segunda-feira, 26 de maio de 2014

Feiras de Terneiros: padrão valorizado

Comprador disposto a dar lances maiores

Para atender a indústria e obter preços melhores na venda, pecuaristas buscam em leilões lotes mais uniformes e animais de maior qualidade

 Sentado numa arquibancada em frente à pista de remates, Daniel Guizzardi, 36 anos, observa a entrada de 20 terneiros da raça angus com peso médio acima de 200 quilos. Enquanto os animais se movimentam na mangueira e o leiloeiro começa a instigar o público a fazer lances, o comprador observa o comprimento dos animais, formato do corpo, tamanho da cabeça e o aspecto visual de cada um.


– No olho já dá para ver a qualidade, conforme a raça e as características do animal – diz Guizzardi.


Quando outros dois lotes com 48 animais da mesma raça entram em pista, Guizzardi faz nova avaliação minuciosa Ao conferir a uniformidade dos terneiros e fazer algumas anotações, não pensa duas vezes: arremata 68 unidades ao preço médio de R$ 1,26 mil cada. Tornou-se, assim, o maior comprador da 12ª Feira de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas, realizada pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), em Esteio, no último dia 15, quando foram vendidos 834 animais. No total, a Fazenda Gabardo Agroturismo, com sede em Montenegro, investiu R$ 158 mil na compra de 138 terneiros ofertados no remate.


Os animais que foram escolhidos por Guizzardi têm idade média de oito meses, peso entre 200 e 220 quilos e irão se juntar ao rebanho da fazenda com quase 3 mil terneiros e reprodutores criados em sistema de semiconfinamento. Quando chegarem a 24 meses, e peso médio entre 450 quilos a 500 quilos, serão vendidos para indústrias frigoríficas.


– Nessa hora, a qualidade fará a diferença. Ganhamos um prêmio em relação ao preço de mercado com os carcaças padronizadas – explica o comprador.


PRIORIDADE NÃO É O PESO


Guizzardi representa um perfil cada vez mais visível entre compradores de feiras de terneiros e reprodutores no Rio Grande do Sul, asseguram os leiloeiros.

– O comprador está mais seletivo, busca um retorno mais rápido – avalia Alexandre Crespo, responsável pelo remate de Esteio.


A seleção mais rigorosa é ditada pela necessidade dos criadores de alcançar maior eficiência, tanto pelo encurtamento do ciclo de engorda em razão do avanço das lavouras de grãos quanto pela exigência do mercado consumidor por carne de qualidade.

– O crescimento dos programas de certificação é um exemplo desse mercado cada vez mais sedento por produtos padronizadas, com marmoreio (índice de gordura intramuscular), sabor e maciez – afirma Crespo.


O comportamento fez com que o critério peso perdesse força.

– A ideia antiga era muito baseada no peso médio por lote. Hoje, a prioridade é a padronização das carcaças, com genética e qualidade que elevem o potencial do animal – ressalta o veterinário Fernando Furtado Velloso, da Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha.


Qualidade e falta de animais elevam preços

O motivo da atual preferência dos compradores por uniformidade nos terneiros ofertados em pista é simples: os animais entram e saem do campo ao mesmo tempo e os frigoríficos premiam carcaças padronizadas. Lotes homogêneos significam tamanho, peso e genética semelhantes. Os animais com essas especificações são valorizados pela indústria com acréscimo de até 10% no preço.

– Animais parecidos entram no mesmo regime alimentar, facilitando o engorde – diz Enio Santos, presidente da Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte do Sul.


A padronização a que se refere o setor inclui raça, idade, peso, tamanho e acabamento do terneiros.


– São características que resultarão na carne que o consumidor quer, macia e saborosa – afirma Ronei Lauxen, presidente do Sindicado da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs).

Conforme Lauxen, o valor diferenciado é uma forma de incentivar a melhora de qualidade e o aumento da produção.


– A escassez de terneiros no mercado fez com que o quilo da carcaça pago ao produtor aumentasse 30% em um ano, com alta de preço para o consumidor, na mesma proporção – ressalta Lauxen.


A alta no preço da carne bovina estimulou a migração para outras carnes, como frango e suíno. Por isso, Lauxen avalia que não há espaço para novos reajustes, nem mesmo na entressafra, que ocorre de junho a agosto.

Soja coloca mais dinheiro no bolso dos pecuaristas

Regulado pela cotação do boi gordo, o preço do quilo vivo dos terneiros teve média de R$ 5,01 na temporada de remates de outono no Rio Grande do Sul. O valor representa alta de 16,2% na comparação com os leilões realizados no mesmo período de 2013, conforme o Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Estado (Sindiler-RS). O número de animais vendidos foi 48% superior ao ano passado, alcançando 50,86 mil terneiros.

– A soja ajudou muito a pecuá-ria, deixou o produtor capitalizado para investir em genética e animais com terminação mais precoce – avalia Jarbas Knorr, presidente do Sindiler-RS.


A oleaginosa também ajuda a melhorar as pastagens de inverno por causa da resteva deixada no solo. Os restos de palha da colheita da soja, aliados ao azevém, são benéficos para a nutrição dos terneiros, que neste ano deverão alcançar média de 180 quilos.

– As áreas de azevém aumentaram, isso faz com que a conversão alimentar dos animais seja mais rápida, com qualidade superior – diz Francisco Schardong, presidente da Comissão de Exposições e Feiras da Farsul, que também atribui o bom momento aos financiamentos para compra de animais, ao aumento do consumo e exportações.


Fonte: Campo e Lavoura, Zero Hora

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