Rede de 38 mil cooperativas com forte atuação junto à Comissão Europeia se encarrega de manter protecionismo que barra produtos estrangeiros
José Rocher
Eles produzem grãos e carnes com garantia de renda e estão blindados contra os ataques aos subsídios pagos na União Europeia (UE). Essa força política dos agropecuaristas europeus não se deve apenas à importância econômica e social do setor na geração de renda, na produção de alimentos e no desenvolvimento das regiões agrícolas. Uma rede de 38 mil cooperativas, que reúne 8 milhões dos 13 milhões de produtores dos 27 países do bloco, dá sustentação às bandeiras do agronegócio diante da Comissão Europeia. Num momento de ajustes na Política Agrícola Comum, essa malha de empresas reforça seu lobby protecionista, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo, em viagem de 2,8 mil quilômetros pelo continente.
A base da representação das cooperativas fica em Bruxelas, na Bélgica, a apenas um quilômetro da Comissão Europeia. Criadas na década de 50, a Copa (que representa os produtores) e a Cogeca (das cooperativas) completam meio século de trabalho conjunto em 2011 com uma estrutura enxuta – 50 pessoas –, porém, mais atuante do que nunca, afirma Paulo Gouveia, um dos diretores do sistema. “Temos mais de 100 reuniões por ano com a Comissão Europeia. São de duas a quatro discussões anuais sobre cada setor”, revela. Três de cada dez agentes da Copa Cogeca são tradutores, especialistas na missão de conciliar interesses de diferentes países em seis idiomas.
Sem estatísticas que separem o que é produzido no âmbito das cooperativas e o que parte de produtores independentes, a Copa Cogeca representa todo o setor. Não só os produtores, que exploram áreas de 10 hectares em média em Portugal até fazendas de 18 mil hectares na Hungria, mas também cooperativas de peso, como a holandesa FrieslandCampina, que fatura o equivalente a R$ 21 bilhões ao ano e tenta ampliar sua renda na industrialização de lácteos. O valor é quatro vezes maior que o faturamento da maior cooperativa de produção rural do Brasil, a Coamo, com sede em Campo Mourão (PR).
Os interesses dos produtores europeus estão em primeiro lugar quando o assunto é a abertura do mercado para países como o Brasil, relata o executivo Eduardo Ferreira, da Missão do Brasil na UE. Torna-se praticamente impossível para um país rebater, com sua representação diplomática, o poder de articulação política do setor junto ao comando do bloco, conta o adido agrícola brasileiro em Bruxelas Odilson Luiz Ribeiro e Silva. Esses relatos explicam a posição irredutível dos governos europeus em relação às barreiras sanitárias e ambientais no controle da entrada de produtos como a carne bovina brasileira, mesmo num momento de retomada das discussões sobre a relação comercial entre a UE e o Mercosul.
Reviravolta
Até a década de 90, a palavra cooperativa tinha conotação negativa na UE, segundo a própria Copa Cogeca. Os produtores temiam perder suas fazendas ao se tornarem cooperados. “A Polônia foi única exceção onde eles não enfrentaram perda de posse da terra”, afirma Gouveia. Os governos freavam a criação de novas cooperativas para evitar que o drama das dissoluções se repetisse. “Hoje a Copa Cogeca conta com boa reputação e um dos lobbies mais influentes na Comissão Europeia”, assume o executivo.
Atualmente, o número de cooperativas na UE fala por si. É maior inclusive na comparação com o do Brasil. A diferença é de 38 mil para 6,7 mil, maior do que na comparação da área agrícola. Os países que integram o bloco cultivam 59 milhões de hectares na safra 2010/11, enquanto o Brasil planta 49 milhões, conforme as estatísticas oficiais. As cooperativas brasileiras representam 9 milhões de cooperados, 1 milhão a mais que as europeias, mas somente no Paraná representam mais da metade da produção rural.
FONTE: Gazeta do Povo
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