segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cabanhas deixam gado de elite de lado e Argola pode não compensar gastos


Mercado de elite requer alto investimento
 
 
 
  
 

Cabanhas deixam gado de elite de lado

O milionário mercado de bovinos de elite do Estado parece estar perdendo o viço. Pelo menos para duas cabanhas que, juntas, somam quase cem anos de seleção genética: a Pitangueira, de Itaqui, e a Pedra Só, de Pedro Osório. Pedro Monteiro Lopes, proprietário da Pitangueira, liquidou o seu rebanho depois de construir um patrimônio como dono de cabanha que por dez anos liderou o ranking dos criadores de Braford, para vender exclusivamente rústicos. Na temporada dos leilões de outono, Lopes vendeu o seu plantel de animais de elite, batendo recordes da raça no país. Agora, o objetivo do pecuarista é atender única e exclusivamente ao mercado do Centro-Oeste, a partir da fazenda em Santo Antônio do Leverger, Sul de Mato Grosso. A propriedade, que tradicionalmente era dedicada à criação de Nelore para corte, incorporou ao rebanho a venda de touros rústicos Braford. A meta agora é aumentar o número de novilhas registradas, atualmente num número de 600.

A demanda superaquecida por touros fez brilhar os olhos de Lopes, que, como ele brinca, nasceu em 1946, em Uruguaiana, já numa mangueira. No ano passado, por exemplo, ele vendeu 70 touros a R$ 7.400,00, na média. Se tivesse mais exemplares, não teria sobrado animal na pista, tamanha é a procura. "Os pecuaristas do Centro-Oeste voltaram a comprar animais de qualidade", nota o empresário gaúcho.

A Pedra Só, que deixou para trás um legado genético de 52 anos, no outono se desfez de 412 produtos Angus. Juliano Severo de Leon, o proprietário, fez as contas e percebeu que selecionar reprodutores já não era tão bom negócio quanto as outras atividades da propriedade: a agricultura, pecuária de corte e criação de cavalos Crioulos. Na avaliação de Leon, hoje é bastante acessível inseminar as vacas com touros provados. "Atualmente, uma dose de sêmen custa R$ 10,50, o que, às vezes, é mais vantajoso do que imobilizar capital na compra de touros caros." Na pecuária, o foco agora é na terminação de gado superprecoce, entre 12 e 18 meses, e na cria e recria.

Leon está refletindo se é vantajoso ainda manter cria e recria na propriedade - atividade que é exigente em tamanho de campo. Para se ter ideia, a área para cria e recria, com 800 animais, exige 50% da dedicada à pecuária na fazenda. Já a terminação, com 2 mil exemplares, ocupa a outra metade do campo disponível para a pecuária. Enquanto o custo reprodutivo dos terneiros filhos de touros é de R$ 53,30, os gerados pela IATF saem por R$ 32,50.

Argola pode não compensar gastos 

O gado de argola sempre foi objeto de glamour por parte dos cabanheiros gaúchos. No entanto, por vezes, não oferece uma compensação financeira sobre o investimento, no geral, bastante elevado. "A cabanha sempre foi a tentativa de construir uma vitrine da produção comercial. Contudo, a maioria dos pecuaristas não consegue agregar valor, o que ocorre via prêmios", pondera o coordenador do Nespro/Ufrgs, Júlio Barcellos.

O crescimento da inseminação a tempo fixo, segundo ele, vem ocorrendo de forma intensa no Brasil e, com isso, a possibilidade de aquisição de sêmen de animais excelentes ficou mais acessível econômica e operacionalmente pelos pecuaristas. "Isto também contribui para que a pirâmide da elite genética da pecuária de corte seja um pouco achatada." A partir dessa conjuntura, alguns cabanheiros, quer seja pela falta de sucessores, e mão de obra especializada e o retorno econômico questionável, preferem sair de cena ou diminuir o gado de elite, avalia Barcellos.

Fonte: Correio do Povo

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