JBS e Minerva proposta de compra de suas operações.

Pelas propostas, a JBS ficaria com a área de processados de carnes de aves e suínos da Marfrig e o Minerva, com o segmento de bovinos. Essa engenharia teria como objetivo evitar resistência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ao negócio - se a JBS fizesse uma proposta sozinha por toda a Marfrig, haveria forte concentração no mercado de carne bovina, o que poderia ser vetado pelo órgão de defesa da concorrência.

Essa combinação abriria ainda espaço para a JBS fazer proposta pelos ativos colocados à venda pela BRF, já que não haveria outra empresa no mercado nacional com capacidade para fazê-lo. No entanto, os planos de JBS e Minerva não se concretizaram, pois o controlador da Marfrig, Marcos Molina, não aceitou a proposta.

A Marfrig não desistiu da BRF e anunciou operação de troca de ativos com a empresa, que precisava se desfazer de unidades e marcas, como parte de acordo feito com o Cade para sua criação.

A BRF, hoje líder em processados de carnes com cerca de 70% de participação no mercado, passaria a ter como concorrente a gigante JBS, atualmente mais focada em carnes in natura. Esta, com a área de industrializados da Marfrig e a compra dos ativos postos à venda pela BRF, se tornaria uma forte competidora.

Uma eventual venda da área de bovinos da Marfrig para o Minerva também promoveria um crescimento expressivo deste último, hoje em terceiro lugar entre os maiores do segmento, mas muito distante dos dois primeiros. O já concentrado mercado de carne bovina, que nos últimos anos viu mais de dez empresas entrarem em recuperação judicial, ficaria ainda mais concentrado.

A gestora GWI Investimentos teve de desmanchar posições a termo que possuía em papéis da empresa de alimentos, por conta da deterioração dos mercados no dia 8 agosto, primeiro pregão após a redução da nota de risco de crédito da dívida americana pela agência de classificação de risco Standard & Poor's. Naquela sessão, as ações da Marfrig desabaram 25%.

Uma semana depois da saída da GWI, a Marfrig divulgou balanço do segundo trimestre, com prejuízo de R$ 91 milhões. Também apresentou um indicador de alavancagem de 3,9 vezes (relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda), alto em relação ao ideal de mercado, que é abaixo de 3. Se esse indicador superasse 4,5, dispararia uma cláusula de um contrato de debêntures da empresa compradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A partir da segunda metade de agosto, houve muitos rumores sobre a situação de solvência da companhia. Nas contas de analistas de mercado, se a empresa continuasse naquele caminho, já poderia romper as cláusulas no terceiro ou quarto trimestre.

Foi em meio a essa situação, de ações em baixa forte e acelerada e rumores de dificuldades de crédito, que Molina, fundador da Marfrig, foi novamente procurado. Dessa vez não pelos empresários concorrentes, mas por emissários de bancos reapresentando a já conhecida proposta de vender os ativos processados para a JBS e a operação bovina no Brasil ao Minerva.

Molina foi, então, ao BNDES buscar apoio. Com o preço cada vez menor das ações e os rumores sobre insolvência, temia uma crise de confiança que o obrigasse a vender a sua empresa.

A partir daí, em setembro, a Marfrig anunciou a venda de serviços de logística especializada para redes de fast food de sua subsidiária americana Keystone Foods. A Martin-Browser pagou US$ 400 milhões pelo negócio.

No fim de novembro, após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, a Empiricus publicou questionamentos ao balanço da companhia.

Em dezembro, a Marfrig vendeu seus ativos de logística no Brasil para a Júlio Simões Logística (JSL) por R$ 150 milhões. Somando a venda desses ativos, perto de R$ 1 bilhão deve ingressar no caixa da empresa, melhorando o seu endividamento, como queria o BNDES.

E, a partir do ano que vem, a Marfrig deverá contar com a geração positiva de caixa operacional dos ativos da BRF. Passarão a ser da Marfrig, assim que o Cade aprovar a operação, as marcas Doriana, Rezende, Wilson, Texas, Patitas, Fiesta e Delicata. 

Fonte: jornal Valor Econômico

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