Felipe Prestes
Há doze anos, o produtor Arnaldo Ecker começou a cultivar soja em Tapes, onde se plantava tradicionalmente apenas arroz. No início, ele plantou 40 hectares do grão. Hoje, planta mais de mil hectares de soja e vem sendo seguido pelos demais agricultores da região. “Fui pioneiro”, conta. Alternar o plantio do arroz ou as pastagens com o cultivo de soja tem sido tendência, não só às margens da Lagoa dos Patos, mas em toda a vasta Metade Sul do Estado.
O engenheiro agrônomo e gestor técnico da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio), Dirceu Gassen, afirma que a soja tem crescido de forma contínua na Metade Sul nos últimos cinco anos. Em 2012, houve crescimento de cerca de 100 mil hectares nas áreas de lavoura de arroz da região e entre 200 e 250 mil hectares nas áreas de pastagem, projeta Gassen. O total de área plantada de soja na região chegou a aproximadamente 900 mil hectares. De acordo com o gestor técnico da Cooplantio, a soja tem crescido bastante próximo a cidades como Santa Vitória do Palmar e Arroio Grande, que ficam próximas à Lagoa Mirim; nas cercanias de Bagé e também entre os municípios de São Gabriel e Santa Margarida.
Dirceu Gassen evita comparar o rendimento da soja com o do arroz – este último tradicionalmente produzido na Metade Sul e sempre alvo de queixas dos produtores por baixa rentabilidade. “A viabilidade depende do manejo que é feito. A rentabilidade é proporcional ao conhecimento aplicado, seja na soja ou no arroz. E é fundamental não colocar todos os ovos numa cesta só. Esta é a chave para a rentabilidade na agricultura”, afirma. O produtor Arnaldo Ecker concorda. “Eu trabalho com soja, sementes de arroz e pecuária. Eu sempre digo que tenho uma empresa rural. O agricultor não pode depender de apenas uma atividade”.
Além disto, um manejo bem feito faz com que a soja seja benéfica para o arroz e para as pastagens, se for feito um rodízio. “A soja melhor as pastagens pois fixa nitrogênio no solo. Para o arroz, a soja diminui o arroz vermelho, que é erva daninha”, explica Dirceu Gassen. A lavoura de Arnaldo Ecker é prova disto. “Eu comecei a plantar soja porque estava tendo problemas com o arroz, estava produzindo pouco. A soja aumentou a produtividade do meu arroz”, conta o produtor, que conseguiu aumentar sua produção de seis para oito toneladas/ano de arroz, desde que iniciou o plantio de soja.
“A gente está tendo um controle muito melhor do arroz vermelho”, afirma a produtora Nathalia Ávila Anhaia, que planta cerca de 1000 hectares de soja nos municípios de Cacequi e Dom Pedrito, onde já praticava rizicultura e pecuária. “Estamos começando. A gente havia feito tentativas sem sucesso e teremos nossa primeira colheita neste ano”, conta.
Mesmo sendo incipiente, a produção do grão já tem se mostrado exitosa. “Terá impacto financeiro importante. Os preços da soja são muito bons e vamos ganhar dinheiro em terras que estariam ou em pousio, ou sendo pisadas por animais, deteriorando o solo. No ano que vem, vamos plantar soja em 100% das nossas terras que estariam em pousio”, relata. Segundo Anhaia, a soja também contribui financeiramente porque gera renda mais rapidamente que o arroz, que precisa secar. Assim, a compra de insumos para a safra seguinte se dá sem que seja necessário contrair empréstimos.
Genética e plantio direto garantem rentabilidade mesmo com seca
Dirceu Gassen explica que houve uma tentativa de plantar soja nos anos 1970 na Metade Sul, especialmente nas cercanias de Alegrete, mas que não foi bem-sucedida devido às secas. Agora, muitos produtores que plantaram soja no passado na Metade Sul estão voltando a fazê-lo e que também há agricultores do norte do Estado expandindo seu plantio para o Sul.
Nos últimos anos, o cultivo tem dado certo, mesmo com as secas, devido a melhoramentos genéticos trazidos da Argentina e ao plantio direto (técnica de plantio por meio de sulcos, que não revolve palha e demais restos vegetais de cima do solo). “Preços da soja hoje resultam em rentabilidade mesmo em anos de seca. Até poucos anos, o custo da soja era de 25 sacos por hectare. Hoje, está entre 16 e 17 sacos por hectare. Com os transgênicos, genética argentina, a soja se estabeleceu bem. O plantio direto também foi muito importante. Não revolver o solo, deixar palha se formar por cima. Isto causa um efeito esponja no solo, absorvendo água”, aponta Gassen.
Segundo o engenheiro agrônomo, há duas diferentes técnicas para o plantio da soja na Metade Sul, já que se trata de uma grande área, com diferentes condições topográficas. “Nas coxilhas é preciso plantio direto, com uma boa palhada”, afirma. Já em áreas sistematizadas (denominação para áreas muito planas), a chave para o plantio de soja está na drenagem. “É preciso retirar água quando chove muito”, explica.
É o caso das terras de Arnaldo Ecker em Tapes, em áreas de várzea, que não têm problema de seca, mas sim quando chove demais. “Às vezes molha demais um pedaço. É preciso drenar bem”, afirma. O produtor conta que outros produtores que começaram depois que ele a plantar soja na região têm tido problemas. “É preciso um trabalho muito bem feito. É demorado. Eu comecei anos antes”.
Nas áreas de várzea em Cacequi, Nathalia Ávila Anhaia também demorou a conseguir uma boa drenagem. “Precisamos ficar mais competentes em drenagem para conseguir plantar soja e ainda precisamos melhorar”, afirma. Nas terras em coxilhas que possui em Dom Pedrito, localidade muito atingida por secas, a irrigação por meio de pivots tem sido essencial para viabilizar o plantio do grão, acrescenta a produtora.
Um plantio feito com conhecimento técnico também garante que a soja não traga danos ao meio-ambiente, uma preocupação já que há muito tempo se fala na desertificação de parte da Metade Sul, mais especificamente no sudoeste do Estado. “Qualquer prática agrícola mal feita pode trazer prejuízos ao meio-ambiente. Mas um manejo bem feito pode, inclusive, melhorar a atividade biológica local”, afirma Dirceu Gassen.
fonte: Sul 21
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