quarta-feira, 24 de abril de 2013

Valter José Pötter: pecuaristas precisam de mais união e participação em entidades de classe


No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.
Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.
Confira abaixo, a entrevista com Valter José Pötter, um dos ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul na categoria Produtor de Rústicos – Hereford e Braford.
IMG_3517
Valter José Pötter mora em Dom Pedrito – RS. É formado em Veterinária e sempre trabalhou com agropecuária. Foi Presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito e da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Fedearroz). É diretor-presidente da Estância Guatambu.
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?
A missão da pecuária de corte do Sul é produzir qualidade, é ter um sobrepreço pela qualidade. Nós não temos condições de competir com o centro-oeste pela produtividade, com escala de produção. O clima, o solo, enfim, toda essa condição de produção que nós temos não nos dá condições de atingir a produção que se dá por hectare nas regiões centrais. Então, nós temos que explorar ao máximo o desempenho animal e a qualidade da carne, pelo fato do nosso clima dar condições de produzir raças europeias de qualidade. Precisamos de uma pecuária rentável, atingir uma rentabilidade igual a do centro-oeste, mas ter um plus de preço pela qualidade, esse é o desafio.
Outro desafio na região, que estamos sentindo com o passar dos anos, é o avanço da agricultura, que tem sido bem forte em cima de áreas de pecuária. A soja está valendo bastante, o milho e o arroz estão com bom preço. Isso reforça o fato de que temos que resistir a tudo isso baseados na qualidade.
Há um terceiro problema, que é muito importante e eu vejo no dia-a-dia: o invasor de nossos campos. Uma invasão violenta chamada capim annoni. Quando eu me formei em veterinária em 1971, as sementes dessa planta estavam em uma exposição, em um saquinho em Santa Maria. Na época, diziam que aquilo era uma solução para a agropecuária. Hoje, ela ocupa 4 milhões de hectares no RS sem ninguém ter plantado. Tudo isso através dos pneus dos carros, do vento, do esterco dos animais. Não há trabalhos decisivos para combater o capim annoni. A Embrapa e as universidades estão tentando desenvolver algo. O annoni é muito grosseiro, diminui a vida útil da vaca, a perca de peso pode ser de até 200 gramas no quilo do animal. Em 2008, a BBC de Londres visitou minha fazenda para divulgar esse problema do capim annoni no Sul do Brasil. Eles queriam fazer uma matéria sobre isso e me procuraram. Esse é um problema muito sério na pecuária de corte.
Para finalizar, acredito que os grandes desafios para a pecuária de corte são: a questão da agricultura, a soja, o capim annoni e a produtividade.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Os irmãos Felipe Dias e Guilherme Dias são exemplos de pecuária do futuro aqui no Sul. Eu admiro muito o trabalho do Restaurante Vermelho Grill, de Porto Alegre – RS.
BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?
Nós temos genética para produzir essa carne de qualidade. O desafio é ter um sistema de produção mais massificado, mais intensivo. Precisamos ter mais escala, mais tecnologia, para termos uma produção maior, para chegar no mercado. Nós temos a raça Hereford, Angus, raças sintéticas. Nós temos essa genética no RS, o que falta é melhor padrão de tecnologia, de terminação. É algo natural, a carne que produzimos aqui é igual a carne da Argentina, do Uruguai. O Miguel Cavalcanti provou essa carne de Dom Pedrito e gostou muito. Ainda temos poucos produtores abatendo animais bem jovens e com boa terminação.
BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?
Sem dúvida alguma, nos últimos anos, é o reconhecimento por parte do mercado e consequentemente dos frigoríficos, da produção dos animais de qualidade, a bonificação diferenciada.
Precisamos de inovação na questão da diferença de preço para animais jovens de raça britânica, pois isso está estimulando o produtor a melhorar. Há 5 ou 6 anos, boi era boi. Agora, boi é Hereford, Angus… Há uma diferença de preço entre as raças – isso é um fator muito importante para mim, pois estimula a produção, o cuidado com a genética. Isso desenvolve um efeito dominó, estimula a produzir mais animais de qualidade.
Eu acho que a gestão ainda falta muito para o pecuarista. Precisamos inovar em gestão, ter uma gestão mais moderna, mais focada em custo-benefício das tecnologias, ter mais controle dos custos de produção. Ainda está faltando bastante para o meu ver. Precisamos ter uma visão empresarial do negócio.
BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?
Acho que é praticamente a mesma resposta da primeira pergunta. Temos que aumentar a nossa produtividade e aumentar nossa qualidade, pelo fato de que não temos condição de competir com o centro-oeste. Está faltando mais técnica na produção.
BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?
No geral, eu tenho um negócio muito diversificado. Em 2012 eu investi na produção de vinho, no uso da tecnologia para a pecuária. Eu já venho utilizando a integração lavoura-pecuária há muito tempo e tenho várias práticas nesse sentido, mas uma delas foi criada aqui dentro e eu estou bem satisfeito, os resultados já começam a aparecer: o plantio direto de soja em cima de àreas de pastagens cultivadas, que tem banco de semente na terra, semente forrageira.
Eu fiz um plantio direto em novembro, prevendo que a partir de março, quando a soja começa a amarelar a folha, eu já teria algo bom por baixo. É algo excelente, fiz uma inovação rápida. Encurtei o ciclo e agora vou ter uma excelente pastagem através da soja.
BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Eu acredito que o que mais me trouxe resultado foi o uso da tecnologia na pecuária de corte. Tenho pastagem irrigada com pivô central há mais de 10 anos. Temos também inseminação e reposição de novilha aos 14 meses, há mais de 20 anos. Temos tecnologia muito avançada na Estância Guatambu.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?
Aumentar a utilização dos pivôs na pastagem cultivada, pois eu estou vendo muito resultado na irrigação de pastagem.
BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?
Uma coisa que ainda falta muito para o pecuarista: uma maior participação dele nas entidades de classe, para poder influir mais em termo de políticas macroeconômicas e governamentais, questões tributárias. Eu sei muito bem como é isso, pois o setor agrícola é mais organizado nessa parte.
A Associação dos Arrozeiros, por exemplo. O dia que quiserem, eles conseguem marcar uma reunião em Brasília, para resolver problemas.
Eu acho a pecuária de corte muito desunida, com pouca participação. Está faltando mais união e participação do pecuarista. Temos muito o que fazer, veja a concentração de frigoríficos, a questão tributária. Sozinhos nós não divulgamos nada. A solução passa pela entidade de classe, para termos mais força, para nos ouvirem. Sozinho é impossível. Essa é a minha mensagem final para os pecuaristas: mais união e mais participação para resolver os problemas.
BeefPoint: Qual sua mensagem para a industria frigorífica e varejo?
Eles estão do outro lado do balcão, são eles que vendem a carne.
Mensagem para a indústria: eles devem seguir firmes na remuneração de animais de qualidade, devem seguir em frente, avançando mais ainda. Você pode ver o exemplo dos Estados Unidos, uma vaca gorda vale metade do preço de um novilho do mesmo peso. Nós temos que chegar nesse ideal, pois isso vai estimular o produtor a produzir qualidade.
Mensagem para o varejo: diminuam a margem de ganho, transfiram mais para outros setores. Eles sempre têm uma margem de ganho de 50 e até 80% , acho isso muito exagerado.
fonte: BEEFPOINT

Nenhum comentário: