Foto: Assessoria Acrimat
A continuidade da retenção de fêmeas para o abate seguirá pressionando o preço da arroba do boi gordo para cima. Fator este, segundo especialistas, que deverá fazer com que 2015 seja o ano da pecuária, visto a oferta de animais ser menor que a demanda. Em 2014 a arroba do boi gordo em Mato Grosso chegou aos patamares de R$ 130.
Apesar da recuperação dos preços, onde se teve os preços nominais maiores da história no Estado, a renda da pecuária não acompanhou a evolução do valor pago ao produtor pela arroba, que equivale a 15 quilos.
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De acordo com o ex-superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, o custo de produção encareceu também. Em entrevista ao Agro Olhar, ele comenta que os preços pagos pelos animais tendem a seguir pressionados e que 2015 será o último ano de sentimento dos reflexos dos abates de fêmeas de 2012 e 2013, anos nos quais o percentual de fêmeas dentro do volume total de animais destinados aos frigoríficos equivalia a mais de 50%.
Confira a seguir entrevista com o ex-superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari:
Agro Olhar - Como foi à pecuária em Mato Grosso e no Brasil em 2014?
Luciano Vacari - 2014 foi um ano bom para a pecuária de Mato Grosso e do Brasil. Nós vivemos um ano bom de preço e isso é indiscutível. Tivemos os preços nominais maiores da história. Então, muita gente comemorou esse negócio. O problema é que as pessoas fazem uma análise errada do negócio. Não é de preço que se faz a atividade. A atividade se faz de renda e apesar de o preço ter se recuperado o custo de produção subiu de maneira inexplicável. É aquela história a pessoa vê que você está recebendo mais pelo produto e ele vai e aumenta o negócio dele, isso aconteceu com o sal mineral, com medicamento, com mão de obra, diesel. Aconteceu com tudo. Não foi só na pecuária. A renda não acompanhou a evolução do preço, mas mesmo assim tivemos um ano de renda positiva. Isso é muito bom, porque a pecuária viveu anos sem renda. Quando não ficava no zero a zero, ficava com renda negativa e nós vimos isso claramente. Todo aquele abate de fêmeas foi feito em 2010 e depois agora em 2012, isso é um sinal claro de que existe um problema. Quando se abate fêmea deste tanto se está usando o patrimônio para fazer dinheiro. Esse eu acho que foi o negócio do ano. Foi um ano bom de preço, mas a renda não acompanhou toda essa condução, apesar de ter sido positivo.
Agro Olhar - E por que se fala tanto da renda?
Luciano Vacari - Eu falo tanto da renda, porque a renda é o desafio do setor. Se você tiver renda você terá como comprar o pacote tecnológico que está aí. A tecnologia à disposição da pecuária ela é hoje muito grande, o problema é que o produtor não tem renda para ir comprar aquele produto que ele quer. Ele acaba com isso comparando um produto com qualidade um pouco inferior, que vai dar um resultado inferior, porque é o que ele tem e ao que ele consegue ter acesso. Então, se você tiver renda você vai acessar a tecnologia e com a tecnologia você faz tudo o que quer que é aumentar o índice de produtividade.
Agro Olhar – E o pesou para em 2014 chegarmos a registrar cerca de R$ 130 a arroba em Mato Grosso do boi gordo?
Luciano Vacari - Em 2014 o que deu toda essa sustentação para este momento de preço foi a história da demanda. Não tem jeito o preço é a oferta e a demanda. O fator primordial de 2014 foi à demanda, principalmente a demanda externa. Nós retomamos vários mercados que havíamos perdido, exportamos 7% a 8% a mais que em 2013, tanto em volume quanto em faturamento. O mercado interno também foi muito bom em 2014 e nós tivemos dois grandes eventos, que foi a Copa do Mundo e a eleição. Isso fez com que tivéssemos uma demanda boa. Deu vazão para a produção. Ao contrário do que muita gente acha "a teve tudo isso porque o rebanho diminuiu", pelo contrário não faltou boi em 2014. O que houve foi uma sensação de que não teve boi, porque o abate de fêmeas diminuiu. O que tivemos foi uma oferta equilibrada, muito parecida com 2013, e uma demanda maior que 2013. Foi isso que fez 2014 ser um ano de preços assim.
