O afrouxamento das sanções contra o Irã, previsto no acordo provisório sobre o programa nuclear do país, gera grande expectativa no agronegócio brasileiro. O Irã é um parceiro comercial que tem gerado saldos importantes para a balança comercial do Brasil desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas as exportações brasileiras estagnaram nos últimos dois anos e estão caindo fortemente neste ano, com o recrudescimento das sanções e a piora das relações bilaterais durante o governo de Dilma Rousseff.
As vendas brasileiras para o Irã chegaram a US$ 2,332 bilhões em 2011, primeiro ano do governo Dilma. Em 2012, as exportações, que vinham ganhando impulso, recuaram para US$ 2,183 bilhões. Neste ano, o comércio desabou.
Entre janeiro e outubro, o Brasil exportou apenas US$ 1,204 bilhão para o Irã, com destaque para cereais, açúcar e carnes. Já as exportações iranianas para o Brasil, que em 2010 chegaram a US$ 123 milhões, somam apenas US$ 7,5 milhões em 2013.
As principais exportações brasileiras não são alvo direto das sanções impostas pelo Ocidente ao Irã. Mas elas acabaram sendo afetadas pelo asfixiamento a que a economia iraniana foi submetida, com restrições de seguro, crédito e acesso dos iranianos a recursos no exterior, além da dificuldade de contratar navios e contêineres para exportar para lá.
Além disso, diferentemente de Lula, a presidente Dilma não manteve uma relação próxima com o regime iraniano, o que, segundo fontes, acabou afetando as relações comerciais. Em 2010, Lula chegou a costurar, juntamente com a Turquia, um acordo com os iranianos para enriquecimento de urânio fora do país - que acabou sendo rejeitado pelos EUA e aliados europeus. Foi o cume da boa relação entre os governos brasileiro e iraniano.
Mas o clima azedou após o Brasil ter adotado posições desfavoráveis ao Irã no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em 2011, já sob Dilma.
Dentre os setores que mais comemoram o alívio nas sanções ao Irã está o de carne bovina. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o setor conseguiu entre janeiro e outubro uma receita de US$ 161,9 milhões com as vendas aos iranianos. O desempenho é pífio se comparado aos US$ 807,5 milhões exportados em 2010.
Mas a expectativa, agora, é de reversão deste quadro. "Desde outubro nós já vínhamos sentindo um interesse maior dos importadores iranianos, antevendo que algo poderia mudar [em relação às sanções]", diz Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec. Isso já se refletiu em exportações de 7.400 toneladas em novembro, com receita de US$ 33 milhões, contra US$ 24,7 milhões e 5.000 toneladas em outubro.
Para 2014, a entidade espera que as exportações cheguem a um recorde de US$ 1 bilhão. "Pretendemos até fazer um churrasco promocional em Teerã para comemorar", afirma Camardelli.
O alívio das sanções ao Irã também deve favorecer as exportações de carne de frango brasileiras, avalia o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. Ele espera que os volumes embarcados sejam semelhantes ou até superem os níveis de 2010, quando o Irã adquiriu 45 mil toneladas de carne de frango do Brasil, o equivalente a US$ 72 milhões.
Até agora, explica Turra, as operações eram feitas por meio de bancos europeus, onde os limites de créditos eram menores. Com o relaxamento das sanções, espera-se que os importadores tenham acesso a linhas de crédito em mais instituições financeiras. "Vamos aumentar as vendas e as operações devem ser mais regulares", prevê.
Segundo ele, fontes iranianas têm afirmado que o país necessita do frango brasileiro para atender sua demanda. As exportações brasileiras de frango ao país caíram para 40 mil toneladas em 2011, primeiro ano do governo Dilma, e tiveram nova redução em 2012, para 28,4 mil toneladas. Neste ano de 2013, até outubro, as vendas ao Irã somaram só 9 mil toneladas, num valor de US$ 15,5 milhões.
fonte: Valor Online - Por Fabio Murakawa e Alda do Amaral Rocha
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