quarta-feira, 16 de maio de 2012

Frigoríficos recuperam margens no 1º tri

A queda nos custos de produção de bovinos no país impulsionou o resultado operacional dos frigoríficos no primeiro trimestre, como demonstraram os balanços divulgados ontem por JBS, Marfrig e Minerva, as três das maiores empresas do segmento no país. A maior oferta de animais para abate e o recuo nos preços do boi gordo abriram caminho para que as empresas apresentassem margens melhores, embora o efeito da guinada do dólar sobre as dívidas tenha tirado um pouco do brilho do resultado final.

Líder global em proteína animal, a JBS registrou um lucro líquido de R$ 116,1 milhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 21% sobre o mesmo intervalo do ano passado. Apesar dessa retração, a companhia informou um lucro ajustado de R$ 240 milhões, 63,2% superior, que desconta uma provisão de imposto que só teria efeito sobre o caixa em caso a empresa fosse vendida. Na mesma base de comparação, o lucro antes de juros, impostos e amortizações (Ebitda, na sigla, em inglês) caiu 16,7%, para R$ 696,5 milhões, enquanto a margem Ebitda recuou de 5,7% para 4,4%.



A Marfrig reportou um lucro líquido de R$ 34,5 milhões no primeiro trimestre deste ano, valor 46,7% superior aos R$ 23,5 milhões registrados no mesmo período do ano passado. A companhia reverteu ainda o prejuízo de R$ 138,6 milhões sofrido no quarto trimestre de 2011.


O Ebitda (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do frigorífico foi de R$ 410,7 milhões nos primeiros três meses deste ano, um aumento de 21,8% quando comparado aos R$ 337,3 milhões no primeiro trimestre de 2011. Já a margem Ebitda subiu de 6,4% para 7,8%, na mesma base de comparação. O Ebitda ficou acima da média esperada pelos analistas de mercado, que era de R$ 361 milhões.

Os negócios na área de carne bovina foram os principais responsáveis pela melhora do Ebitda. Embora a receita líquida da Marfrig Beef (divisão de bovinos da companhia) no trimestre tenha registrado uma queda anual de 9,6% (de R$ 1,92 bilhão para R$ 1,73 bilhão), o Ebitda aumentou em 28,5% (para R$ 202,1 milhões, ante R$ 157,3 milhões em igual período de 2011). Com isso, a divisão de bovinos foi responsável por pouco mais de 61% do aumento no Ebitda global da Marfrig.

E o resultado poderia ser ainda melhor, não fosse a forte retração das exportações da Seara Foods, divisão de aves e suínos da Marfrig. Influenciada pelos estoques de frango elevados em mercados relevantes com os de Japão e Oriente Médio, as exportações da divisão recuaram 17,1% na comparação anual, para R$ 1,014 bilhão.

O vice-presidente de finanças e diretor de relações com investidores da Marfrig, Ricardo Florence, acredita em uma recuperação dos embarques da divisão ao longo dos próximos meses. "Gradativamente, temos visto maiores volumes e um pouco mais demanda. Existe uma tendência de recuperação tanto para frango, quanto para suínos", ressaltou.

Mas, a despeito do fraco desempenho das exportações, o desempenho da Seara Foods também foram positivo, com destaque para o crescimento 24,6% das vendas no mercado interno. A unidade reportou um Ebitda de 208,6 milhões, um aumento de 15,8% ante o mesmo período do ano passado. A Seara respondeu por 66,8% das vendas da Marfrig, embora tenha entregado apenas 51% do Ebitda.

A Marfrig minimizou o risco de uma depreciação cambial sobre seu endividamento. Ao fim do primeiro trimestre, mais de 75% de uma dívida bruta de R$ 8,63 bilhões estava lastreada em dólar ou outras moedas. Desse total, apenas R$ 4 bilhões estavam protegidos por meio de operações de hedge.

Apesar da grande exposição às oscilações do câmbio, Florence disse que guinada do dólar frente o real nas últimas semanas não representa uma ameaça. Pelo contrário, "para nós, a desvalorização do real é extremamente vantajosa porque melhora as nossas margens de exportação", declarou. O executivo sustenta que o nível de endividamento em dólar está em linha com o volume de vendas em moeda estrangeira, que responde por 75,3% da receita total da Marfrig.

O índice de alavancagem da Marfrig, medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda, ficou em 4,51 vezes no primeiro trimestre de 2012, um ligeiro aumento em relação ao apurado no trimestre anterior (4,45 vezes). Florence disse que essa relação teria sido de 3,52 vezes caso a venda dos ativos de logística da Keystone, em abril, tivesse sido concretizada no primeiro trimestre.

O executivo observou, ainda, que a empresa possui recursos suficientes em caixa para pagar 1,1 vez a dívida de curto prazo (vencimento até o primeiro trimestre de 2013), que soma pouco mais de R$ 3 bilhões. Perguntado sobre o vencimento, em julho, de cerca de R$ 250 milhões referentes ao cupom anual das debêntures conversíveis em posse do BNDES, Florence afirmou que a empresa estuda opções junto ao banco de fomento sobre o vencimento anual do cupom.

Já o Minerva amargou um prejuízo líquido de R$ 66,7 milhões no primeiro trimestre do ano, ante um lucro de R$ 14,6 milhões nos primeiros três meses de 2011. Apesar do resultado mais fraco, a receita líquida da companhia cresceu 7,2%, na comparação anual, para R$ 944 milhões.

O Ebitda, por sua vez, cresceu 28,1%, para R$ 77,2 milhões. A margem Ebitda também subiu, de 6,8% para 8,2%, na comparação entre os primeiros trimestres de 2011 e 2012. Trata-se do melhor resultado para o período desde 2007.

O diretor presidente da companhia, Fernando Galleti Queiroz, minimizou o prejuízo. Ele atribuiu o resultado mais fraco ao impacto da desvalorização do real sobre a dívida e as recentes operações de refinanciamento da companhia. "Descontados esses efeitos, teríamos um lucro próximo de R$ 5 milhões".

O presidente do Minerva afirmou ainda que a queda no preço do boi gordo, fator que mais contribuiu para a melhora dos indicadores operacionais, ficará "ainda mais evidente a partir dos resultados do segundo trimestre". (Colaborou Fernanda Pressinott)

Fonte: Valor Econômico. Autores: Gerson Freitas Jr. e Luiz Henrique Mendes

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