Varejo quer brecar frota de vans do grupo; consumidor aprova
Deflagrada recentemente, a estratégia da JBS de promover vendas diretas de carne bovina em municípios do interior do país, com o uso de vans, já enfrenta forte resistência de donos de açougues de cidades paranaenses.
Em Jandaia do Sul, norte do Estado, a reação de varejistas fez a prefeitura pedir que o frigorífico suspendesse temporariamente as atividades e tentasse, antes, entrar em municípios vizinhos. Para começar o negócio em Apucarana, cidade de 120 mil habitantes na mesma região, a empresa ingressou na Justiça contra o prefeito João Carlos de Oliveira (PMDB) para iniciar os trabalhos. A prefeitura negou o alvará, mas a JBS obteve uma liminar e pôs as vans nas ruas.
A unidade da JBS mais próxima das duas cidades fica em Maringá, noroeste do Paraná. A decisão de vender carnes em vans refrigeradas foi tomada no ano passado, mas só agora passou a ser assunto corrente em prefeituras do interior. Outros municípios do Paraná, como Floresta e Munhoz de Melo, estão entre os próximos alvos da empresa, que quer levar seus produtos para cidades de pequeno e médio portes, distantes até 150 quilômetros de seus frigoríficos.
O modelo é simples: as vans brancas, cada uma com duas moças contratadas pela empresa, percorrem as ruas do centro e dos bairros, e um sistema de som anuncia sua presença. A carne, resfriada e embalada a vácuo, com peso entre 800 gramas e 3,5 quilos, é vendida na hora, na porta do cliente ou em pontos estratégicos. Ainda que os preços nem sempre compensem, os consumidores em geral aprovam a iniciativa, principalmente pela comodidade e pela garantia de origem da carne proporcionada pelo veículo "oficial".
"É um insulto, porque as moças param na esquina do meu açougue e abordam meus clientes", afirma Wagner Moura, dono da Casa de Carnes Mendonça, de Jandaia do Sul. "Ficamos contra a presença das vans porque é uma concorrência desonesta. Tenho três empregados e, se meu movimento cair, vou ter de demitir", completa.
Moura e outros 11 empresários foram em março até o gabinete do prefeito da cidade, José Rodrigues Borba (PP), pedir para que a licença das vans fosse cancelada. Segundo Moura, a cidade, de 20 mil habitantes, tem 15 açougues. "Eles chegam e só tiram vantagens. A placa do carro não é daqui, eles não abastecem aqui, não geram emprego e não pagam imposto aqui", reclama outro dono de açougue.
Claudemir Bertoli, que trabalha no Departamento de Tributação da prefeitura de Jandaia do Sul, explicou que o prefeito pediu para que a JBS entrasse em outros municípios e só depois voltasse. "Muitas cidades vizinhas ainda não recebem as vans", comenta Bertoli. "Se elas atuarem dentro das normas sanitárias, não há como impedir a venda", completa.
Uma funcionária da prefeitura atestou que, embora os pequenos empresários tenham ficado insatisfeitos com a novidade, a população aprovou. "Eles venderam bem, porque o povo estava gostando da carne", afirmou. E o alvará continua valendo na cidade.
De qualquer forma, a companhia acatou a sugestão do prefeito e foi tirar alvará em outras prefeituras. "Os açougueiros estavam nervosos e achamos melhor esperar alguns dias e voltar a conversar depois da Páscoa", confirmou uma funcionária da JBS.
Em Apucarana, onde encontrou barreiras na entrada da cidade, antes do alvará a empresa entrou com um mandado de segurança e teve liminar concedida pela juíza Ornela Castanho Siqueira, da 2ª Vara Cível. A prefeitura concedeu o alvará na semana passada, e os empresários locais estão preocupados. "Para a cidade não é um bom negócio, não traz nenhum benefício", diz Marli Faria, dona do supermercado Alvorada, que tem duas lojas e o açougue como atrativo. "Eles venderam na Páscoa ao lado do meu supermercado", disse.
Representantes do comércio de Apucarana divulgaram levantamento que mostra que o município conta com 250 estabelecimentos que vendem carne, entre supermercados, mercados e açougues, e alegam que até mil trabalhadores podem perder o emprego caso a concorrência com a venda direta afete o faturamento do varejo.
Luiz Sérgio Hilário, secretário da Fazenda da cidade, disse que a prefeitura pediu que a juíza reconsidere sua decisão. "É preciso uma análise melhor, porque vai afetar o comércio. Haverá impacto social", argumenta. Procurada pelo Valor, a JBS preferiu não conceder entrevista sobre o assunto.
FONTE:Valor Econômico
Autor: Marli Lima, de Curitiba
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