O Uruguai quer explorar a questão do bem-estar animal visando o melhor posicionamento nos principais mercados e melhorar seu preço de venda. Isso se somará à sua vantagem de ser produzida a pasto e livre de hormônios.
O Instituto Nacional de Carnes (INAC) já projetou um protocolo de certificação sobre bem-estar animal que implica certificar estabelecimentos, empresas de transporte de gado e plantas de abate, de modo que, unindo esses três componentes, possa garantir aos consumidores que a carne a ser exportada provém de animais aos quais se respeitam o bem-estar desde que nasceram até que foram abatidos.
Após auditorias rígidas a cada elo da cadeia para comprovar que se cumprem os parâmetros do protocolo, a carne obtida levará um logotipo na caixa que registrará a certificação oficial do INAC do novo atributo, amplamente exigido não somente pela União Europeia (UE), mas também, por outros mercados de alto valor.
De acordo com o diretor da Direção de Controle de Qualidade do INAC, Ricardo Robaina, o produtor agropecuário que queira entrar nessa certificação voluntária deverá cumprir com certa normativa e receberá auditorias anteriores à certificação de seu estabelecimento. A nível das empresas de transporte de gado, Robaina garantiu que estão trabalhando muito bem e muito preocupados pelo respeito ao bem-estar animal. Nesse caso, poderá ser certificado o caminhão ou, inclusive, a empresa.
O terceiro elo da cadeia é a indústria que quer vender carne certificada pelo bem-estar animal e deseja participar do programa. Nesse segmento é onde se veem os maiores avanços com relação ao bem-estar animal. Existem frigoríficos que manifestaram interesse em participar, assim como algumas empresas dedicadas ao transporte de gado.
A pecuária uruguaia vem trabalhando em bem-estar animal há vários anos, inclusive, adiantando-se ao tema quando esse estava começando a ser trabalhado na UE.
O diretor de Controle de Qualidade da Carne do INAC disse que o Uruguai está muito bem posicionado e sua indústria frigorifica fez investimentos importantíssimos nos currais e outras instalações, até chegar ao uso de insensibilização. Citou, também, que houve melhoras a nível de campo e a nível de transporte de gado.
A mesma visão tem a presidente do Centro Colaborador em Bem-Estar Animal da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para as Américas e especialista da Faculdade de Veterinária, Stella Huertas. De acordo com ela, o Uruguai é referência na região pelos grandes avanços no bem-estar animal. É visto como um modelo e como um exemplo a seguir.
Ela disse que as boas práticas pecuárias e o bem-estar animal são um tema de melhora contínua. “Se baixamos os braços, se negligenciamos ou voltamos às atitudes que tínhamos antes, novamente caímos em práticas ruins que geram aumento de machucados e hematomas vistos nos animais a serem abatidos”.
A primeira auditoria de qualidade da carne que incluiu o manejo dos animais nas plantas frigorificas foi em 2002-2003, no marco de um trabalho entre o Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária, o INAC e a Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, e, posteriormente, repetiu-se em 2008-09. Essas auditorias levaram a perdas em dólares por cada um dos problemas detectados.
A maioria dos problemas detectados tinha a ver com o bem-estar animal, porque a maior perda era produzida por machucados, que é um problema de bem-estar animal. A segunda perda era por cortes escuros e acidez, relacionados ao estresse do animal.
Na primeira auditoria, com preços de 2008, as perdas por animal eram de US$ 40,80. Na segunda, baixou para US$ 29,51 por animal. Os machucados diminuíram dramaticamente e os cortes escuros também. Esse ano, foi colocada em marcha uma terceira auditoria e todos os pesquisadores acham que houve mais avanços e que as perdas diminuirão mais.
Huertas insistiu que é fundamental seguir capacitando as equipes, no campo, nos frigoríficos e no transporte. Porém, ao contrário do que muitos pensam, aplicá-las não implica em um custo adicional. Em gado de corte e em sistemas pecuários extensivos ou semiextensivos, como são os usados no Uruguai, o bem-estar animal não implica em maiores custos, implica em uma mudança de mentalidade e, obviamente, uma boa manutenção das instalações.
Para ela, o principal desafio é continuar com essa política e chegar a diminuir mais os hematomas a nível de carcaça que se veem nos abates, para, assim, baixar as perdas. Nesse sentido, considerou que o protocolo criado pelo INAC ajudará muito a dar esse passo para poder melhorar a qualidade da carne exportada.
A reportagem é do El País Digital, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint
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