Agro Olhar - Como estão as perspectivas para 2015?
Luciano Vacari - O ano de 2015 tem tudo para continuar com esse suporte de preço, ou seja, a demanda dando suporte. É normal aumentar a exportação, salvo se tivermos um problema externo, pois todos os dias entram mais pessoas na faixa de consumo. O consumo interno é uma incógnita, isso dependerá de como a economia brasileira vai se comportar. Mas, a soma das duas, interna e exportação, nós acreditamos que teremos uma demanda maior em relação a 2014. E do lado da oferta aí sim em 2015 nós vamos uma oferta menor do que em 2014. Nós vamos ter dois fatores uma demanda maior e uma oferta menor.
Agro Olhar - O setor acha que essa oferta de animais pode ser quantos por cento menor? É uma consequência dos abates maiores de fêmeas nos últimos três anos?
Luciano Vacari - Não dá para você ter uma noção. Essa oferta menor é sim uma consequência do aumento de abates de fêmeas. O ano de 2015 vai ser o último ano que nós vamos sentir os reflexos de abates de fêmeas de 2012 e 2013. Este ano acaba o reflexo do que foi feito lá atrás, ou seja, fecha um ciclo.
Agro Olhar - E como setor está vendo o mercado externo? Nós tivemos consideráveis números de frigoríficos sendo autorizados pela Rússia, o Japão sinaliza retorno de compra, além de novos mercados sendo abertos. Como o setor vê isso?
Luciano Vacari - Isso é muito positivo. Existem duas coisas importantes que a gente observa nisso. Primeiro o fato de retomarmos mercado, isso é muito bom independente do tamanho do mercado, se ele compra muito ou compra pouco, o fato é que retomamos mercado que nós havíamos perdido. Isso consolida cada vez mais o Brasil no patamar entre o primeiro e o segundo exportador do Mundo. E a outra coisa, que é importante, é a demonstração de credibilidade. Quando um país exigente como o Japão declara para o Mundo inteiro que vai comprar carne industrializada do Brasil ele está dando uma demonstração para o Mundo inteiro de que o nosso modelo é confiável, que ele está satisfeito com os requisitos técnicos e isso é positivo.
Agro Olhar - Nós tivemos no início de 2014, mais precisamente em abril, com confirmação em maio, de um caso do mal da vaca louca, que rapidamente foi confirmado que era um acaso atípico. Nós tivemos, com isso, alguns países embargando a carne mato-grossense, mas logo voltando a comprar. A atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi fundamental neste ponto, na questão das analises?
Luciano Vacari - Ele foi exemplar e nós estamos muito satisfeitos, porque há muitos anos nós cobrávamos um posicionamento mais firme do Ministério. Felizmente, o Ministério da Agricultura do Brasil nos últimos dois anos vem dando demonstração de comprometimento com o setor, com o Brasil, com os produtores. E o que aconteceu aqui foi um evento sanitário que poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, pois foi um caso atípico e infelizmente aconteceu em Mato Grosso. Mas, o que foi fundamental foi a atitude do Ministério. Em 40 dias o Ministério havia identificado o foco, tomado todas as medidas de contenção, comunicado a OIE e resolvido o problema, ou seja, tudo o que deveria ter sido feito foi feito e isso deu credibilidade para o Brasil e Mato Grosso. O mundo inteiro viu que o nosso sistema de defesa, que é o mais importante, funcionou, pois se não ninguém tinha identificado e funcionou rapidamente. As ações tomadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foram adequadas e no tempo adequado e os resultados foram os esperados. Foi coletado material, mandado para laboratório, comprovado laboratorialmente e pronto. Encerrou o assunto. É lógico que alguns países possuem o direito de usar isso para embargo comercial. Alguns fizeram e aí o trabalho do Ministério e do ex-ministro Neri Geller foi fundamental, porque foram procurar todos os países que embargaram e explicar um a um o que aconteceu, quais as medidas tomadas, apresentar o modelo de defesa brasileira e todo mundo ficou satisfeito, tanto que todos os países que embargaram nesse evento já retiraram seus embargos.
Agro Olhar - E a atuação do Estado de Mato Grosso? Como o setor pecuário vê, não apenas nesta questão sanitária do mal da vaca louca, mas também nas demais que surgem? Como está à atuação do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) e quais as perspectivas para este novo governo?
Luciano Vacari - Neste caso específico do caso sanitário de Porto Esperidião (mal da vaca louca) temos que deixar claro o seguinte: toda a ação de defesa ela é feita em conjunto com o Ministério da Agricultura e o Indea e isso funcionou perfeitamente. O Indea é um dos órgãos mais importantes do Estado. Os servidores do Indea são profissionais técnicos e compromissados com a defesa agropecuária de Mato Grosso e todo o trabalho que deveria ter sido feito foi feito de maneira exemplar. Mas, além disso, o Indea tem a prerrogativa e o dever de cuidar da defesa agropecuária do Estado, dos postos interestaduais, dos abates, inspeção estadual, enfim, ele cuida da defesa agropecuária. O Indea está aí para evitar que problemas aconteçam. É muito melhor você trabalhar com prevenção. Nós não temos nenhuma preocupação com a capacidade técnica do Indea, nós estamos muito satisfeitos com esta parte. O que nos deixa preocupados é a capacidade operacional e infelizmente nos últimos anos o governo do Estado não deu a atenção que deveria ter dado para o Indea. Nós vimos postos sem condições de trabalho, veículos sem condições de trabalho e isso compromete o serviço. O que esperamos é que este novo governo dê a atenção que o órgão de defesa agropecuária merece e é muita atenção, pois é um dos órgãos mais importantes do estado, como eu disse. A atividade agropecuária é fundamental para Estado. Mato Grosso é um Estado produtor. Somos o maior produtor de soja, maior de gado e precisamos da melhor defesa do Brasil.
Agro Olhar - O que faz a pecuária de Mato Grosso dar certo e ser a maior do Brasil?
Luciano Vacari - É uma série de fatores. Primeiro nós temos aqui clima favorável, relevo favorável. Nós temos uma combinação de gado, ou seja, além do Nelore, temos outras raças entrando, o que é importantíssimo para o negócio, pois faz com que haja uma busca para sempre melhorar a produtividade. Nós temos pastagem. Então, o que fez dar certo foi uma combinação de solo, clima, baquearia e Nelore. Isso mudou a pecuária de Mato Grosso. É lógico que isso foi a 30, 40 anos atrás, mas foi à base da pecuária. Hoje, a gente continua com o mesmo relevo, o mesmo clima, vemos o rebanho mudando e se tornando mais produtivo e a gente vê a tecnologia sendo aplicada. Além disso, o que é fundamental é o trabalho dos produtores. Você dizer que o pecuarista é conservador é uma coisa que nós nunca concordamos, porque se ele fosse conservador ele teria ficado no Paraná, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e não teria vindo há 40, 50 anos para Mato Grosso abrir o Estado, fazer cidades.
Agro Olhar - Quais são hoje os entraves do setor pecuário mato-grossense?
Luciano Vacari - Nós temos alguns. O principal, e é perene essa preocupação nossa, não é um entrave e sim uma preocupação, que é o trabalho com a defesa. Nós vivemos de um negócio que depende diretamente da defesa, pois qualquer problema prejudica o nosso negócio. Além disso, temos problemas operacionais, ou seja, nós não temos estradas, não temos infraestrutura. Por conta do tamanho do Estado se produzir em algumas regiões é o custo de produção mais caro do Brasil, na hora de vender o produto é o boi mais barato do Brasil e isso compromete a renda, que é um gargalo importante. A diversificação da indústria frigorífica do Estado continua sendo um problema. Existem regiões do Estado que sofrem com a falta de opção para o abate para abater os animais, aí o produtor acaba sendo prejudicado pela falta de concorrência. Acho que estes são os principais.
Agro Olhar - E o que faz a arroba do boi de Mato Grosso ser mais barata que a de São Paulo? É a questão de nós termos o maior rebanho ou a logística?
Luciano Vacari - É a questão da dificuldade de logística. Nós estamos a 2 mil quilômetros dos grandes centros consumidores. Estamos a 2 mil quilômetros dos portos por onde exportamos os produtos. E você quando compra uma carga de sal mineral essa carga tem de vir até o Mato Grosso e esse boi tem que descer, ou seja, custa mais caro produzir, pois o sal mineral é o mais caro do Brasil, e você é penalizado porque na hora do abate essa carne tem de andar.
