domingo, 23 de novembro de 2014

Após primavera de luxo, venda forte




Um dos balizadores desta temporada de remates, a valorização do terneiro contribuiu para a redução de 42% na venda de ventres no Estado. Conforme o balanço do Sindiler, foram arrematadas 4.118 fêmeas contra 7.106 da primavera anterior. “O pessoal está guardando as fêmeas para produzir terneiros, pela valorização”, afirma o presidente do sindicato, Jarbas Knorr. “Já tem terneiro sendo vendido a R$ 6”, acrescenta. Com o cenário, a média das fêmeas, claro, subiu de R$ 2.652,02 para R$ 2.959,42, uma alta de 11,16%.

Para o consultor Fernando Velloso, da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha, a menor oferta é natural considerando a atual conjuntura. “Boi e terneiro tiveram uma boa valorização nestes últimos 12 meses, o que é um incentivo à cria”, argumenta. O veterinário ressalta que, nos últimos dias, voltou a haver uma venda significativa de terneiros. “Há uma demanda forte por animais de reposição para fazer engorda. O terneiro vinha bastante estável, com valor próximo do boi, e agora subiu bastante”, observa. Falar em terneiro a R$ 6,00 kg/vv, segundo ele, é uma estimativa “muito razoável” já que preço do boi pode chegar a R$ 5. Conforme o Sindiler, a temporada teve 8.861 terneiros vendidos, com peso médio de 214kg e preço de R$ 5,15 kg/vv. O faturamento total foi de R$ 9.763.765,20 (média de R$ 1.101,88 por exemplar).

Com relação aos touros, a temporada cumpriu o que se esperava dela. A valorização chegou a 10% — acima da inflação acumulada —, com média
de R$ 8.492,56, frente a R$ 7.713,98 em 2013. Já a quantidade apresentou queda de 3,5%. Ao todo foram comercializados 5.036 exemplares, com faturamento de R$ 42.768.536,99. Knorr ressalta dois fatores. “Em primeiro lugar, a nossa genética, a cada ano melhor. E, em segundo lugar, este ano vieram muitos compradores de fora nos leilões e vendeu-se muito”, observa. De acordo com Velloso, o aumento nos preços não chegou a ser tão pesado para o pecuarista, pois foi compatível com o mercado. “Não foi incomum nesta temporada reprodutores que alcançaram R$ 15 mil a R$
20 mil, o que vem a ser duas a três vezes o valor médio, e mostra o real interesse do pecuarista em melhoramento genético”, diz. “Normalmente
ocorre menor variação em relação à média.” O leiloeiro Marcelo Silva destaca que houve um grande volume de vendas para outros estados que já são tradicionais clientes dos remates gaúchos, como o Paraná, São Paulo, o Mato Grosso e Goiás. “Houve uma redução na oferta, o que já era esperado, mas os preços médios foram muito bons em relação ao ano passado”, constatou. 

Com a média mais alta entre os touros, a Braford manteve a liderança de valorização. O preço médio subiu 12,27% em relação à primavera passada, de R$ 8.451,93 para R$ 9.529,24, com 1.528 machos vendidos. O desempenho da raça sintética foi comemorado pelo presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), Fernando Lopa. “O Braford há quatro anos vem sendo a raça que tem a média maior na venda de touros. Em alguns anos, até a maior média do Brasil, quando compara-se só animais rústicos”, observa. De acordo com ele, o principal motivo é a facilidade de adaptação do animal a qualquer tipo de produção. Em número de animais, contudo, o Braford ficou atrás do líder Angus, que vendeu 1.709 touros. Mas, segundo Lopa, esse indicativa não espelha a totalidade da temporada já que houve um grande volume de vendas nas cabanhas. “Às vezes o produtor compra cinco touros no remate e mais dez na fazenda”, exemplifica. 

Em meio à redução na oferta de fêmeas, o pecuarista Luiz Francisco Biacchi encerrou a temporada satisfeito com as compras. De uma só vez, levou para a Cabanha São Francisco, em Caçapava do Sul, 69 novilhas Braford da Cabanha do Sossego, de Uruguaiana. Com o investimento de R$ 200 mil, objetiva aumentar a representatividade da raça na propriedade. “Estamos sentindo que o Braford está tendo muita procura de reprodutores”, observa. “Por isso procuramos ampliar a nossa oferta de touros para os próximos anos”, acrescenta ele, que também trabalha com Angus, Brangus e Charolês. Entre os motivos que o levaram a apostar ainda mais na pecuária está a recente abertura da China para a carne brasileira. “Vislumbramos uma tendência muito boa de preços.”


Fonte: Correio do Povo

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