sexta-feira, 18 de maio de 2012

Boi no primeiro semestre, boi no segundo semestre


Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e analista de commodities.

Tem muita gente me perguntando o que será do boi no segundo semestre de 2012. Olha, sinceramente eu não sei. É difícil responder assim, tão pontualmente. Mais difícil (pra não dizer impossível) dar valor exato para o boi no período. Na verdade, se eu soubesse, a vida seria muito fácil, não é verdade? 

Bom, vamos voltar um pouquinho no tempo para entendermos o que acontece hoje e, então, entendermos o que poderá ser do segundo semestre.

Já falmos neste espaço em diversas ocasiões, foram 4 anos de retenção de fêmeas, de 2006 a 2010. O preço do bezerro estava subindo e a atividade de cria estava atrativa. Então a gente pensa em produzí-los e para isso seguramos as fêmeas. Depois de um tempo, essa retenção mostra seus reflexos através da oferta maior de animais na praça. A prova disso é um gráfico que coloquei aqui há algumas semanas, mas como não gosto de falar sem provar a afirmação através de números, vou repeti-lo.

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Acho que a oferta maior nos pegou junto com uma seca brava, que prejudicou demais as pastagens e reduziu o poder de manutenção por parte do pecuarista. 

Junto com isso, temos uma probabilidade de aumento do volume de  animais confinados elevada, o que me deixa bastante apreensiva em relação à margem da atividade para aqueles que tencionam 
especular e nem estão olhando para as oportunidades que a Bolsa nos dá.

Quero dizer que não teremos entressafra? Não. Mas o cuidado com a negociação deve ser redobrado.

Em anos de incerteza e expectativa de aumento de oferta, como tem sido 2012, eu não gosto de contar com a sorte e com o fato de precisar que a demanda seja forte o suficiente pra me salvar. Prefiro me garantir.

O que costumo fazer é que logo que a Bolsa me dá oportunidade, recomendo trava com futuros ou trabalhamos com a compra de opções. A compra do seguro de preços tem que estar no cardápio para que se sente mal em chupar o dedo se o mercado vai além. 

Em algumas oportunidades, quem me dá essa chance de margem é o frigorifico. Pode-se pensar em trava com ele também, apesar de não ser minha primeira opção por não gostar de abrir a estratégia para o comprador. Mas tem anos em que essa é a melhor alternativa por eu não estar pronta para aguentar o ajuste ou não ter caixa suficiente para comprar opções. Com o frigorífico, não tenho ajuste ou combino apenas desembolso na entrega dos animais.

Em resumo, precisamos aprender a esquecer aquela ideia de esperar eternamente pelo pico dos preços ou então pagar pra ver. A oferta está grande e existe a expectativa de que o volume de animais de confinamento aumente mais uma vez em 2012. 

Então, o negócio é partir logo para o abraço quando surge uma boa oportunidade. Seja da forma que for: futuros, opções, frigorífico, termo, seguro de preços, etc. A cada ano temos m mercado diferente, portanto, uma decisão diferente a tomar e devemos conhecer a ferramenta que melhor se encaixe a ela. Ao longo dos anos, essa ideia dá resultados melhores e mais consistentes.

Bom, no curto-prazo, temos uma oferta que não para de aumentar. 

Será?

Olhem só, os últimos dias têm sido um pouquinho mais duros com os frigoríficos. Quando eu digo “um pouquinho”, é um pouquinho MESMO, coisa leve. As escalas de abate permanecem longas e a carne está muito, mas muito fraca! Largada, praticamente. O consumo não está segurando as pontas, afinal de contas, estamos na segunda quinzena. Normal. Mas quando colocamos junto disso uma boa oferta, não tem muito jeito de segurar o cabresto.

Mas pessoal, tem muita gente desesperada, achando que isso não vai mais passar. Não é verdade. Como eu disse também há algumas semanas, safra e entressafra ainda existem pois tem um período do ano em que chove menos e outro em que chove mais. Boi é pasto. Ponto!

Com o frio e com a oferta sistemicamente maior, o pessoal abriu mesmo a porteira e não teve como os preços não caírem, mas vejam bem, uma hora isso melhora. E já está começando a dar ligeiros sinais de que pode melhorar dentro de algumas semanas. Depois dessa forte desova que vemos agora, ainda não teremos boi de cocho em quantidade suficiente para fazer com que o mercado continue em queda. É o que me parece. Não tem sido tão fácil comprar nos últimos dias. 

Não posso atestar com toda a certeza do mundo, obviamente, mas se a oferta já dá alguns sinais de que quer enfraquecer, basta o consumo responder pra gente ver algum tipo de reação. No começo de junho existe potencial pra enxugar um pouquinho a oferta de carne. Então pensem comigo: oferta menor e demanda um pouquinho melhor, pode ser que os preços também melhorem. E sabem o que mais? É o que costuma acontecer nesse período ao longo dos anos, ou seja, atingimos o fundo da safra entre abril e maio e em seguida os preços começam a reagir novamente, assim que terminamos de colocar no gancho os animais que perderão peso sem pasto em uma situação decente. Vamos torcer! Um abração e até a semana que vem.
Fonte: Agrifatto

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