Apesar da recuperação dos preços, onde se teve os preços nominais maiores da história no Estado, a renda da pecuária não acompanhou a evolução do valor pago ao produtor pela arroba, que equivale a 15 quilos.
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Arroba da vaca tem valorização de 41% em relação a 2013, revela Imea
De acordo com o ex-superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, o custo de produção encareceu também. Em entrevista ao Agro Olhar, ele comenta que os preços pagos pelos animais tendem a seguir pressionados e que 2015 será o último ano de sentimento dos reflexos dos abates de fêmeas de 2012 e 2013, anos nos quais o percentual de fêmeas dentro do volume total de animais destinados aos frigoríficos equivalia a mais de 50%.
Confira a seguir entrevista com o ex-superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari:
Agro Olhar - Como foi à pecuária em Mato Grosso e no Brasil em 2014?
Luciano Vacari - 2014 foi um ano bom para a pecuária de Mato Grosso e do Brasil. Nós vivemos um ano bom de preço e isso é indiscutível. Tivemos os preços nominais maiores da história. Então, muita gente comemorou esse negócio. O problema é que as pessoas fazem uma análise errada do negócio. Não é de preço que se faz a atividade. A atividade se faz de renda e apesar de o preço ter se recuperado o custo de produção subiu de maneira inexplicável. É aquela história a pessoa vê que você está recebendo mais pelo produto e ele vai e aumenta o negócio dele, isso aconteceu com o sal mineral, com medicamento, com mão de obra, diesel. Aconteceu com tudo. Não foi só na pecuária. A renda não acompanhou a evolução do preço, mas mesmo assim tivemos um ano de renda positiva. Isso é muito bom, porque a pecuária viveu anos sem renda. Quando não ficava no zero a zero, ficava com renda negativa e nós vimos isso claramente. Todo aquele abate de fêmeas foi feito em 2010 e depois agora em 2012, isso é um sinal claro de que existe um problema. Quando se abate fêmea deste tanto se está usando o patrimônio para fazer dinheiro. Esse eu acho que foi o negócio do ano. Foi um ano bom de preço, mas a renda não acompanhou toda essa condução, apesar de ter sido positivo.
Agro Olhar - E por que se fala tanto da renda?
Luciano Vacari - Eu falo tanto da renda, porque a renda é o desafio do setor. Se você tiver renda você terá como comprar o pacote tecnológico que está aí. A tecnologia à disposição da pecuária ela é hoje muito grande, o problema é que o produtor não tem renda para ir comprar aquele produto que ele quer. Ele acaba com isso comparando um produto com qualidade um pouco inferior, que vai dar um resultado inferior, porque é o que ele tem e ao que ele consegue ter acesso. Então, se você tiver renda você vai acessar a tecnologia e com a tecnologia você faz tudo o que quer que é aumentar o índice de produtividade.
Agro Olhar – E o pesou para em 2014 chegarmos a registrar cerca de R$ 130 a arroba em Mato Grosso do boi gordo?
Luciano Vacari - Em 2014 o que deu toda essa sustentação para este momento de preço foi a história da demanda. Não tem jeito o preço é a oferta e a demanda. O fator primordial de 2014 foi à demanda, principalmente a demanda externa. Nós retomamos vários mercados que havíamos perdido, exportamos 7% a 8% a mais que em 2013, tanto em volume quanto em faturamento. O mercado interno também foi muito bom em 2014 e nós tivemos dois grandes eventos, que foi a Copa do Mundo e a eleição. Isso fez com que tivéssemos uma demanda boa. Deu vazão para a produção. Ao contrário do que muita gente acha "a teve tudo isso porque o rebanho diminuiu", pelo contrário não faltou boi em 2014. O que houve foi uma sensação de que não teve boi, porque o abate de fêmeas diminuiu. O que tivemos foi uma oferta equilibrada, muito parecida com 2013, e uma demanda maior que 2013. Foi isso que fez 2014 ser um ano de preços assim.
Agro Olhar - Como estão as perspectivas para 2015?
