quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Um ano inteiro de espera

Foi o que vivenciamos em 2011. Foi ou não foi?
Começando pelo início da safra, em dezembro de 2010. Após a fabulosa escalada de preços ocorrida em outubro e novembro daquele mesmo ano, a safra demorou a aparecer com força e os preços permaneceram praticamente estáveis até abril de 2011. É possível perceber que até o período citado, a linha de preços esteve sempre muito próxima da linha vermelha pontilhada, que representa a média de preços para aquela safra. Observe o gráfico.
Gráfico 1.
Evolução do indicador Cepea/ESALQ à vista (R$/@) e preço médio nas safras e entressafras.
A partir de abril é que a coisa enfeiou. Os preços começaram uma trajetória descendente que partiu dos R$104,00/@ à vista em São Paulo e continuou até atingir os R$96,00/@ nas mesmas condições.
Façamos um parêntesis para prestar atenção em outra situação que se desenvolvia naquele momento: os preparativos para o confinamento. Depois da entressafra de 2010, muita gente apostava em uma arroba de R$115,00 novamente, ou até mais alta do que isso. É fácil ficar eufórico e otimista ao ver uma alta tão intensa como a ocorrida no ano passado.
Os preços da safra foram bons, considerando custos de produção de uma empresa com média aplicação de tecnologia. Naquele momento, considerando que a entressafra costuma registrar preços mais altos do que a safra e considerando também o rally vivido em 2010, este parecia um ano promissor.
O problema é que quando muita gente enxerga o mesmo cenário, as coisas se complicam.
Com os preços do boi em baixa (e com os custos em alta!) a partir de abril, o receio de entrar em uma atividade de risco mais elevado cresceu. Primeiro, otimismo. Depois, preocupação.
Gráfico 2.
Variação dos preços do boi gordo, boi magro e milho entre dezembro de 2010 e maio de 2011.
E para piorar, naquele momento, o mercado futuro também não ajudava o pecuarista a enxergar um horizonte favorável.
Gráfico 3.
Mercado físico na safra e apostas do mercado futuro para outubro no período (R$/@).
Esse gráfico nos mostra que enquanto o físico estava caindo, o futuro permaneceu praticamente estável, prejudicando quem buscava proteção na bolsa na tentativa de garantir preços semelhantes aos de 2010. As apostas futuras no primeiro semestre de 2011 não chegaram nem perto do que o pecuarista esperava. Por sinal, 2011 foi o ano mais pessimista da história quando se fala em expectativa de valorização para o boi no segundo semestre.
Para resumir, o que essa situação gerou foi um excesso de oferta no primeiro turno do confinamento (julho a setembro) e falta de oferta no segundo turno (outubro a dezembro). Resultado: queda de preços forte em plena entressafra, ou mais especificamente em setembro. E esse boi só foi se recuperar no final de outubro, já que o pessoal achou melhor repensar o segundo turno e isso gerou uma oferta menor.
Mas para falarmos de mercado, temos que abordar a questão da demanda. Não existe preço em alta se o produto for escasso, mas em contrapartida ninguém o quiser.
Em 2011, o frango se mostrou bastante competitivo em boa parte do ano, e quando o boi tá caro e o frango tá barato, a dona de casa prefere comprar nosso amigo penoso em detrimento da demanda por carne bovina.
Gráfico 4.
Evolução da diferença entre o frango e o dianteiro bovino.
Além disso, em 2011 a carne pesou na cesta básica como nunca antes e isso limitou o apetite do brasileiro. Não digo que tenha atrapalhado. Aliás, já repeti diversas vezes aqui que o consumo em 2011 não foi ruim, ele apenas encontrou um teto, uma limitação para ir além, já que os gastos com carne dentro da cesta não cederam. Na verdade, continuaram subindo.
Gráfico 5.
Evolução da participação do custo com a carne considerando-se o total gasto com a cesta básica.
E voltando ao título do texto desta semana, passamos o ano todo esperando uma alta que praticamente não veio. Quer dizer, veio, mas de maneira rápida, intensa e que durou pouco – nem um mês, praticamente.
E agora não adianta reclamar, é assim que o mercado funciona. Se levarmos em consideração dados históricos, podemos dizer que a entressafra já acabou. Como o Rogério Goulart citou na Carta Pecuária desta semana, é mais difícil observarmos picos de preços em dezembro e janeiro.
Já tem chovido há algum tempo, apesar de algumas regiões ainda apresentarem pastagens em condições nada ideais para que o boi engorde.
No balanço do ano, não podemos dizer que foi ruim, mas, talvez, frustrante. Agora é pensar nas estratégias para a venda em 2012.
FONTE: www.agroblog.com.br / autor Lygia Pimentel

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