quinta-feira, 9 de junho de 2011

Desafios na exportação de gado em pé


O presidente da Abeg-Associação Brasileira dos Exportadores de Gado, Daniel Freire, comenta os desafios da exportação de gado em pé, um mercado que em 2010 movimentou US$ 659 milhões.



A exportação brasileira de carne fresca ou gado vivo Antes de quaisquer considerações a respeito da exportação de gado vivo é preciso entender como funciona a atividade. Trata-se de um nicho de mercado que depende de uma série de fatores, entre os quais, a proximidade geográfica, competitividade de preços, qualidade dos animais e exigências dos países importadores.

Na realidade, o que se exporta é carne fresca, ou seja, uma iguaria, não trata-se de exportação de gado vivo para abate e sim para abate e comercialização imediatos, porquanto, não faz nenhum sentido a importação de animais vivos para resfriar e congelar a carne, uma vez que, ficaria muito mais barato importar a carne resfriada ou congelada.

A logística é sofisticada e cara, envolve o cumprimento da Instrução Normativa n° 13, que normatizou e organizou a atividade, que exige, entre outras coisas a criação dos estabelecimentos de Pré-Embarque - EPE, onde o gado deve permanecer no mínimo 24 horas para exame dos Fiscais Veterinários Federais, cuja localização deve estar a uma distancia máxima de 4 horas do porto.

Hoje os exportadores utilizam o que há de mais moderno em logística, a logística denominada pelos americanos de: - "just in time". A preparação dos animais é cuidadosa, o transporte e confinamento nas EPEs envolve caminhões com carrocerias que obedeçam as normas legais, currais preparados e pessoal treinado de forma a cumprir as exigências internacionais de "boas práticas animais".

Os fretes, por sua vez, não são baratos, porquanto, os navios utilizados são construídos para carga viva e possuem sistema de aeração especial, currais, sistemas de distribuição de agua e alimentos, além de depósitos especiais de alimentos e pessoal treinado. Acresce, ainda, o preço do seguro, os animais exportados são segurados e a mortalidade hoje é zero ou bem próximo de zero.

Com o dólar em queda livre e a alta do preço do boi, o Brasil perdeu a competitividade na exportação de gado vivo, o Oriente Médio está sendo suprido hoje por países da África Oriental (Sudão, Somália e Etiópia), com boi até 40% mais barato que o nosso e pela França com seu gado preto e branco, com preço até 30% mais barato que o brasileiro. O maior cliente do Brasil em matéria de gado vivo é a Venezuela, que chegou a ser destino de 96% das nossas exportações de animais vivos para abate.

Até 31 de dezembro de 2010, a Venezuela praticava dois câmbios para a conversão do dólar - 2,60 bolívares por dólar para a importação de alimentos e 4,30 para os demais produtos, todavia, nessa data o cambio foi unificado para 4,30, sem qualquer alteração no preço da carne fresca venezuelana. O impacto nas importações venezuelanas foi imediato, o importador perdeu poder de compra e as exportações brasileiras reduziram-se dramaticamente, após o cumprimento dos contratos anteriormente celebrados.

A exportação de gado vivo sempre foi uma atividade de risco, por se tratar de um nicho de mercado, um negócio de oportunidade, por ser uma iguaria e não um produto de primeira necessidade. Para que voltemos a exportar, pelo menos no volume de 2010, dependemos da estabilização do dólar, redução do frete, preço competitivo do boi brasileiro, e reajuste do preço da carne na Venezuela, ou seja, de fatores que independem da vontade do exportador de gado vivo.

Apesar de todas as dificuldades, os exportadores continuam trabalhando para a abertura de novos mercados com o objetivo de criar novas novas vias de comercialização e dar mais regularidade às exportações a longo prazo.

Daniel Freire é Presidente Nacional da Associação Brasileira dos Exportadores de Gado

FONTE: DBO

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