(*) por José Luiz Alves Neto
Essa semana fiquei feliz. Cheguei em casa ao fim do dia, liguei a televisão no canal 40, o Globonews, e passava o programa Conta Corrente destacando o crescimento das exportações brasileiras de carne bovina. A expansão, que em 2013 havia sido de 19% em volume e 14% em receita, alcançou 11,7% em volume janeiro de 2014, uma notícia que nós já havíamos repercutido. Fiquei contente com aquilo. É bem interessante um canal como o Globonews destacar o agronegócio, nesse caso específico a pecuária de corte. Mas aí, no auge da minha empolgação, o George Vidor, jornalista especializado em economia e comentarista do programa, expôs a sua opinião sobre os motivos que levaram ao crescimento das nossas vendas externas.
Segundo Vidor, a carne bovina brasileira, como é de maioria oriunda de animal Nelore, é uma carne com viés de saúde, principalmente porque a gordura facilmente se separa da carne. Isso é um verdadeiro absurdo. É um comentário que vai contra tudo o que é falado, discutido e trabalhado entre os pecuaristas de corte brasileiros.
Não concordo em nenhum momento que o aumento da exportação de carne bovina é por conta disso. Pelo contrário. O aumento da exportação de carne bovina ocorreu porque o mundo precisa de carne e o Brasil é um grande produtor. Bem ou mal, é verdade, o país trabalhou para abrir esses mercados. A gente produz de forma eficiente, então a nossa carne é barata para o mundo. Por isso cresceram as exportações.
Essa é a explicação. Não tem nada a ver com a carne de Nelore ser separada da gordura. Inclusive, nós escutamos todo santo dia especialistas dizerem que qualidade de carne está relacionada ao marmoreio (gordura entremeada no músculo) e acabamento de carcaça, que, por sua vez, depende de um plano nutricional tecnicamente organizado.
O engenheiro agrônomo Roberto Barcellos, diretor da Beef&Veal, empresa de consultoria de projetos voltados à produção de carnes especiais, em depoimento à Rural Centro, também compartilhou a opinião de que nossas exportações estão em expansão por causa do preço. “É uma das mercadorias mais baratas do mundo”, reforçou Barcellos.
O Barcellos entende que esse fato de a nossa carne ser produzida majoritariamente a pasto e ter menos gordura que a norte-americana, uruguaia ou argentina, nossos principais concorrentes, pode ser utilizado como estratégia mais para frente, quando brigaremos por mercados que pagam mais pela qualidade. “Agregar valor na carne produzida a pasto, que é a característica nossa, seria algo a ser estruturado para o futuro”, projetou.
Na opinião do agrônomo, tanto quanto na minha, essa questão da carne saudável ainda não é explorada hoje e, por isso, não tem relação nenhuma com o aumento de exportações. O Roberto Barcellos lembrou ainda que a pouca cobertura de gordura hoje traz problemas para a indústria frigorífica. Altera o ph da carne, deixa a proteína escura, etc.
Enfim, hoje a carne bovina brasileira ainda não é tida como uma carne de qualidade tanto quanto a carne uruguaia, argentina ou americana. Acredito que o Vidor deu um escorregão ao tecer esse comentário dele. A notícia boa fica por conta do espaço que o setor agropecuário ganha a cada dia mais na grande mídia. Por que será?
Exportação de carne bovina no Brasil
No gráfico abaixo, comparando 2013 com 2012, percebe-se que o crescimento em relação a receita - primeiro gráfico - ficou em 14% (US$ 6,65 bilhões contra US$ 5,84 bilhões). Em volume - segundo gráfico -, o plus chega a 19% (1,5 milhão de toneladas contra 1,25 milhão de toneladas).
No gráfico abaixo, comparando 2013 com 2012, percebe-se que o crescimento em relação a receita - primeiro gráfico - ficou em 14% (US$ 6,65 bilhões contra US$ 5,84 bilhões). Em volume - segundo gráfico -, o plus chega a 19% (1,5 milhão de toneladas contra 1,25 milhão de toneladas).
Gráfico: Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
fonte: Rural Centro
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