Ontem participei de um encontro de especialistas na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande/MS. O objetivo do evento era analisar os principais problemas da pecuária atualmente, todos levantados e elencados por pesquisadores da Embrapa.
Eles separaram todos os presentes (~40 pessoas) em 4 grupos de 10, sendo cada grupo focado em temas principais. No grupo em que fiquei estavam representantes do Cepea, Assocon, Famasul, Tortuga, Ministério, pesquisadores da Embrapa e um jornalista da Globo Rural. Com certeza um bom grupo.
Veja abaixo os tópicos com a discussão sobre alguns deles.
Melhoramento animal
– Baixa difusão de práticas de melhoramento genético
– Tímida adoção da prática de escrituração zootécnica
– Falta de análises econômicas consistentes dos principais sistemas de produção
– Falta de genótipos resistentes a doenças
– Falta de alternativa genética para maciez da carne
Ambiente
– Baixo aproveitamento de dejetos animais
– Baixo índice de tratamento e reutilização de resíduos e sub-produtos de frigoríficos e curtumes
– Baixa disponibilização de água no sistema produtivo
– Pouco sombreamento nos pastos
– Falta de alternativas sustentáveis para substituição de insumos agrícolas nas pastagens
Gestão da propriedade e socioeconomia
– Baixa capacitação de mão-de-obra de campo
– Baixa capacitação em gestão do agronegócio
– Falta de ferramentas acessíveis e amigáveis de gerenciamento do agronegócio
– Resistência em implementar mecanismos de rastreabilidade: permanece a visão de que a rastreabilidade é apenas um custo adicional ao pecuarista, mas o ganho gerencial com a melhora da escrituração zootécnica e com uso da rastreabilidade deve ser cada vez maior nos próximos anos. A pressão ambiental é outro fator visto como positivo para incentivar a rastreabilidade. Conclusões: necessidade de maior transparência da sazonalidade do prêmio ao longo do ano e conscientização do pecuarista quanto à importância da rastreabilidade.
Mercado
– Crescimento do mercado de outras fontes de proteína (animal e vegetal), em geral mais baratas: a elasticidade no consumo de carnes caiu nos últimos anos, mas a carne bovina permanece com maior elasticidade. O aumento no consumo de carne bovina só deve ocorrer por substituição, uma vez que o consumo geral de carnes no Brasil já é alto (nível de país desenvolvido). Entre as estratégias para aumento no consumo está o desenvolvimento de food service, marketing para a carne e estreitar a relação entre pecuarista-indústria.
– Dificuldade de ofertar produtos de maior valor agregado ao mercado externo: discussão sobre falta de padronização da carcaça e falta de regularidade na oferta de animais cruzados ou com sangue taurino. A solução passa por parcerias entre pecuarista e indústria, fomento e fortalecimento de marca da carne.
– Falta de habilidade de desenvolver novos mercados externos: necessidade de abertura de mercados como Japão, Coréia do Sul, EUA, Indonésia e China, mas investimento também para manter os mercados atuais. Foco nas relações políticas.
– Fraca articulação entre os atores da cadeia produtiva: precisa haver uma mudança nas relações entre todos os elos da cadeia produtiva, principalmente através da melhora no diágolo. O fortalecimento de parcerias entre pecuarista-indústria também é fundamental, mas para isso precisa haver maior receptividade do lado do produtor.
– Excesso de protecionismo contra a carne brasileira no exterior: necessidade de ações preventivas para evitar desgaste comercial, mas também é preciso um enrigecimento das negociações e maior força do governo e associações (por exemplo, Abiec) nas negociações. Para o médio/longo-prazo, inclusão de um adido agrícola nas principais embaixadas brasileiras, com representantes de cada setor, nos mesmos moldes feitos pela embaixada americana.
No total foram 20 problemas discutidos, enquanto os outros grupos discutiam outros temas. Posteriormente a Embrapa vai montar um documento que, além de ser disponibilizado ao público, deve nortear as pesquisas das unidades nos próximos anos.
Não é sempre que se observa uma troca de informações entre o lado acadêmico e o produtivo/comercial de maneira tão transparente. Sem dúvida uma iniciativa louvável da Embrapa e cujo resultado será positivo para toda a cadeia produtiva da carne bovina.
FONTE: COMMODITIES AGRICOLAS/ http://leonardoalencar.wordpress.com/
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