A oferta ajustada de animais para o abate e a firme demanda devem manter os preços da arroba do boi sustentados no mercado brasileiro até o início de 2011, disseram à Reuters analistas do setor.
De agosto para setembro, em um período tradicionalmente mais seco, quando boa parte dos animais estão em confinamento, a Scot Consultoria detectou um aumento de 9% no preço de referência da arroba, que saltou de R$ 84,50 para cerca de R$ 92. "A alta é significativa por causa da transição entre a safra e o confinamento", afirma o analista da Scot, Alex Lopes da Silva, referindo-se ao período de estiagem em que as pastagens perdem produtividade e os animais são colocados em confinamentos.
Outubro é um mês importante para este mercado, com o retorno das chuvas, quando os animais em confinamento começam a ser liberados para o abate. "Mesmo com o ligeiro aumento da oferta de animais, os preços continuam firmes porque ainda é grande a concorrência para comprar animais", acrescenta Silva.
O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Sérgio de Zen, concorda que a tendência de alta deve perdurar até o início de 2011, com um intervalo entre R$ 91 e R$ 92 por arroba, impulsionada pela firme demanda interna.
"Este é um intervalo alto, mas com um mercado interno aquecido a demanda está firme e agora também vemos o aumento de consumo de cortes mais caros", ressalta Zen. Ele lembra que na mesma época do ano passado os preços oscilavam entre R$ 80 e R$ 85 por arroba.
O diretor técnico da AgraFNP, José Vicente Ferraz, observa que a alta da arroba chegou a ser repassada na cadeia até a rede varejista. "O consumidor assimilou parte do aumento, mas há um limite para o repasse", observa. Ele também considera que os valores devem oscilar entre o patamar atual e uma ligeira alta.
"Isso pode mudar em dezembro, e subir mais, porque o consumidor recebe o 13º salário e o consumo fica mais firme", acrescenta.
Oferta restrita
A baixa disponibilidade de animais para abate nesta temporada ainda reflete o descarte de matrizes motivado pelos baixos preços no mercado bovino entre 2005 e 2006. Segundo Ferraz, este cenário mudou em 2007, quando os pecuaristas deram início a um ciclo de retenção de fêmeas na tentativa de garantir a oferta de bezerros para atender a crescente demanda.
"Mas este processo demora de 28 a 36 meses, entre emprenhar a vaca, nascer o bezerro e deixar o animal pronto para o abate", explica o diretor da AgraFNP. Ele acrescentou que houve aumento do número de animais para abate, mas a oferta ainda é menor que a demanda.
O analista da Scot lembra que diante deste cenário muitos frigoríficos trabalham abaixo de seu potencial, e estima que a ociosidade nas unidades pode chegar a 40%. "O grande problema é comprar o gado", disse Silva.
Mercado externo
Apesar do real valorizado, que compromete a competitividade do produto brasileiro, a demanda externa segue firme, o que também contribui para a sustentação dos preços.
Silva, da Scot, destaca o crescimento de 34% nas exportações brasileiras de carnes "in natura", salgada e industrializada em agosto, para 185,9 mil toneladas em equivalente carcaça, ante 138,7 mil toneladas embarcadas em janeiro, segundo dados do governo compilados pela consultoria.
Silva evita fazer a comparação com o mesmo intervalo de 2009, período em que o setor ainda sentia os impactos da crise econômica, com redução de embarques. Ele ressalta que o cenário é favorável. "O crescimento em volume não é maior porque é limitado pelo câmbio e pela restrição de oferta de gado", acrescenta. Ele calcula que o mercado externo representa cerca de 20% a 25% da produção nacional.
FONTE: AgroCIM
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