segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Subiu, mas não engatou

Lygia Pimentel é médica veterinária e especialista em commodities
faxagricola@gmail.com
Reprodução permitida desde que citada a fonte
“Beleza”, muitos pensaram nas últimas semanas, “agora vai”.

E foi. O boi gordo subiu de R$97,00/@ à vista para os atuais R$99,00/@ sob as mesmas condições em São Paulo. Aparentemente, a concentração de animais confinados realmente foi maior em setembro. É claro que ainda temos 15 dias para outubro terminar e tirarmos a prova final, mas até o momento, houve leve retração.

Acredito que a menor concentração de animais confinados em outubro tenha sido a causa desta alta recente. Juntamente, pode-se dizer que tivemos os efeitos do melhor volume exportado em setembro, o que favorece o escoamento da carne e a margem dos frigoríficos.

As outras variáveis não sofreram alteração, como cenário macroeconômico complicado e consumo interno bom, porém esticado (tem dificuldades de crescer ainda mais além do patamar atual, pelo menos no curto-prazo). O governo também não deseja ver a inflação do ano passado voltar aos mesmos níveis. Seria altamente prejudicial à economia. Portanto, apesar da redução recente da taxa de juros, a tentativa é manter a inflação no centro da meta e isso não favorece novas explosões como observamos no ano passado. É claro que se a crise não for tão intensa quanto o Banco Central prevê, poderemos observar novo “boom” de consumo. Não descarto essa possibilidade, mas não é tão provável que ela ocorra nos próximos 2 meses.

De toda forma, a diferença de hoje em relação a 2010 é que tínhamos consumo em ascensão, oferta extremamente curta e exportações em níveis melhores. O cenário macroeconômico também não era tão preocupante. Obviamente os problemas que observamos hoje já existiam, mas ainda não estavam tão evidentes, ou seja, não traziam tanta aversão a posições de risco. Hoje, infelizmente, a combinação não é a mesma.

Por isso permaneço cautelosa em relação ao preço da arroba. Não estou muito crente em uma alta forte no curto-prazo, mas o problema é que ninguém está e não me sinto confortável quando todos enxergam igual. Acho que falta força para que chegue aos R$110,00 à vista em São Paulo, por exemplo. De toda forma, ainda podemos nos surpreender caso a oferta volte a encolher, o que não é impossível.

Ainda assim, alguns indicadores me fazem pensar que poderemos observar novas recuperações leves nas próximas semanas.
Em primeiro lugar, o diferencial de base com o Mato Grosso do Sul está apertado. Observe o gráfico 1.

Gráfico 1.
Evolução do diferencial de base com o MS e preços da arroba em Barretos – SP.

Fonte: Broadcast/Cepea

Mas por que raios utilizo essas bandas que estão no gráfico? Porque elas nos indicam o quão fora da média e do padrão histórico a relação medida está. Hoje, o diferencial de base MS, que tem média histórica de 5,5% de desvalorização em relação a São Paulo está em 2%. Portanto, apertado. E diferencial apertado pra mim é sinal altista. Por outro lado, esse aperto do diferencial já ocorre há algum tempo e pode ser “abafado” por uma oferta melhor em Goiás e Minas Gerais, praças que também ajudam a abastecer São Paulo em tempos de oferta escassa. Para checar, observemos a mesma relação nessas outras praças.

Gráfico 2.
Evolução do diferencial de base em Goiás e Minas Gerais.

Fonte: Broadcast/Cepea

Observe o que ocorreu com o diferencial de base em GO e MG nos últimos anos. Eles aumentaram. Em Goiás, o diferencial bateu sua mínima recentemente. Em Minas Gerais, está esticado, mas já foi pior. Portanto, tem um bom número bois saindo dessas praças a ponto de fazer com que a arroba valha menos em relação a São Paulo.

A mesma relação se comporta de maneira diferente em praças diferentes. Reflexo da evolução dos confinamentos? Parece que sim. De toda forma, no fim das contas isso nos mostra que mesmo que faltem animais no Mato Grosso do Sul, tem outras praças que ajudam São Paulo a se abastecer em um período de menor oferta. Bom para os sul-matogrossenses, ruim para os goianos.

Por ora, não vejo motivos para grandes explosões, mas como temos comentado, há possibilidade de altas ligeiras mediante encurtamento das escalas e, especialmente, se esse encurtamento vier acompanhado de redução do diferencial de base com praças vizinhas a São Paulo.

É o que veremos nas próximas semanas.

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