sábado, 12 de dezembro de 2015

Acidente no Pará amplia disputa por bois no Sul

Depois de muito tempo, o porto gaúcho de Rio Grande voltou a enviar navios com bois vivos 
O naufrágio do navio que levaria cerca de 5 mil bois da Minerva Foods para o Líbano e a posterior interdição parcial do porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), vêm alterando ­ provisoriamente ­ a geografia das exportações de boi vivo no Brasil. A mudança desagradou a frigoríficos do Rio Grande do Sul ao mesmo tempo em que animou os pecuaristas do Estado, que agora contam com uma alternativa para valorizar os animais. Depois de muito tempo, o porto gaúcho de Rio Grande voltou a enviar navios com bois vivos. Há duas semanas, a Minerva, que lidera as exportações de bovinos no país, enviou 5 mil animais à Venezuela, e a expectativa é que mais um carregamento com o mesmo número de bois seja exportado a partir de Rio Grande, de acordo com o Diretor Técnico do porto, Darci Tartari. A decisão da Minerva de adquirir bois no Rio Grande do Sul “mexeu no mercado”, elevando os preços no Estado, o que desagradou a concorrentes como a Marfrig, afirmou uma fonte ao Valor. Líder nos abates no Rio Grande do Sul, a Marfrig retomou há poucos meses as atividades no frigorífico de Alegrete, que passou boa parte de 2015 sem abater bois em razão da menor oferta no Estado. Na avaliação do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), a exportação de bois vivos prejudica os frigoríficos que operam no Estado por agravar a escassez de matéria-­prima e provocar a alta dos preços. Segundo o Diretor do Sindicato, Zilmar Moussalle, a Minerva “bagunça” a cadeia produtiva local porque só compra a “nata” do gado gaúcho e baliza as cotações, que nas últimas duas a três semanas passaram de uma média de R$ 9,50 para R$ 10,80 por quilo de carcaça. “O consumidor vai pagar caro pela picanha, pela chuleta, pelo vazio e pela costela no fim do ano”, disse. De acordo com o dirigente sindical, os frigoríficos instalados no Estado abatem 2 milhões de animais por ano, mas operam com uma ociosidade entre 35% e 40%. Do lado dos pecuaristas, porém, a exportação de bois vivos é vista com bons olhos. Para a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), a operação é “interessante” porque representa uma opção para os produtores, mas não é significativa a ponto de provocar falta de matéria­-prima. Para o Diretor da Farsul e Presidente do Sindicato Rural de Alegrete, Pedro Píffero, os embarques de boi vivo ao exterior ou para outros Estados são benéficos para os criadores pois sem eles o único fator de valorização da carne seria a escassez de oferta de animais. De acordo com Píffero, a Minerva compra animais aos poucos no Estado e puxou os preços de cerca de R$ 4,90 para R$ 5,50 o quilo do animal vivo, valorização de 12%. Ele não concorda que as exportações do frigorífico agravem a ociosidade da indústria local porque elas representam apenas uma pequena parcela do volume de abate anual no Rio Grande do Sul e até dos cerca de 100 mil animais que saem vivos do Estado a cada ano. “O grande volume é enviado pela JBS para terminação em outras regiões”, argumentou Píffero. Para o porto de Rio Grande, a exportação de boi vivo não é “interessante” do ponto de vista de receita portuária, afirmou Tartari, ponderando que a medida é positiva para os pecuaristas e também gera mão de obra nessa região. Segundo a Minerva Foods, os embarques pelo porto não são emergenciais, mas devem continuar “raros” uma vez que o porto “não é viável economicamente para a maior parte dos clientes de gado em pé”.
VALOR ECONÔMICO

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