Às vésperas de completar 20 anos do colapso da União Soviética, Moscou deve concluir nesta quinta-feira, 10, as negociações para a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no sistema multilateral do comércio. A Rússia era a última grande economia fora da entidade. Mas o processo de negociações, que durou 18 anos, foi alvo de uma série de polêmicas em torno de parceiros que pediam melhor acesso ao mercado russo.
A adesão da Rússia ainda tem uma importância política grande. Trata-se do último dos Brics a fazer parte do sistema multilateral do comércio e termina, em teoria, com duas décadas de transição entre a economia soviética planificada para uma economia de mercado, seguindo as regras internacionais. Segundo o Banco Mundial, a adesão da Rússia à OMC poderia representar um aumento de 3,3% no PIB local no médio prazo. No longo prazo, os ganhos chegariam a 11% para a economia de US$ 1,9 trilhão.
Para os demais países, a adesão da Rússia ao sistema representa o principal fato no cenário comercial mundial nos últimos dez anos. Com a Rodada Doha suspensa de forma indefinida e forças protecionistas ganhando terreno por causa da crise, a adesão de Moscou às regras do comércio é vista como avanço mais concreto na liberalização do comércio desde a entrada da China na OMC, em 2001.
Com uma classe alta cada vez mais ávida pelo consumo e um setor de energia que atrai a atenção mundial, o mercado russo pode representar a abertura de uma nova fronteira para multinacionais ocidentais.
As condições de transição foram cuidadosamente negociadas pelos russos e as barreiras cairão apenas de forma progressiva. Mas a esperança de investidores é de que o monopólio em várias áreas na Rússia finalmente seja rompido. Oficialmente, a Rússia só entraria na OMC em dezembro, quando ministros se reúnem em Genebra para assinar a adesão, poucos dias depois de Moscou comemorar os 20 anos do fim do império soviético. Mas a conclusão dos trabalhos, nesta quinta, já selaria o processo.
Brasil. Nos últimos anos, porém, foi a divisão do mercado russo entre os principais exportadores que gerou polêmica. O setor privado brasileiro se queixou que Moscou havia fixado as contas com base nos anos em que eram os americanos e europeus quem mais vendiam. Assim, o Brasil ficava com uma quantidade bem menor do que as exportações mais recentes mostravam.
Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), acredita que, após as negociações, o País pelo menos conseguiu equilibrar o acordo. "No início do processo, o acordo privilegiava europeus e americanos. Batemos na tecla de que não poderíamos ser discriminados nem ter mercado reduzido para atender aos interesses europeus e americanos. Acabou funcionando", disse.
No setor de carne suína, os russos fixaram uma cota de 400 mil toneladas, que será disputada entre os exportadores. Em carne bovina, serão 540 mil toneladas.
Camargo Neto, porém, alerta que o grande obstáculo serão as barreiras sanitárias. Para ele, essa atitude do Kremlin não vai mudar, mesmo na OMC. Mas, em declarações ao Estado, o negociador-chefe de Moscou, Maxim Medvedkov, estima que o acordo representará "ganhos reais" para as exportações brasileiras. "Politicamente já temos uma excelente relação com o Brasil. Agora, teremos uma nova base para a relação comercial", destacou.
O Brasil ainda comemora a entrada da Rússia na OMC por outro aspecto: ao fazer parte do sistema, o país poderá ser acionado nos tribunais da entidade cada vez que levantar uma barreira ilegal contra os produtos nacionais. Nos últimos anos, o Brasil sofreu várias restrições.
O Estado de São Paulo
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