por Lygia Pimentel
Aló, amigos! Como estão? Já faz um tempo que não conversamos sobre o mercado. A correria e o volume de trabalho fizeram com que nossos encontros se tornassem mais raros mas, nem por isso, menos importantes.
Parece que a ausência dos meus textos fez bem aos preços. Estamos passando por um período positivo no mercado pecuário. É claro, não estamos no melhor período de rentabilidade para a atividade, afinal, para acompanhar os custos de produção desde o seu último pico, hoje o boi deveria valer R$ 120,00/@ para estar nos mesmos patamares de 2010 em termos reais. Infelizmente, não dá pra ter tudo o que se quer nesta vida. A perda de valor real da produção é uma característica da fase de baixa do ciclo pecuário e é nela que estamos neste momento.
Mesmo assim, os preços do boi gordo voltaram aos maiores patamares desde novembro de 2011 em uma arrancada muito interessante. Esse movimento criou suas raízes no final do ano passado, para dizer a verdade. Digo isso pois levou a arroba a um novo patamar durante a safra de 2013. Observe a figura 1.
Figura 1.
Evolução do spread entre o equivalente físico e a arroba do boi gordo em SP (%).
Fonte: Cepea/INTL FCStone/AgriFatto
O que podemos ver através do gráfico é que a diferença entre o que o frigorífico paga pelo boi e o que ele recebe pela venda da carcaça melhorou muito no ano passado, especialmente entre agosto e dezembro.
Isso significa que, normalmente, o frigorífico vende a carne com osso abaixo do que ele pagou pela arroba e faz a conta ficar positiva com a venda do couro, sebo, miúdos, subprodutos e, por fim, com a venda da carne desossada. Entretanto, no fim do ano passado a conta já estava positiva antes mesmo de considerar tudo o que eu coloquei no parágrafo anterior. Em outras palavras, a margem da venda interna estava muito interessante para a indústria.
Ao mesmo tempo, depois de duas quebras de safra, os grãos estavam bastante caros e judiavam muito do granjeiro, o que levou a um ajuste produtivo de frango e suíno. Isso tirou essas carnes do mercado por um breve período de tempo e o preço delas subiu, tanto no varejo como no atacado.
Figura 2.
Spreads entre a carne de frango e a carne suína com a carne bovina e indicadores de spread para a carne de frango (%).
Fonte: Cepea/INTL FCStone/Agrifatto
O movimento fez com que a carne bovina ganhasse competitividade frente às concorrentes, o que deu ainda mais sustentação ao bom período vivido.
E já que o momento era vantajoso à venda de carne e não faltava oferta, os frigoríficos aceleraram os abates, o que levou o volume de animais abatidos no primeiro trimestre de 2013 subir 13% em relação ao mesmo período do ano passado.
Figura 3.
Evolução do volume total de animais abatidos no Brasil (milhões de cabeças).
Fonte: IBGE/SIF/INTLFCStone/AgriFatto
Em resposta aos acontecimentos do período, o boi encarou a safra firme, sem se abalar muito com o bom volume de chuvas que marcou a estação e refletindo a maior demanda dos frigoríficos por animais terminados em preços mais altos. Claro, depois veio julho e agosto, início do período seco, e empurrou o que tinha nos pastos para as escalas de abate, o que fez o preço recuar um pouco, mas nada mais natural do que o boi fazer um fundo no fim da safra, certo?
Bem, tudo isso levou o boi a subir em plena safra e originou um novo patamar para iniciarmos a entressafra. Em termos comparativos nominais, no ano passado o boi em São Paulo fez fundo nos R$ 89,00/@ à vista, enquanto em 2013 o menor valor registrado foi R$ 97,00/@ nas mesmas condições. Isso representa um boi que começou a entressafra 9% mais caro do que no ano passado e ajuda a explicar os valores que atingimos neste momento.
O problema é que mesmo com o apetite dos frigoríficos aquecido e com a arroba em alta, a BM&F teimava em não precificar ágio algum para a entressafra. Aliás, chegou até mesmo a colocar os contratos da entressafra abaixo dos valores que estavam em vigor no primeiro semestre. Isso pode acontecer fora do mercado futuro? Certamente. É mais provável? Não. O mais provável é que não chova no segundo semestre, o que reduz a oferta de animais terminados e, portanto, faz o preço subir.
Bom, sem ágio, a BM&F não estimulava a atividade de confinamento e não dava alternativas atrativas a quem pensava em garantir algo. Ao mesmo tempo, o boi magro variou acima do valor apurado pela arroba do boi gordo e, na prática, os grãos recuaram pouco. Em Rio verde – GO, por exemplo, compro uma saca de milho por R$ 19,00, aproximadamente, valor semelhante ao apurado para o produto no mesmo período do ano passado. O motivo é que as condições logísticas são péssimas para abastecer a região, o que prejudica fortemente o consumidor final e faz o produto chegar sem precificar a queda de preços apurada na origem.
Figura 4.
Variação anual do boi magro, do milho e do boi gordo em São Paulo no segundo semestre (%).
Fonte: Cepea/INTL FCStone/AgriFatto
O movimento de preços certamente não estimulou o confinamento especulativo, o que fez com que o volume de animais de cocho diminuísse de maneira considerável em 2013. A Associação Nacional dos Confinadores – ASSOCON -, soltou uma análise muito pertinente que representa o reflexo da situação de custos: o volume de animais deverá cair 13% no consolidado do ano. Considerando o semi-confinamento e confinamentos pequenos, pode-se dizer que o volume de animais provenientes de engorda intensiva no Brasil ficará próximo aos 4 milhões de cabeças em 2013. Isso significa que dos 42,9 milhões de cabeças abatidas, apenas 9,6% são provenientes de confinamento. Considerando apenas os grandes confinamentos, essa participação fica em 7,7%.
Nas últimas semanas, o movimento de alta se intensificou para as categorias de reposição conforme avançou também o período seco, o que sugere que o último giro do confinamento não será mais intenso do que o primeiro como se previa no primeiro semestre. A alta apareceu tarde demais.
São esses os fatores que levaram à recuperação sustentada da arroba que verificamos no momento. Quem diria que o ano seria assim? Durante o primeiro semestre absolutamente ninguém previu uma queda tão acentuada para o volume de animais confinados. A prova disso é que a BM&F chegou a colocar deságio para os animais da entressafra, um movimento real de distorção (e que foi aproveitado por muitos especuladores). O máximo que vi se aproximar da realidade nas pesquisas de intenção foi uma leve queda capturada na 2ª pesquisa do Minerva. Ponto pra eles e parabéns pela realização de uma pesquisa séria!
Já falamos aqui sobre as grandes variações de preços: elas são, majoritariamente, ocasionadas por choques de oferta. Temos vários mercados para servirem de exemplo para tal afirmação, como os grãos nas duas últimas temporadas, petróleo em 2008, boi gordo em 2010. E os preços pecuários não começaram a se movimentar nesta entressafra por outra coisa. Estamos colhendo o reflexo da queda do volume de animais confinados. E algo me diz que não houve muito incentivo para colocação de animais com saída em outubro e novembro. Então fica aqui a nossa dica sobre o possível rumo do mercado nas próximas semanas.
fonte: Agrifatto
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