Luciano Vacari - O ano de 2015 tem tudo para continuar com esse suporte de preço, ou seja, a demanda dando suporte. É normal aumentar a exportação, salvo se tivermos um problema externo, pois todos os dias entram mais pessoas na faixa de consumo. O consumo interno é uma incógnita, isso dependerá de como a economia brasileira vai se comportar. Mas, a soma das duas, interna e exportação, nós acreditamos que teremos uma demanda maior em relação a 2014. E do lado da oferta aí sim em 2015 nós vamos uma oferta menor do que em 2014. Nós vamos ter dois fatores uma demanda maior e uma oferta menor.
Foto: Reprodução/Internet
Agro Olhar - O setor acha que essa oferta de animais pode ser quantos por cento menor? É uma consequência dos abates maiores de fêmeas nos últimos três anos?
Luciano Vacari - Não dá para você ter uma noção. Essa oferta menor é sim uma consequência do aumento de abates de fêmeas. O ano de 2015 vai ser o último ano que nós vamos sentir os reflexos de abates de fêmeas de 2012 e 2013. Este ano acaba o reflexo do que foi feito lá atrás, ou seja, fecha um ciclo.
Agro Olhar - E como setor está vendo o mercado externo? Nós tivemos consideráveis números de frigoríficos sendo autorizados pela Rússia, o Japão sinaliza retorno de compra, além de novos mercados sendo abertos. Como o setor vê isso?
Luciano Vacari - Isso é muito positivo. Existem duas coisas importantes que a gente observa nisso. Primeiro o fato de retomarmos mercado, isso é muito bom independente do tamanho do mercado, se ele compra muito ou compra pouco, o fato é que retomamos mercado que nós havíamos perdido. Isso consolida cada vez mais o Brasil no patamar entre o primeiro e o segundo exportador do Mundo. E a outra coisa, que é importante, é a demonstração de credibilidade. Quando um país exigente como o Japão declara para o Mundo inteiro que vai comprar carne industrializada do Brasil ele está dando uma demonstração para o Mundo inteiro de que o nosso modelo é confiável, que ele está satisfeito com os requisitos técnicos e isso é positivo.
Agro Olhar - Nós tivemos no início de 2014, mais precisamente em abril, com confirmação em maio, de um caso do mal da vaca louca, que rapidamente foi confirmado que era um acaso atípico. Nós tivemos, com isso, alguns países embargando a carne mato-grossense, mas logo voltando a comprar. A atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi fundamental neste ponto, na questão das analises?
Luciano Vacari - Ele foi exemplar e nós estamos muito satisfeitos, porque há muitos anos nós cobrávamos um posicionamento mais firme do Ministério. Felizmente, o Ministério da Agricultura do Brasil nos últimos dois anos vem dando demonstração de comprometimento com o setor, com o Brasil, com os produtores. E o que aconteceu aqui foi um evento sanitário que poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, pois foi um caso atípico e infelizmente aconteceu em Mato Grosso. Mas, o que foi fundamental foi a atitude do Ministério. Em 40 dias o Ministério havia identificado o foco, tomado todas as medidas de contenção, comunicado a OIE e resolvido o problema, ou seja, tudo o que deveria ter sido feito foi feito e isso deu credibilidade para o Brasil e Mato Grosso. O mundo inteiro viu que o nosso sistema de defesa, que é o mais importante, funcionou, pois se não ninguém tinha identificado e funcionou rapidamente. As ações tomadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foram adequadas e no tempo adequado e os resultados foram os esperados. Foi coletado material, mandado para laboratório, comprovado laboratorialmente e pronto. Encerrou o assunto. É lógico que alguns países possuem o direito de usar isso para embargo comercial. Alguns fizeram e aí o trabalho do Ministério e do ex-ministro Neri Geller foi fundamental, porque foram procurar todos os países que embargaram e explicar um a um o que aconteceu, quais as medidas tomadas, apresentar o modelo de defesa brasileira e todo mundo ficou satisfeito, tanto que todos os países que embargaram nesse evento já retiraram seus embargos.
Agro Olhar - E a atuação do Estado de Mato Grosso? Como o setor pecuário vê, não apenas nesta questão sanitária do mal da vaca louca, mas também nas demais que surgem? Como está à atuação do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) e quais as perspectivas para este novo governo?
