Para começo de conversa, a resposta é depende. Agora vamos aos pontos.
Quando escrevo análises do mercado do boi, costumo colocar os “preços de balcão” que são os preços iniciais da negociação, sem bonificações nem “choro”, estes que nas indústrias que pagam bonificações são menores, mas se o gado for de qualidade, tiver padrão e for rastreado, o preço final pode ser bem maior do que aquele que parece ter um bom preço de balcão e não bonifica.
Vamos exemplificar.
Atualmente, os preços do boi gordo no Rio Grande do Sul giram entre R$9,80 e R$10,10/kg de carcaça, a prazo, sem considerar bonificações, o famoso preço de balcão.
Considerando uma carcaça de cruzas Angus ou Hereford de 225kg e nível de gordura 3, de um animal com 4 dentes (entre 24 e 31 meses), pelo preço de balcão, no primeiro preço citado (R$9,80) o pecuarista receberá R$2.205,00 por animal. Já no segundo preço (R$10,10) este produtor receberá R$2.272,50 por animal. Uma diferença de R$67,50/animal, que em uma carga de 30 bois, representa R$2.025,00. Que é um valor considerável.
Mas isto considerando apenas preços de balcão, para gado “comum” como é chamado, façamos a mesma comparação com as diferentes bonificações.
Considerando apenas as bonificações dos programas Angus e Hereford. O nosso boi tem 3% de bonificação, pela raça, gordura e peso. O que nos resulta em R$66,15 a mais por cabeça, praticamente zerando a diferença de R$0,30 do preço de balcão. Caso ele tenha mais peso e ou mais gordura, o pagamento a mais aumenta, pode chegar a 10%, dependendo do frigorífico.
Agora apenas com a bonificação pela rastreabilidade, que pode chegar a R$100,00, conforme o acabamento de gordura e o peso de carcaça, o que diminui ou elimina a vantagem da indústria que não paga bonificação. No caso do boi do exemplo, com peso de 225kg e gordura 3, a bonificação fica em R$80,00. Então estamos lucrando R$12,50 a mais por cabeça com este bônus, fazendo a conta por kg, estamos recebendo R$10,24.
Agora vamos fazer as contas com os programas de bonificação Angus e Hereford e rastreabilidade. A bonificação, no caso deste tipo de animal, rastreado, paga 7% a mais (podendo chegar a 10% conforme o frigorífico e o programa de bonificação), considerando o preço do boi negociado como base, ou seja:
R$9,80 + 7% (R$0,69) = R$10,49
Com isto, percebemos que os preços de balcão podem não representar o valor que será recebido após as bonificações, no caso de um animal que atenda às exigências de cada um dos programas de bonificação.
Vale ressaltar que a bonificação pela rastreabilidade não soma integralmente com os programas de raça, mas há um aumento na bonificação sim. Em frigoríficos que não “pagam o brinco” ou não bonificam a rastreabilidade, as bonificações por raça, peso, gordura e idade também podem chegar a 10%.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é o rendimento de carcaça, que pode influenciar no pagamento final, mas este assunto não será discutido neste artigo.
O mesmo raciocínio vale para o restante do Brasil, mas com cálculos de maneira diferente, conforme as bonificações.
Então, novamente respondendo ao título do artigo “Vale a pena vender boi para quem paga menos, mas bonifica?” depende se o animal atende ou não às exigências das bonificações que são: nível de gordura, idade, peso, rastreabilidade e padrão racial.
Consulte as bonificações dos frigoríficos, que podem chegar a 10%, dependendo do gado.
E no seu caso, vale a pena vender para quem paga menos no balcão, mas bonifica? Faça o cálculo para a sua situação e responda essa pergunta, que é fundamental para comercialização dos animais.
Por Renato Bittencourt
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