Num dos votos mais duros da história do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o relator do caso Sadia-Perdigão, Carlos Ragazzo, reprovou a fusão entre as empresas, que criou a Brasil Foods. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vista do conselheiro Ricardo Ruiz e deve ser retomado na próxima quarta-feira. Ainda faltam quatro conselheiros para votar. As ações da BRF caíram 8,14%, incluindo as operações feitas logo após o fim do pregão.
O caso vem sendo analisado há dois anos e um mês. O negócio já passou pelo Ministério da Fazenda e pela procuradoria do Cade, que o aprovaram com sérias restrições. O voto de Ragazzo é de longe o mais rígido. Ele não só rechaçou a venda apenas de marcas de "combate" (as mais populares), como também disse que é insuficiente se desfazer da Sadia - o pior cenário com que a BRF trabalhava até agora.
"A fusão poderia provocar danos severos aos consumidores, gerando aumento de preço e inflação que compromete a renda", disse Ragazzo. "Não estamos falando de artigos de luxo, mas de comida, principalmente para as classes C e D." As concentrações de mercado chegam a mais de 50% em todos os produtos, podendo atingir 90%, segundo o Cade.
O relator tentou desconstruir os argumentos da BRF. Ele descartou que a fusão gere eficiências suficientes, rebateu que a operação é necessária para criar um gigante exportador e questionou o argumento de que o negócio foi a salvação da Sadia, que estava afundada em dívidas com as perdas provocadas pelo uso de instrumentos financeiros.
Após sete horas de leitura do voto do relator, com mais de 500 páginas, o julgamento foi adiado por uma polêmica intervenção do conselheiro Ruiz. Ele chegou a sinalizar um voto a favor da reprovação, argumentando que o acordo sugerido pela BRF era uma "coordenação de cartel", mas pediu vista do processo por uma semana.
De acordo com o vice-presidente de assuntos corporativos da Brasil Foods, Wilson Mello Neto, esse tempo será aproveitado para conversar com conselheiros que ainda não votaram. No último mês, a empresa vinha intensificando essa articulação. "Continuamos a trabalhar numa solução negociada. Estamos otimistas de que ainda faltam quatro votos, para que não haja solução radical, como a reprovação da fusão", disse o executivo da BRF.
Para BRF, a fusão é pró-competitiva e não trará prejuízos
"A BRF discorda do posicionamento do relator. A companhia considera o pedido de vistas positivo, por entender que o caso é complexo e agora, com o pedido de vistas, os demais quatro conselheiros terão mais tempo para avaliar a questão", anunciou a companhia.
"A aprovação da fusão é pró-competitiva e não trará prejuízo aos milhões de consumidores atendidos por suas marcas, que se beneficiarão das eficiências geradas pelo negócio, em especial com relação à efetiva queda de preços", afirma a BRF em comunicado.
Para exemplificar, a empresa diz que, no ano de 2010, os preços da BRF tiveram aumento médio de 3,6%, índice bem abaixo da inflação.
FONTE: O Estado de São Paulo e Brasil Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.
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