Luciano Vacari - Neste caso específico do caso sanitário de Porto Esperidião (mal da vaca louca) temos que deixar claro o seguinte: toda a ação de defesa ela é feita em conjunto com o Ministério da Agricultura e o Indea e isso funcionou perfeitamente. O Indea é um dos órgãos mais importantes do Estado. Os servidores do Indea são profissionais técnicos e compromissados com a defesa agropecuária de Mato Grosso e todo o trabalho que deveria ter sido feito foi feito de maneira exemplar. Mas, além disso, o Indea tem a prerrogativa e o dever de cuidar da defesa agropecuária do Estado, dos postos interestaduais, dos abates, inspeção estadual, enfim, ele cuida da defesa agropecuária. O Indea está aí para evitar que problemas aconteçam. É muito melhor você trabalhar com prevenção. Nós não temos nenhuma preocupação com a capacidade técnica do Indea, nós estamos muito satisfeitos com esta parte. O que nos deixa preocupados é a capacidade operacional e infelizmente nos últimos anos o governo do Estado não deu a atenção que deveria ter dado para o Indea. Nós vimos postos sem condições de trabalho, veículos sem condições de trabalho e isso compromete o serviço. O que esperamos é que este novo governo dê a atenção que o órgão de defesa agropecuária merece e é muita atenção, pois é um dos órgãos mais importantes do estado, como eu disse. A atividade agropecuária é fundamental para Estado. Mato Grosso é um Estado produtor. Somos o maior produtor de soja, maior de gado e precisamos da melhor defesa do Brasil.
Foto: Viviane Petroli/Agro Olhar
Agro Olhar - O que faz a pecuária de Mato Grosso dar certo e ser a maior do Brasil?
Luciano Vacari - É uma série de fatores. Primeiro nós temos aqui clima favorável, relevo favorável. Nós temos uma combinação de gado, ou seja, além do Nelore, temos outras raças entrando, o que é importantíssimo para o negócio, pois faz com que haja uma busca para sempre melhorar a produtividade. Nós temos pastagem. Então, o que fez dar certo foi uma combinação de solo, clima, baquearia e Nelore. Isso mudou a pecuária de Mato Grosso. É lógico que isso foi a 30, 40 anos atrás, mas foi à base da pecuária. Hoje, a gente continua com o mesmo relevo, o mesmo clima, vemos o rebanho mudando e se tornando mais produtivo e a gente vê a tecnologia sendo aplicada. Além disso, o que é fundamental é o trabalho dos produtores. Você dizer que o pecuarista é conservador é uma coisa que nós nunca concordamos, porque se ele fosse conservador ele teria ficado no Paraná, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e não teria vindo há 40, 50 anos para Mato Grosso abrir o Estado, fazer cidades.
Agro Olhar - Quais são hoje os entraves do setor pecuário mato-grossense?
Luciano Vacari - Nós temos alguns. O principal, e é perene essa preocupação nossa, não é um entrave e sim uma preocupação, que é o trabalho com a defesa. Nós vivemos de um negócio que depende diretamente da defesa, pois qualquer problema prejudica o nosso negócio. Além disso, temos problemas operacionais, ou seja, nós não temos estradas, não temos infraestrutura. Por conta do tamanho do Estado se produzir em algumas regiões é o custo de produção mais caro do Brasil, na hora de vender o produto é o boi mais barato do Brasil e isso compromete a renda, que é um gargalo importante. A diversificação da indústria frigorífica do Estado continua sendo um problema. Existem regiões do Estado que sofrem com a falta de opção para o abate para abater os animais, aí o produtor acaba sendo prejudicado pela falta de concorrência. Acho que estes são os principais.
Agro Olhar - E o que faz a arroba do boi de Mato Grosso ser mais barata que a de São Paulo? É a questão de nós termos o maior rebanho ou a logística?
Luciano Vacari - É a questão da dificuldade de logística. Nós estamos a 2 mil quilômetros dos grandes centros consumidores. Estamos a 2 mil quilômetros dos portos por onde exportamos os produtos. E você quando compra uma carga de sal mineral essa carga tem de vir até o Mato Grosso e esse boi tem que descer, ou seja, custa mais caro produzir, pois o sal mineral é o mais caro do Brasil, e você é penalizado porque na hora do abate essa carne tem de andar.
fonte Agro Olhar
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